Testemunhas ouvidas na tarde desta quarta-feira na 20ª Vara Cível de São Paulo afirmaram ter presenciado o coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra ordenar a tortura do jornalista Luiz Eduardo Merlino. Além disso, uma testemunha disse ter visto Ustra dar a ordem, por telefone, que resultou na morte de Merlino.(entre amputar e "deixar morrer")
O jornalista, então militante do Partido Operário Comunista (POC), morreu em julho de 1971 depois de ser submetido a dois dias de tortura nos porões do Departamento de Operações e Informações (DOI Codi), em São Paulo.
Segundo ex-companheiros de prisão, ele morreu em um hospital em decorrência de gangrena em uma das pernas, causada pela tortura. Os torturadores teriam proibido os médicos de amputarem a perna gangrenada, o que teria levado à morte de Merlino. Já os militares alegam que ele foi atropelado quando tentou fugir durante uma excursão de reconhecimento de aparelhos na avenida Anchieta.
Testemunhas que atestaram ordens de tortura dadas pelo coronel Ustra foram ouvidas na tarde desta quarta-feira, em São Paulo Ustra, na época major do Exército, comandou o DOI Codi entre 1970 e 1974, período em que cerca de 55 pessoas foram assassinadas e outras 700 torturadas no local. A família de Merlino move uma ação indenizatória por danos morais contra o coronel. Ustra, por meio do advogado Paulo Esteves, negou ter participado ou ordenado a tortura de Merlino.
A testemunha Eleonora Oliveira, ex-companheira de militância do jornalista, disse que particiou de uma sessão de tortura comandada por Ustra ao lado de Merlino. “Eu estava na cadeira do dragão e o Merlino no pau-de-arara. O Ustra entrou e saiu umas duas ou três vezes. Era ele que ordenava tudo”, disse ela.
Já Otacílio Cechini, que estava preso no mesmo local, disse que viu Ustra atender ao telefonema do agente que acompanhava Merlino no hospital. “Ouvi quando Ustra disse ao telefone que tomaria a decisão final falando: 'Deixa comigo'”, afirmou.
No total, foram ouvidas seis testemunhas de acusação. Entre elas o ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi, hoje assessor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Instituto Cidadania.
Vanuchi disse ter visto Merlino sendo carregado no DOI Codi. “Vi um rapaz sendo levado em uma escrivaninha até o corredor. Ele ficou a menos de um metro da grade da minha cela. Perguntei o nome, ele disse Merlino e ainda repetiu porque eu não tinha entendido direito. Eu era estudante de medicina e percebi que a perna dele estava já escurecida, com sinal de gangrena”, disse o ex-ministro.
Vannuchi disse também ter sido torturado pessoalmente por Ustra quando ele e outros 40 presos políticos fizeram uma greve de fome, em 1972, pedindo tratamento digno. “Na ocasião foram levados dois presos, eu e Paulo de Tarso Venceslau (um dos sequestradores do embaixador norte-americano Charles Elbrick) e o Ustra comandou aquela sessão com objetivo não de falarmos sobre nossos companheiros mas de nos obrigar a parar a greve de fome”, afirmou.
Um grupo de aproximadamente 100 pessoas fez um protesto na porta do Fórum João Mendes, onde ocorreu a audiência. A manifestação se transformou em um ato pela criação da Comissão da Verdade e pela punição aos torturadores.
Embora o Supremo Tribunal Federal tenha descartado rever a Lei da Anistia, Vannuchi disse ainda acreditar que a Corte reveja a decisão. “O STF terá que apreciar mais uma vez a questão em vista de uma decisão posterior da Corte Interamericana de Direitos Humanos (que condenou a não punição aos torturadores no Brasil). É comum que a Justiça reveja ou reinterprete a jurisprudência”, disse ele.
Os próximos passos do processo serão as oitivas das testemunhas de defesa de Ustra. Entre elas o senador José Sarney e o ex-ministro da Justiça Jarbas Passarinho, além de três generais da reserva.
Por Ricardo Galhardo
quinta-feira, 28 de julho de 2011
A TORTURA NO BANCO DOS RÉUS - COMEÇOU O JULGAMENTO
Nesta quarta (27), no Fórum da Praça João Mendes, em São Paulo, a juíza Claudia de Lima Menge ouviu testemunhas de acusação arroladas pelos advogados da família do jornalista Luiz Eduardo Merlino, torturado e morto em 1971, aos 23 anos. Ustra não compareceu à audiência.
Entre as testemunhas de defesa arroladas por Ustra estavam o atual presidente do Senado, José Sarney, o ex-ministro Jarbas Passarinho, um coronel e três generais da reserva do Exército brasileiro.
Essa segunda ação se refere a danos morais e foi movida pela irmã de Merlino, Regina Merlino Dias de Almeida, e pela ex-companheira do jornalista, Angela Mendes de Almeida. “É uma luta que estamos travando há muito tempo. Chegar até aqui é uma vitória”, disse Angela.
A imprensa não cobriu a sessão, ninguém, além de advogados e depoentes, foi autorizado a ouvir as declarações, nem a família Merlino. A pequena sala da audiência declarou-me depois uma fonte, mal comportava quatro pessoas.
Longe da sala de audiência, uma multidão tomou a praça e fez um ato contra a ditadura e suas mortes. Maria Amélia de Almeida Teles, uma militante que participou da guerrilha do Araguaia, durante o período da ditadura militar, estava ao lado dos manifestantes e do marido, César, com o filho, Edson.
Com a Lei de Anistia, de 1979, Amelinha, como é mais conhecida, conta que a pergunta de todos os que perderam parentes com a repressão ficou no ar: “Onde estão nossos desaparecidos?”
Deixei a praça e subi até o nono andar, voltei ao prédio e ao corredor da espera. Leane Almeida, testemunha, estava saindo. Calculei rapidamente a idade, 40 anos depois da prisão, aos 21, ela está com 61 anos. Não aparenta: “Eu fui presa no mesmo dia em que o Merlino, o Major comandou pessoalmente as torturas que eu sofri, ele dava ordens aos gritos, todo mundo escutava as sessões de tortura. Ele esteve presente em toda a Operação Bandeirantes, coordenando equipes e acompanhando interrogatórios”.
Pergunto sobre as torturas, ela conta que foi a primeira militante da ALN a ser presa e torturada. O coronel queria os nomes dos membros de seu grupo. Quando o Merlino chegou, Liane foi liberada da tortura e encaminhada para uma cela, onde ficou presa um ano e meio.
Ela diz que Merlino morreu porque não resistiu aos quatro dias de tortura ininterrupta. Viu, do primeiro andar onde estava presa, a retirada de Merlino do Doi-Codi: “O corpo dele estava inerte, acho que ainda não tinha morrido. O Ustra dava as ordens e a sua equipe jogou o corpo no porta-malas de um carro, que partiu”.
Liane para e se emociona, explica: “A memória é do corpo, não passa”.
