Então a aldeia de ovelhinhas entrou em pânico. Definitivamente essa situação era intolerável. De três em três dias, uma ovelhinha era morta por um tigre que atacava à noite, protegido pelas sombras e pelo silêncio.
Houve uma reunião no centro da aldeia à qual todas as ovelhinhas foram convocadas.
Uma sarada dirigiu os trabalhos, ou tentava, pois os apupos e as discussões pareciam intermináveis (vocês sabem como as ovelhinhas são nervosas, não sabem?).
Foi então, que em meio aos acalorados debates, uma ovelhinha jovem, de lãs alvas e sedosas pediu a palavra e se pronunciou...
“...béééé...minhas irmãs. Esse tigre assassino não pode continuar impune. Devemos nos livrar dele imediatamente. Fiquei sabendo que na colina, próxima da aldeia, mora um jovem leão, forte e poderoso. O que acham, minhas irmãs, de contratá-lo para dar cabo desse tigre?”
Foi uma explosão de aplausos. Muito bem! Muito bem! É isso mesmo, vamos contratar o leão e acabar com esse tigre sanguinário! Viva!
No meio da multidão, porém, uma ovelha, velhinha, ergueu sua patinha.
“Meninas, meninas!” Disse com a paciência de quem conhece a impulsividade da juventude: “Esse tigre está velho e decadente. Tanto que já não caça atacando ovelhinhas indefesas como nós. Basta nos organizarmos. Nada de pedir uma ajuda dos céus. Vamos fazer turnos de guarda e sem conseguir encontrar uma só ovelhinha distraída durante a noite, acabará morrendo de fome ou irá embora. Estaremos livres e salvas por nós mesmas”.
“Buuuuu...foi a reação da maioria. Cala a boca velha caduca, replicaram as massas jovens da aldeia das ovelhas.”
E, dessa forma, calou-se a ovelha que os anos fizeram sábia, e a jovem e enérgica idéia foi adotada.
O leão alegremente aceitou o convite. Veio para a aldeia, e à noite, numa emboscada, matou sem maiores problemas o velho e fraco tigre.
Na manhã seguinte as ovelhas entraram em euforia. Cataram, dançaram funk, soltaram fogos. Nomearam o leão "o cara" e por um dia inteiro comemoraram a morte do tigre.
Encerradas as festividades foram pagar a quantia combinada ao leão.
Esse sorriu num rugido assustador e diante das ovelhinhas de olhos arregalados exclamou: “Suas tolas. Gostei do lugar e na verdade estou me mudando para essa aldeia. Quanto a sua dívida... não se preocupem, cobrarei em prestações, tipo, uma ovelha por dia.”
Em sua cabana a velha e sábia ovelha sofria enroscada em suas lanzinhas, pois só ela havia percebido que, para se livrar de um problema menor, suas imprudentes companheiras haviam buscado a solução criando um problema muito, muito maior.
Na história dos povos muitas vezes se repete a síndrome das ovelhinhas.
Em 1898, para se livrar do velho e decadente império espanhol, sua última colônia das Américas, Cuba, pediu auxílio para os Estados Unidos, que como pagamento exigiu a edição da Emenda Platt na primeira Constituição do país, e dessa maneira pode estender suas garras e defender seus interesses no coração da jovem nação.
Já, o Brasil, para obter o reconhecimento de sua independência política em relação ao extinto Império português, assumiu compromissos e dívidas com o jovem império britânico.
Talvez fosse interessante ao povo da Líbia ouvir a ovelha velha antes de aceitar a “ajuda” da OTAN para derrubar seu ditador.
Quem sabe já seja tempo de abandonar soluções em pacotes formatados por mãos estrangeiras e entender que a solução dos problemas está inserida na cultura de cada povo. No talento e na criatividade de seus jovens e na justiça social.
Esse entendimento é que faz, realmente, o investimento na educação para a liberdade, uma questão de soberania nacional.
Prof. Péricles
Um comentário:
Lembro de tu me contar essa história das ovelhinhas quando eu ainda era pequena ! ahahaha que saudade ! Agora com o conhecimento que tenho entendo o real sentido da história ! Adorei relembrar isso. Beijos Te amo pai.
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