Continuou: “Uma certeza tenho, no estado em que Merlino saiu da prisão ele não teria condições de correr para nenhum lugar, só para o paraíso”.
Liane se prepara para ir embora, finaliza: “Agora dependemos da Comissão Verdade e Justiça, como na Argentina e em outros países, ela tem mesmo que pactuar com a verdade e fazer justiça. Estamos escrevendo aqui, hoje, a história do Brasil, se haverá justiça ou não, dependerá de outros”.
A partir daqui, um funcionário do Fórum e um policial nos expulsam do andar, pedem que o grupo siga para o elevador. Daí um jovem que se declara "estudante" faz perguntas provocativas para um dos depoentes, o homem, já idoso e claramente sofrido, responde em voz grossa, alta, diz que a ditadura acabou e que não aceitará provocações.
Todos, no elevador, após a porta fechar e o silêncio voltar, afirmam que esses que se dizem "estudantes" são policiais disfarçados, querendo causar tumulto. Torço para que eles só tumultuem e não interfiram na briga pela punição dos torturadores, luta antiga e de todos, mas principalmente dos herdeiros da ditadura, futuros líderes desse país.
Por Christiane Marcondes
Entre as testemunhas de defesa arroladas por Ustra estavam o atual presidente do Senado, José Sarney, o ex-ministro Jarbas Passarinho, um coronel e três generais da reserva do Exército brasileiro.
Essa segunda ação se refere a danos morais e foi movida pela irmã de Merlino, Regina Merlino Dias de Almeida, e pela ex-companheira do jornalista, Angela Mendes de Almeida. “É uma luta que estamos travando há muito tempo. Chegar até aqui é uma vitória”, disse Angela.
A imprensa não cobriu a sessão, ninguém, além de advogados e depoentes, foi autorizado a ouvir as declarações, nem a família Merlino. A pequena sala da audiência declarou-me depois uma fonte, mal comportava quatro pessoas.
Longe da sala de audiência, uma multidão tomou a praça e fez um ato contra a ditadura e suas mortes. Maria Amélia de Almeida Teles, uma militante que participou da guerrilha do Araguaia, durante o período da ditadura militar, estava ao lado dos manifestantes e do marido, César, com o filho, Edson.
Com a Lei de Anistia, de 1979, Amelinha, como é mais conhecida, conta que a pergunta de todos os que perderam parentes com a repressão ficou no ar: “Onde estão nossos desaparecidos?”
Deixei a praça e subi até o nono andar, voltei ao prédio e ao corredor da espera. Leane Almeida, testemunha, estava saindo. Calculei rapidamente a idade, 40 anos depois da prisão, aos 21, ela está com 61 anos. Não aparenta: “Eu fui presa no mesmo dia em que o Merlino, o Major comandou pessoalmente as torturas que eu sofri, ele dava ordens aos gritos, todo mundo escutava as sessões de tortura. Ele esteve presente em toda a Operação Bandeirantes, coordenando equipes e acompanhando interrogatórios”.
Pergunto sobre as torturas, ela conta que foi a primeira militante da ALN a ser presa e torturada. O coronel queria os nomes dos membros de seu grupo. Quando o Merlino chegou, Liane foi liberada da tortura e encaminhada para uma cela, onde ficou presa um ano e meio.
Ela diz que Merlino morreu porque não resistiu aos quatro dias de tortura ininterrupta. Viu, do primeiro andar onde estava presa, a retirada de Merlino do Doi-Codi: “O corpo dele estava inerte, acho que ainda não tinha morrido. O Ustra dava as ordens e a sua equipe jogou o corpo no porta-malas de um carro, que partiu”.
Liane para e se emociona, explica: “A memória é do corpo, não passa”.
Continuou: “Uma certeza tenho, no estado em que Merlino saiu da prisão ele não teria condições de correr para nenhum lugar, só para o paraíso”.
Liane se prepara para ir embora, finaliza: “Agora dependemos da Comissão Verdade e Justiça, como na Argentina e em outros países, ela tem mesmo que pactuar com a verdade e fazer justiça. Estamos escrevendo aqui, hoje, a história do Brasil, se haverá justiça ou não, dependerá de outros”.
A partir daqui, um funcionário do Fórum e um policial nos expulsam do andar, pedem que o grupo siga para o elevador. Daí um jovem que se declara "estudante" faz perguntas provocativas para um dos depoentes, o homem, já idoso e claramente sofrido, responde em voz grossa, alta, diz que a ditadura acabou e que não aceitará provocações.
Todos, no elevador, após a porta fechar e o silêncio voltar, afirmam que esses que se dizem "estudantes" são policiais disfarçados, querendo causar tumulto. Torço para que eles só tumultuem e não interfiram na briga pela punição dos torturadores, luta antiga e de todos, mas principalmente dos herdeiros da ditadura, futuros líderes desse país.
Por Christiane Marcondes
quarta-feira, 27 de julho de 2011
A TORTURA NO BANCO DOS RÉUS
Na noite de 15 de julho de 1971 o jornalista Luiz Eduardo Merlino dormia na casa de sua mãe, em Santos. Houve uma invasão violenta e três agentes do DOI-CODI armados com metralhadoras penetraram naquele lar deixando em pânico a mãe e a irmã enquanto davam voz de prisão ao jornalista. Tentando acalma-las ele beijou a ambas e disse que logo estaria de volta.
Nunca mais voltou.
Luiz Eduardo sabe-se por depoimento do único preso político que assistiu ao suplício, Guido Rocha, foi torturado sem folga, por 24 horas, havendo, inclusive, um revezamento entre os torturados em suas três turmas de 8 horas “de trabalho”.
Ao ser jogado na solitária já não sentia as pernas e teve que ser carregado por Guido até a privada.
Seu estado era tão preocupante que na manhã seguinte, 17 de julho, um enfermeiro foi chamado para examiná-lo. Não havia nenhuma resposta aos estímulos provocados pelo enfermeiro na planta dos pés ou nos joelhos. Além disso, tudo que ele comia, vomitava, com resquícios de sangue.
Quando o enfermeiro preparava-se para sair Merlino teve uma crise, já não sentia também os braços. O enfermeiro exigiu uma transferência urgente para o hospital. As últimas palavras que Guido ouviu foram “estou morrendo”.
No dia 20, pela manhã, o PM Gabriel contou aos presos que Merlino morrera na véspera por “problemas no coração”. Na noite desse mesmo dia D. Iracema Merlino recebeu um telefonema de um Delegado do DOPS que contou que seu filho morrera ao se jogar embaixo de um carro na BR-116 ao escapar da escolta que o levava a Porto Alegre, onde tinha ligações de militância.
Dois anos depois, ainda preso no DOI-CODI, o historiador Joel Rufino dos Santos ouviu de um de seus torturadores, que Merlino chegou muito mal ao Hospital e que de lá um médico telefonou ao DOPS (na verdade para o Coronel Carlos Alberto Ustra, chefe daquela seção) avisando que, ou amputavam suas pernas ou ele morreria. Segundo esse torturador, houve uma votação entre os homens de Ustra e a decisão foi “deixar morrer”.
Hoje, 40 anos e 8 dias depois, às 14h30min hs no Fórum João Mendes do Tribunal de Justiça de São Paulo, no centro da capital paulista teve início o histórico julgamento do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Graças a um esforço sobre-humano da família de Merlino que há anos tenta levar esse militar, responsável direto pela unidade paulista do DOI-CODI da Rua Tutóia, ao banco dos réus.
Estão lá os parentes e suas bagagens de dores. As testemunhas, Guido Rocha e Joel Rufino dos Santos pela acusação, e José Sarney (ele mesmo, o presidente do Senado), entre outros, pela defesa, que irão manter a versão absurda do suicídio.
É um momento histórico que pode ser vital por repercutir novos atos de justiça que tirem os crimes da ditadura militar debaixo do manto do anonimato.
Esperamos que lá também esteja a atenção e o interesse dos jovens brasileiros que não passaram por esses tempos cruéis, mas que necessitam conhecer um pouco mais da história de seu país.
Descanse em paz Luiz Eduardo Merlino. Você não pôde cumprir o que prometeu para sua mãe e irmã de retornar logo pra casa. Mas que seu nome, e o nome dos mortos sob tortura, possam finalmente, ocupar o lugar devido nos livros de história.
Nunca mais voltou.
Luiz Eduardo sabe-se por depoimento do único preso político que assistiu ao suplício, Guido Rocha, foi torturado sem folga, por 24 horas, havendo, inclusive, um revezamento entre os torturados em suas três turmas de 8 horas “de trabalho”.
Ao ser jogado na solitária já não sentia as pernas e teve que ser carregado por Guido até a privada.
Seu estado era tão preocupante que na manhã seguinte, 17 de julho, um enfermeiro foi chamado para examiná-lo. Não havia nenhuma resposta aos estímulos provocados pelo enfermeiro na planta dos pés ou nos joelhos. Além disso, tudo que ele comia, vomitava, com resquícios de sangue.
Quando o enfermeiro preparava-se para sair Merlino teve uma crise, já não sentia também os braços. O enfermeiro exigiu uma transferência urgente para o hospital. As últimas palavras que Guido ouviu foram “estou morrendo”.
No dia 20, pela manhã, o PM Gabriel contou aos presos que Merlino morrera na véspera por “problemas no coração”. Na noite desse mesmo dia D. Iracema Merlino recebeu um telefonema de um Delegado do DOPS que contou que seu filho morrera ao se jogar embaixo de um carro na BR-116 ao escapar da escolta que o levava a Porto Alegre, onde tinha ligações de militância.
Dois anos depois, ainda preso no DOI-CODI, o historiador Joel Rufino dos Santos ouviu de um de seus torturadores, que Merlino chegou muito mal ao Hospital e que de lá um médico telefonou ao DOPS (na verdade para o Coronel Carlos Alberto Ustra, chefe daquela seção) avisando que, ou amputavam suas pernas ou ele morreria. Segundo esse torturador, houve uma votação entre os homens de Ustra e a decisão foi “deixar morrer”.
Hoje, 40 anos e 8 dias depois, às 14h30min hs no Fórum João Mendes do Tribunal de Justiça de São Paulo, no centro da capital paulista teve início o histórico julgamento do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Graças a um esforço sobre-humano da família de Merlino que há anos tenta levar esse militar, responsável direto pela unidade paulista do DOI-CODI da Rua Tutóia, ao banco dos réus.
Estão lá os parentes e suas bagagens de dores. As testemunhas, Guido Rocha e Joel Rufino dos Santos pela acusação, e José Sarney (ele mesmo, o presidente do Senado), entre outros, pela defesa, que irão manter a versão absurda do suicídio.
É um momento histórico que pode ser vital por repercutir novos atos de justiça que tirem os crimes da ditadura militar debaixo do manto do anonimato.
Esperamos que lá também esteja a atenção e o interesse dos jovens brasileiros que não passaram por esses tempos cruéis, mas que necessitam conhecer um pouco mais da história de seu país.
Descanse em paz Luiz Eduardo Merlino. Você não pôde cumprir o que prometeu para sua mãe e irmã de retornar logo pra casa. Mas que seu nome, e o nome dos mortos sob tortura, possam finalmente, ocupar o lugar devido nos livros de história.
domingo, 24 de julho de 2011
AMY WINEHOUSE E AS BENGALAS
Nesse fim de semana recebemos a trágica notícia da morte da cantora e compositora britânica Amy Winehouse, de causas ainda não esclarecidas, mas, provavelmente ligadas ao uso abusivo de drogas.
Chama atenção que nos meios de comunicação, muitos entrevistados alegaram que esse desfecho já era esperado exatamente pelo envolvimento da artista com drogas, como álcool, anfetaminas, cocaína e outros.
E talvez, fosse mesmo de se esperar esse ponto final, lamentado por todos os fãs. Mas, que o lamento não seja inútil. Que a dor traga a reflexão necessária.
A dependência química é uma doença identificada no CID (Código Internacional de Doenças) e classificada como doença incapacitante para o trabalho.
É doença. E doença incurável, como incurável são alguns tipos de cânceres, diabetes e outros males. Porém, diferentemente desses, a dependência química é controlável, embora seu controle só seja possível com a abstinência total da droga incapacitante.
Possuí uma boa dose de características únicas que fazem duvidar seja realmente uma moléstia, algumas vezes sendo confundida com “falta de caráter”, “imoralidade”, “promiscuidade” etc. Quase sempre, o próprio dependente químico não aceita estar com uma doença quando usa sua droga de preferência.
Tem seus mistérios ainda não solucionados: por que alguns desenvolvem a dependência e outros não? Sua ocorrência é hereditária? Existem sinais que nos alertem para a predisposição à dependência?
Mas, também temos muitas certezas.
A dependência química é contagiosa. Mas não pelo contágio viral ou algo assim, mas pelo contágio da dor psíquica, da depressão, do sentimento de impotência que se alastra do dependente aos seus familiares, amigos, esposas, esposos, filhos. Na medicina moderna já é comum a expressão “família co-dependente”.
É essa co-dependência que explica as mentiras dos familiares para esconder cada ressaca, cada mico, para justificara a falta ao trabalho. A não aceitação do problema é comum entre os familiares.
Também é ela, a co-dependência, que explica porque a maioria das ex-esposas de dependentes químicos tornam a casar com outros dependentes químicos.
Importante não acreditar em falsas imunidades, como, por exemplo, do grau de escolaridade, função profissional ou poder aquisitivo.
Existem dependentes químicos em todas as funções conhecidas, do gari ao médico, do ajudante de pedreiro ao padre. Entre homens e mulheres e em todos os estamentos sociais. Ricos e pobres, de igual maneira. A dor não discrimina intelecto nem especialização, muito menos ter mais ou menos dinheiro.
O que varia nesses casos é apenas o tipo de droga mais utilizada.
Não acredite que o alcoolismo ou o tabagismo seja menos deprimente do que, por exemplo, fumar maconha. A legitimidade do uso ou da proibição é meramente fruto da cultura existente.
No Brasil qualquer um pode beber qualquer bebida de álcool, porém o consumo de maconha é reprimido pela Lei. Entretanto, nos países árabes o uso de Haxixe (um tipo de maconha potencializada) é liberado enquanto que consumir álcool é punido com cadeia e, às vezes com chibatadas públicas.
O uso de uma substância estranha ao corpo que provoca sensações de prazer, de alegria, euforia, invencibilidade é, na verdade, uma bengala que o dependente recorre para seguir a vida.
E quem de nós não usa bengalas?
Não será o trabalho excessivo, o sexo compulsivo, a inveja, a busca do poder, o sentimento de vingança, o ódio, entre tantas outras, bengalas?
Claro, que nada justifica o sofrimento e a dor, e no caso de Amy Winehouse e de milhares de dependentes, a morte.
Mas solução pronta não existe. Precisa ser construída.
A solução para esse que é o maior flagelo da humanidade passa, necessariamente, por melhorias na educação, no repensar a família e as relações afetivas.
Passa pela construção de uma sociedade menos injusta, menos egoísta e competitiva.
Uma sociedade mais fraterna onde os prazeres sejam pra todos e que não exija fugas em prazeres artificiais.
Se devemos reciclar o lixo por uma natureza mais limpa e saudável, não podemos esquecer o sonho de reciclar o homem enquanto ser social, por uma sociedade mais justa, mais humana e, só assim, sem drogas.
Chama atenção que nos meios de comunicação, muitos entrevistados alegaram que esse desfecho já era esperado exatamente pelo envolvimento da artista com drogas, como álcool, anfetaminas, cocaína e outros.
E talvez, fosse mesmo de se esperar esse ponto final, lamentado por todos os fãs. Mas, que o lamento não seja inútil. Que a dor traga a reflexão necessária.
A dependência química é uma doença identificada no CID (Código Internacional de Doenças) e classificada como doença incapacitante para o trabalho.
É doença. E doença incurável, como incurável são alguns tipos de cânceres, diabetes e outros males. Porém, diferentemente desses, a dependência química é controlável, embora seu controle só seja possível com a abstinência total da droga incapacitante.
Possuí uma boa dose de características únicas que fazem duvidar seja realmente uma moléstia, algumas vezes sendo confundida com “falta de caráter”, “imoralidade”, “promiscuidade” etc. Quase sempre, o próprio dependente químico não aceita estar com uma doença quando usa sua droga de preferência.
Tem seus mistérios ainda não solucionados: por que alguns desenvolvem a dependência e outros não? Sua ocorrência é hereditária? Existem sinais que nos alertem para a predisposição à dependência?
Mas, também temos muitas certezas.
A dependência química é contagiosa. Mas não pelo contágio viral ou algo assim, mas pelo contágio da dor psíquica, da depressão, do sentimento de impotência que se alastra do dependente aos seus familiares, amigos, esposas, esposos, filhos. Na medicina moderna já é comum a expressão “família co-dependente”.
É essa co-dependência que explica as mentiras dos familiares para esconder cada ressaca, cada mico, para justificara a falta ao trabalho. A não aceitação do problema é comum entre os familiares.
Também é ela, a co-dependência, que explica porque a maioria das ex-esposas de dependentes químicos tornam a casar com outros dependentes químicos.
Importante não acreditar em falsas imunidades, como, por exemplo, do grau de escolaridade, função profissional ou poder aquisitivo.
Existem dependentes químicos em todas as funções conhecidas, do gari ao médico, do ajudante de pedreiro ao padre. Entre homens e mulheres e em todos os estamentos sociais. Ricos e pobres, de igual maneira. A dor não discrimina intelecto nem especialização, muito menos ter mais ou menos dinheiro.
O que varia nesses casos é apenas o tipo de droga mais utilizada.
Não acredite que o alcoolismo ou o tabagismo seja menos deprimente do que, por exemplo, fumar maconha. A legitimidade do uso ou da proibição é meramente fruto da cultura existente.
No Brasil qualquer um pode beber qualquer bebida de álcool, porém o consumo de maconha é reprimido pela Lei. Entretanto, nos países árabes o uso de Haxixe (um tipo de maconha potencializada) é liberado enquanto que consumir álcool é punido com cadeia e, às vezes com chibatadas públicas.
O uso de uma substância estranha ao corpo que provoca sensações de prazer, de alegria, euforia, invencibilidade é, na verdade, uma bengala que o dependente recorre para seguir a vida.
E quem de nós não usa bengalas?
Não será o trabalho excessivo, o sexo compulsivo, a inveja, a busca do poder, o sentimento de vingança, o ódio, entre tantas outras, bengalas?
Claro, que nada justifica o sofrimento e a dor, e no caso de Amy Winehouse e de milhares de dependentes, a morte.
Mas solução pronta não existe. Precisa ser construída.
A solução para esse que é o maior flagelo da humanidade passa, necessariamente, por melhorias na educação, no repensar a família e as relações afetivas.
Passa pela construção de uma sociedade menos injusta, menos egoísta e competitiva.
Uma sociedade mais fraterna onde os prazeres sejam pra todos e que não exija fugas em prazeres artificiais.
Se devemos reciclar o lixo por uma natureza mais limpa e saudável, não podemos esquecer o sonho de reciclar o homem enquanto ser social, por uma sociedade mais justa, mais humana e, só assim, sem drogas.
sábado, 23 de julho de 2011
POLITEÍSMO, A EXPLICAÇÃO PARA O INEXPLICÁVEL
Quando o homem não sabe, ele inventa.
Podemos perceber isso nas crianças que, preenchem o seu mundo cheio de coisas incompreensíveis, com prodigiosa imaginação.
O mesmo ocorreu na infância da humanidade.
Sem saber porque as trevas substituíam o dia. Sem compreender as alterações das estações do ano, ou a energia do raio que caía tão próximo, o homem recorreu ao imaginário para poder ter algum contrôle sobre a ignorância.
Dessa maneira a quase totalidade dos povos antigos criou deuses, poderosos e invisíveis, num quadro que denominamos de politeísmo.
Alguns povos, como o Egito, chegaram a ter 3 mil deuses.
Logicamente, era necessario uma especialização na compreensão das multiplas coisas divinas. Era necessário entender suas vontades e suas iras. Como agradá-los, como conquistar sua confiança para que a colheita fosse farta ou a guerra fosse vencida. E aí, surgiu o clero.
A classe sacerdotal sempre esteve no poder, porque os povos sempre acreditaram que desempenhavam uma função vital para a sobrevivência. Porque justificavam suas mais profundas necessidades de segurança.
Dos grandes povos da antiguidade, apenas dois deles destacaram-se na contra-mão dessa tendência politeísta: os Hebreus após Moisés que adotaram o monoteísmo e os Persas que por Zaratrusta acreditavam em apenas dois deuses, numa espécie de dualidade entre o bem e o mal: Mazda, o Deus do Bem e Arimã, o Deus do mal.
Destaca-se ainda que os Egipcios (eles mesmos, os mais intensos politeístas) tiveram sob o reinado de Amenófis IV ou Akeneton, uma pequena experiência monoteísta.
Podemos perceber isso nas crianças que, preenchem o seu mundo cheio de coisas incompreensíveis, com prodigiosa imaginação.
O mesmo ocorreu na infância da humanidade.
Sem saber porque as trevas substituíam o dia. Sem compreender as alterações das estações do ano, ou a energia do raio que caía tão próximo, o homem recorreu ao imaginário para poder ter algum contrôle sobre a ignorância.
Dessa maneira a quase totalidade dos povos antigos criou deuses, poderosos e invisíveis, num quadro que denominamos de politeísmo.
Alguns povos, como o Egito, chegaram a ter 3 mil deuses.
Logicamente, era necessario uma especialização na compreensão das multiplas coisas divinas. Era necessário entender suas vontades e suas iras. Como agradá-los, como conquistar sua confiança para que a colheita fosse farta ou a guerra fosse vencida. E aí, surgiu o clero.
A classe sacerdotal sempre esteve no poder, porque os povos sempre acreditaram que desempenhavam uma função vital para a sobrevivência. Porque justificavam suas mais profundas necessidades de segurança.
Dos grandes povos da antiguidade, apenas dois deles destacaram-se na contra-mão dessa tendência politeísta: os Hebreus após Moisés que adotaram o monoteísmo e os Persas que por Zaratrusta acreditavam em apenas dois deuses, numa espécie de dualidade entre o bem e o mal: Mazda, o Deus do Bem e Arimã, o Deus do mal.
Destaca-se ainda que os Egipcios (eles mesmos, os mais intensos politeístas) tiveram sob o reinado de Amenófis IV ou Akeneton, uma pequena experiência monoteísta.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
O ÚLTIMO VÔO DO ATLANTIS
Concebido nos anos 1970 como veículo espacial econômico para alcançar a órbita terrestre, a nave espacial dos Estados Unidos, que combina as características de um ônibus e de um caminhão, enfrentou altos e baixos desde o seu primeiro voo, há três décadas.
O ônibus espacial nasceu em 1972, com a decisão do presidente Richard Nixon de lançar o programa. O primeiro voo orbital, o da Columbia, ocorreu em 12 de abril de 1981, com apenas dois astronautas a bordo.
O voo número 25 foi dramático: em 28 de janeiro de 1986, a nave Challenger explodiu diante das câmeras de televisão 73 segundos depois de decolar.
Os sete membros da tripulação morreram, entre eles Christa McAuliffe, 37 anos, que se tornaria a primeira professora a voar para o espaço.
O programa permaneceu paralisada durante quase três anos e reiniciou suas expedições em setembro de 1988 com o voo do Discovery.
Um dos pontos culminantes da história da nave espacial ocorreu em 1990, quando o Discovery decolou com o primeiro telescópio espacial, o Hubble, que revolucionou a história da astronomia.
O voo do Discovery, em fevereiro de 1995, marcou o início de uma estreita colaboração espacial entre Rússia e Estados Unidos. O orbitador transportou então um cosmonauta russo e chegou a se aproximar bastante da estação russa MIR, que tinha sido voluntariamente desorbitada com o objetivo de realizar sua destruição em 2001.
A construção da Estação Espacial Internacional (ISS) em 1998, cujo primeiro módulo Zarya (russo) foi colocado em órbita por um foguete russo Próton em novembro daquele ano, implicou na missão mais importante da nave americana.
Os lançamentos de naves já eram comuns, mas em 1 de fevereiro de 2003 ocorreu uma nova catástrofe: o Columbia desintegrou-se ao retornar à atmosfera, e seus sete tripulantes morreram.
Não haveria mais voos durante dois anos e meio. Uma comissão de investigação designada para analisar as causas do acidente criticou a Nasa e formulou drásticas recomendações para melhorar as condições de segurança.
Mas em julho de 2005, em seu primeiro voo depois da paralisação do programa, o Discovery perdeu um fragmento de grandes dimensões de espuma isolante no momento do lançamento, sem chegar a danificar o escudo térmico do orbitador. Esse mesmo problema esteve na origem do acidente do Columbia.
As naves permaneceriam novamente nos hangares durante um ano.
Depois de novas medidas para dar segurança máxima à tripulação, em 4 de julho de 2006 os voos foram retomados, com um Discovery reformado.
A decolagem da Atlantis neste, 8 de julho, marca o último passeio espacial desse tipo de aparelho.
No total, 385 pessoas de 16 países, na maioria americanos, terão voado em uma nave espacial.
Foram construídas seis naves, apesar de a primeira, Enterprise, não ter passado do estádio de protótipo. Discovery, Endeavour e Atlantis são as três sobreviventes daquela frota.
O ônibus espacial nasceu em 1972, com a decisão do presidente Richard Nixon de lançar o programa. O primeiro voo orbital, o da Columbia, ocorreu em 12 de abril de 1981, com apenas dois astronautas a bordo.
O voo número 25 foi dramático: em 28 de janeiro de 1986, a nave Challenger explodiu diante das câmeras de televisão 73 segundos depois de decolar.
Os sete membros da tripulação morreram, entre eles Christa McAuliffe, 37 anos, que se tornaria a primeira professora a voar para o espaço.
O programa permaneceu paralisada durante quase três anos e reiniciou suas expedições em setembro de 1988 com o voo do Discovery.
Um dos pontos culminantes da história da nave espacial ocorreu em 1990, quando o Discovery decolou com o primeiro telescópio espacial, o Hubble, que revolucionou a história da astronomia.
O voo do Discovery, em fevereiro de 1995, marcou o início de uma estreita colaboração espacial entre Rússia e Estados Unidos. O orbitador transportou então um cosmonauta russo e chegou a se aproximar bastante da estação russa MIR, que tinha sido voluntariamente desorbitada com o objetivo de realizar sua destruição em 2001.
A construção da Estação Espacial Internacional (ISS) em 1998, cujo primeiro módulo Zarya (russo) foi colocado em órbita por um foguete russo Próton em novembro daquele ano, implicou na missão mais importante da nave americana.
Os lançamentos de naves já eram comuns, mas em 1 de fevereiro de 2003 ocorreu uma nova catástrofe: o Columbia desintegrou-se ao retornar à atmosfera, e seus sete tripulantes morreram.
Não haveria mais voos durante dois anos e meio. Uma comissão de investigação designada para analisar as causas do acidente criticou a Nasa e formulou drásticas recomendações para melhorar as condições de segurança.
Mas em julho de 2005, em seu primeiro voo depois da paralisação do programa, o Discovery perdeu um fragmento de grandes dimensões de espuma isolante no momento do lançamento, sem chegar a danificar o escudo térmico do orbitador. Esse mesmo problema esteve na origem do acidente do Columbia.
As naves permaneceriam novamente nos hangares durante um ano.
Depois de novas medidas para dar segurança máxima à tripulação, em 4 de julho de 2006 os voos foram retomados, com um Discovery reformado.
A decolagem da Atlantis neste, 8 de julho, marca o último passeio espacial desse tipo de aparelho.
No total, 385 pessoas de 16 países, na maioria americanos, terão voado em uma nave espacial.
Foram construídas seis naves, apesar de a primeira, Enterprise, não ter passado do estádio de protótipo. Discovery, Endeavour e Atlantis são as três sobreviventes daquela frota.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
INDEPENDÊNCIA E MORTE NO PARÁ
A declaração de independência, em setembro de 1822, foi o ápice de um processo conduzido pela elite brasileira que pretendia a mudança do status político, mas sem mudanças sociais, inclusive, com a manutenção da escravidão.
Muitos, porém, iludiram-se com os fatos e acreditaram realmente que a emancipação política era também, o seu momento, já que eram brasileiros. Talvez, o momento da desforra contra os pés de chumbo (portugueses).
Um dos mais tragicamente iludidos foi o povo do Pará.
Na noite do dia 16 de outubro de 1823 (o Pará aderiu à independência e união ao Brasil em agosto de 1823), um grupo de brasileiros, pobres e embriagados, atacou com pedras estabelecimentos comerciais portugueses (na época as vidraças eram moda), na cidade de Belém. Era a explosão de um ódio represado pela humilhação nativa de ver os portugueses sempre bem nutridos, donos das melhores casas e senhores do comércio local.
A desordem foi informada ao mercenário John Pascoe Grenfell, mercenário expulso da marinha britânica e contratado a peso de ouro por D.Pedro I para comandar sua força naval e impor a independência, que chegara semanas antes, na cidade.
Grenfell, já pela madrugada, determinou o desembarque de tropas que efetuaram a prisão de todas as pessoas encontradas pelas ruas, acusadas de atacar as vitrines portuguesas.
Foram presas 261 pessoas. Cinco sumariamente fuzilados e 256 recolhidos à cadeia pública até o dia 20, quando foram transferidos para bordo do navio “Palhaço”, ancorado no porto da cidade.
Confinados no porão da embarcação, tendo sido fechadas as escotilhas e mantendo-se aberta apenas uma pequena fresta para a entrada de ar, devido à superlotação e ao calor a bordo, os prisioneiros começaram a gritar reclamando por água e mais ar, alguns chegando mesmo a ameaçar a guarnição, em seu desespero.
O que aconteceu em seguida, até hoje é envolto em dúvidas e mistérios.
Alguns afirmam que um tiro (de advertência) de um dos guardas tenha atingido o depósito de cal virgem que se espalhou pelo lotado recinto. Outros acreditam que o próprio Grenfell tenha ordenado deliberadamente o massacre.
O fato é que, no dia seguinte, às sete horas da manhã do dia 22, aberto o porão do navio contaram-se duzentos e cinquenta e dois corpos (com sinais de longa e penosa agonia) e quatro sobreviventes, dos quais, no dia seguinte, apenas um resistiu. No total pereceram 255 homens.
Embora mais tarde Grenfell tenha negado ordenar o massacre, consta que os corpos foram espalhados pelas proximidades do cais.
Sua exposição era um macabro e silencioso aviso de que nada havia mudado com a proclamação às margens do Ipiranga.
Ah...ninguém foi preso pelo massacre e consta que Grenfell morreu velho, gordo, rico, e aparentemente sem nenhum remorço.
Muitos, porém, iludiram-se com os fatos e acreditaram realmente que a emancipação política era também, o seu momento, já que eram brasileiros. Talvez, o momento da desforra contra os pés de chumbo (portugueses).
Um dos mais tragicamente iludidos foi o povo do Pará.
Na noite do dia 16 de outubro de 1823 (o Pará aderiu à independência e união ao Brasil em agosto de 1823), um grupo de brasileiros, pobres e embriagados, atacou com pedras estabelecimentos comerciais portugueses (na época as vidraças eram moda), na cidade de Belém. Era a explosão de um ódio represado pela humilhação nativa de ver os portugueses sempre bem nutridos, donos das melhores casas e senhores do comércio local.
A desordem foi informada ao mercenário John Pascoe Grenfell, mercenário expulso da marinha britânica e contratado a peso de ouro por D.Pedro I para comandar sua força naval e impor a independência, que chegara semanas antes, na cidade.
Grenfell, já pela madrugada, determinou o desembarque de tropas que efetuaram a prisão de todas as pessoas encontradas pelas ruas, acusadas de atacar as vitrines portuguesas.
Foram presas 261 pessoas. Cinco sumariamente fuzilados e 256 recolhidos à cadeia pública até o dia 20, quando foram transferidos para bordo do navio “Palhaço”, ancorado no porto da cidade.
Confinados no porão da embarcação, tendo sido fechadas as escotilhas e mantendo-se aberta apenas uma pequena fresta para a entrada de ar, devido à superlotação e ao calor a bordo, os prisioneiros começaram a gritar reclamando por água e mais ar, alguns chegando mesmo a ameaçar a guarnição, em seu desespero.
O que aconteceu em seguida, até hoje é envolto em dúvidas e mistérios.
Alguns afirmam que um tiro (de advertência) de um dos guardas tenha atingido o depósito de cal virgem que se espalhou pelo lotado recinto. Outros acreditam que o próprio Grenfell tenha ordenado deliberadamente o massacre.
O fato é que, no dia seguinte, às sete horas da manhã do dia 22, aberto o porão do navio contaram-se duzentos e cinquenta e dois corpos (com sinais de longa e penosa agonia) e quatro sobreviventes, dos quais, no dia seguinte, apenas um resistiu. No total pereceram 255 homens.
Embora mais tarde Grenfell tenha negado ordenar o massacre, consta que os corpos foram espalhados pelas proximidades do cais.
Sua exposição era um macabro e silencioso aviso de que nada havia mudado com a proclamação às margens do Ipiranga.
Ah...ninguém foi preso pelo massacre e consta que Grenfell morreu velho, gordo, rico, e aparentemente sem nenhum remorço.
sábado, 16 de julho de 2011
A SILENCIOSA LUTA DOS ESTUDANTES DA PUC-RS
No dia 28 de março de 1968, alegando reclamar da qualidade do Restaurante Universitário, apelidado de Calabouço, estudantes fizeram uma manifestação no centro do Rio de Janeiro, que na verdade, tinha a Ditadura Militar como alvo.
Os órgãos de segurança, incluindo forças do exército, reagiram com a sutileza das bestas, com tiros disparados em várias direções. O estudante potiguar Edson Luiz de Lima Souto, recém chegado para fazer o curso de medicina, foi mortalmente alvejado, tornando-se, um mártir do movimento estudantil.
No dia seguinte, um gigantesco cortejo para o enterro, reunindo cerca de 50.000 pessoas. No dia 1o de abril, os estudantes, com paus e pedras nas mãos, obrigaram cerca de 1.500 policiais, com cassetes e bombas de gás lacrimogêneo, a recuarem, tamanha era a sua disposição. O conflito só terminou quando o Exército ocupou as ruas e matou mais um estudante: Davi de Souza Neiva.
No dia 5 de abril, ao final da missa de sétimo dia, na Igreja da Candelária, a cavalaria da PM espancou os participantes, com golpes de sabre e só não houve um massacre em função dos religiosos, que tendo à frente o vigário-geral do Rio de Janeiro, D. José de Castro Pinto, ficaram entre os estudantes e a cavalaria com seus crucifixos levantados, num ato de extrema coragem.
Inúmeros foram os heróis brasileiros formatados pelo movimento estudantil brasileiro, e muitos são os capítulos que podem ser escritos narrando suas lutas, heroísmo, amarguras e vitórias.
Atualmente, muitos se perguntam por onde andará a mística garra do estudante brasileiro. O que aconteceu com sua coragem e politização. Por onde anda a falecida UNE.
Alguns apontam para um desânimo crônico de seu movimento e uma enorme desesperança entre suas militâncias. Há também, os que afirmam que o movimento estudantil se despolitizou a partir da crescente privatização e mercantilização do ensino.
Não é nossa intenção entrar no mérito ou aprofundar o debate, nesse texto.
Entretanto, cabe valorizar todos os pequenos gestos de rebeldia contra a ordem constituída se essa ordem for entendida como ilegítima. Cada ação que se proponha libertária, democrática e participativa dos estudantes brasileiros deve ser acalantada como o despertar da letargia.
Talvez liberdade seja isso: despertares, assim mesmo, no plural.
Dessa forma, é com muito interesse que o povo gaúcho deve acompanhar a luta de estudantes da PUC-RS contra o que alegam ser autoritarismo, continuísmo de cartas marcadas e prepotência dos arranjos políticos que mantém o DCE daquela entidade viciado pelas mesmas forças dirigentes de sempre.
Não precisamos chorar velhas perdas doloridas como Edson Luiz e Davi Neiva, mas recordá-las como pedras que pavimentam a estrada de lutas que ainda estão muito longe de terminar.
O chamado para esses caminhos que levam à democracia, às vezes nos cobram atalhos estranhos, como a péssima qualidade da comida de um RU, ou a pseudo-arrogância de um DCE.
Os órgãos de segurança, incluindo forças do exército, reagiram com a sutileza das bestas, com tiros disparados em várias direções. O estudante potiguar Edson Luiz de Lima Souto, recém chegado para fazer o curso de medicina, foi mortalmente alvejado, tornando-se, um mártir do movimento estudantil.
No dia seguinte, um gigantesco cortejo para o enterro, reunindo cerca de 50.000 pessoas. No dia 1o de abril, os estudantes, com paus e pedras nas mãos, obrigaram cerca de 1.500 policiais, com cassetes e bombas de gás lacrimogêneo, a recuarem, tamanha era a sua disposição. O conflito só terminou quando o Exército ocupou as ruas e matou mais um estudante: Davi de Souza Neiva.
No dia 5 de abril, ao final da missa de sétimo dia, na Igreja da Candelária, a cavalaria da PM espancou os participantes, com golpes de sabre e só não houve um massacre em função dos religiosos, que tendo à frente o vigário-geral do Rio de Janeiro, D. José de Castro Pinto, ficaram entre os estudantes e a cavalaria com seus crucifixos levantados, num ato de extrema coragem.
Inúmeros foram os heróis brasileiros formatados pelo movimento estudantil brasileiro, e muitos são os capítulos que podem ser escritos narrando suas lutas, heroísmo, amarguras e vitórias.
Atualmente, muitos se perguntam por onde andará a mística garra do estudante brasileiro. O que aconteceu com sua coragem e politização. Por onde anda a falecida UNE.
Alguns apontam para um desânimo crônico de seu movimento e uma enorme desesperança entre suas militâncias. Há também, os que afirmam que o movimento estudantil se despolitizou a partir da crescente privatização e mercantilização do ensino.
Não é nossa intenção entrar no mérito ou aprofundar o debate, nesse texto.
Entretanto, cabe valorizar todos os pequenos gestos de rebeldia contra a ordem constituída se essa ordem for entendida como ilegítima. Cada ação que se proponha libertária, democrática e participativa dos estudantes brasileiros deve ser acalantada como o despertar da letargia.
Talvez liberdade seja isso: despertares, assim mesmo, no plural.
Dessa forma, é com muito interesse que o povo gaúcho deve acompanhar a luta de estudantes da PUC-RS contra o que alegam ser autoritarismo, continuísmo de cartas marcadas e prepotência dos arranjos políticos que mantém o DCE daquela entidade viciado pelas mesmas forças dirigentes de sempre.
Não precisamos chorar velhas perdas doloridas como Edson Luiz e Davi Neiva, mas recordá-las como pedras que pavimentam a estrada de lutas que ainda estão muito longe de terminar.
O chamado para esses caminhos que levam à democracia, às vezes nos cobram atalhos estranhos, como a péssima qualidade da comida de um RU, ou a pseudo-arrogância de um DCE.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
VALE À PENA CONFERIR - FINAL
Embora recém tenha exibido pouco mais da metade do total de capítulos, já podemos fazer uma análise, dentro das expectativas criadas, quando de seu lançamento, sobre o trabalho inédito de teledramaturgia "AMOR E REVOLUÇÃO", apresentado de segundas às sextas pelo SBT.
Embora mereça aplausos a iniciativa de, pela primeira vez na história da televisão brasileira, mostrar de forma realista os horrores dos "porões da Ditadura" que inclui, cenas de tortura, e ainda, mereça aplausos a idéia de popularizar temas considerados tabus, a novela, apresentou como resultado mais amplo, ganhos pífios ao que se propunha.
Mal dirigida e interpretada, com diálgos que beiram, muitas vezes, a idiotia, o produto final foi televisivamente tão ruim que chega a comprometer a mensagem que se queria passar.
É necessário reconhecer que, para muitos que assistiram a novela, o drama é tão mal enfocado que chega a ser confuso, passando longe do objetivo do autor.
Alguns pontos, porém, foram positivos, como o impacto proocado pelos depoimentos daqueles que sofreram com a repressão, bem como, os que a defenderam. Para muitos brasileiros, foi uma descoberta. Talvez chocante demais para justificar audiência cativa. Ante o horror, muitos preferem a ignorância e olhar para o outro lado.
É de se incentivar novos trabalhos e de destacar a coragem da produção em navegar por águas tão turvas. Tornaram-se os responsáveis pelo trabalho, vidraças em que fartamente se jogaram pedras. Restam os elogios que não se dedicam aos covardes.
A Comissão da Verdade, que propoem investigar casos de crimes cometidos pela Ditadura, está em debate no Congresso. Que os brasileiros mais distraídos, saibam, ao menos, a importância que tem, poder enterrar seus mortos, para os familiares dos desaparecidos.
Embora mereça aplausos a iniciativa de, pela primeira vez na história da televisão brasileira, mostrar de forma realista os horrores dos "porões da Ditadura" que inclui, cenas de tortura, e ainda, mereça aplausos a idéia de popularizar temas considerados tabus, a novela, apresentou como resultado mais amplo, ganhos pífios ao que se propunha.
Mal dirigida e interpretada, com diálgos que beiram, muitas vezes, a idiotia, o produto final foi televisivamente tão ruim que chega a comprometer a mensagem que se queria passar.
É necessário reconhecer que, para muitos que assistiram a novela, o drama é tão mal enfocado que chega a ser confuso, passando longe do objetivo do autor.
Alguns pontos, porém, foram positivos, como o impacto proocado pelos depoimentos daqueles que sofreram com a repressão, bem como, os que a defenderam. Para muitos brasileiros, foi uma descoberta. Talvez chocante demais para justificar audiência cativa. Ante o horror, muitos preferem a ignorância e olhar para o outro lado.
É de se incentivar novos trabalhos e de destacar a coragem da produção em navegar por águas tão turvas. Tornaram-se os responsáveis pelo trabalho, vidraças em que fartamente se jogaram pedras. Restam os elogios que não se dedicam aos covardes.
A Comissão da Verdade, que propoem investigar casos de crimes cometidos pela Ditadura, está em debate no Congresso. Que os brasileiros mais distraídos, saibam, ao menos, a importância que tem, poder enterrar seus mortos, para os familiares dos desaparecidos.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
EGITO E A MALDIÇÃO DO FARAÓ
Existiam dois Egitos, até a unificação por Menés (para muitos um personagem lendário, tipo Licurgo, em Esparta) em 3.200 aC.
Povo extraordinário em várias áreas do conhecimento como medicina, arquitetura, matemática, entre outras.
Divide-se sua longa história em três fases ou Impérios: o Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império.
Seu período de maior esplendor foi o Antigo Império, quando o faraó concentrou tamanho poder que era comum a crença que só o Faraó tinha alma.
Até por isso, foi no Antigo Império, que se construíram as maiores pirâmides, como Queóps, Quéfrem e Miquerinos, construções tão fabulosas que, com certeza, envolveram todo o povo, de uma forma ou outra, no esforço do estado em sua construção.
Destaca-se que a escravidão não era a forma usual de exploração da mão-de-obra de seus governantes, mas, a escravidão coletiva, muitas vezes confundida até por gregos e hebreus, com escravidão.
Por habitarem o nordeste da África, mantiveram-se distantes das sangrentas lutas por terra fértil (ao contrário da Mesopotâmia) o que foi bom para seu desenvolvimento. Porém, esse isolamento geográfico acabou acarretando um forte atraso na metalurgia e no desenvolvimento tecnológico que acabaria sendo fatal para sua independência. Exemplo disso foi a invasão dos hicsos, no final do Antigo Império, que conheciam o aço, enquanto os egípcios não conheciam esse tipo de ferramenta.
O Egípcio era um povo cuja cultura estava fortemente atrelada à religião (extremamente politeísta, com mais de 3 mil deuses) e a idéia da morte.
Pensavam a morte permanentemente.
Apesar disso, não eram mórbidos.
Segundo o Historiador grego Heródoto, o Egípcio, apesar desse pensamento dominante, a ponto de ensinarem suas crianças a morrer desde tenra idade, era um povo alegre.
Adoravam festas, cerveja (que inventaram e que bebiam gelada) e música.
Na câmara mortuária de um faraó, por exemplo, onde se guardavam as coisas mais queridas do morto, foram encontrados os ingredientes básicos de uma cervejaria completa.
Amavam suas crianças, tanto que, todas as famílias ambicionavam uma casa cheia delas. Bater numa criança era crime hediondo e só permitido a seus pais sob certas circunstâncias.
Grandes médicos, os maiores de seu tempo. Destacavam-se na ginecologia e obstetrícia.
Conheciam como ninguém a saúde da mulher, tendo criado métodos anticonceptivos (à base de sementes de acácia negra moída misturada ao mel e usada como absorvente higiênico) e as primeiras camisinhas. Eram tão bons nisso que chegaram a criar um método desconhecido além deles por milhares de anos, de permitir a mulher tornar-se infértil temporariamente, enquanto tratava-se de alguma moléstia, por exemplo.
Tamanha sua fama que o Imperador Persa, certa vez, pediu, através de um mensageiro, que os médicos do Egito fizessem sua esposa engravidar novamente. Constrangido, e temeroso, pois o Império persa era o maior naquela época (séc. VI AC), o faraó respondeu que agradecia a confiança na medicina de seu país, mas que, até para eles seria difícil fazer a rainha engravidar outra vez, tendo em vista que a mesma já tinha 62 anos.
Em meados do século XX, a Rádio de Londres anunciou que tinha em seu poder, um instrumento musical, parecido com um saxofone e que na noite seguinte, um músico contratado pela emissora iria tocar o “Saxofone do faraó”.
Milhares de ouvintes telefonaram pedindo o cancelamento da exibição, pois tocar o instrumento querido de um faraó morto a tanto tempo poderia trazer azar e maldição. Ninguém na Rádio deu bola.
No dia seguinte, as 22 hs. Quando foi anunciada a execução ocorreu um blecaute na cidade. Por meia hora toda Londres ficou no escuro, fato raro pra eles. Novos telefonemas falaram em maldição.
Restabelecida a energia, o músico encheu os pulmões e dois mil anos depois, o instrumento musical voltou a emitir sua música.
Era a noite de 31 de agosto de 1939.
No dia seguinte, por ordens de Adolf Hitler a Alemanha invadia a Polônia e começava a segunda guerra mundial, evento que mataria milhões de pessoas, muitos delas, ingleses.
Coincidência, ou terá sido a maldição do Faraó?
Prof. Péricles
Povo extraordinário em várias áreas do conhecimento como medicina, arquitetura, matemática, entre outras.
Divide-se sua longa história em três fases ou Impérios: o Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império.
Seu período de maior esplendor foi o Antigo Império, quando o faraó concentrou tamanho poder que era comum a crença que só o Faraó tinha alma.
Até por isso, foi no Antigo Império, que se construíram as maiores pirâmides, como Queóps, Quéfrem e Miquerinos, construções tão fabulosas que, com certeza, envolveram todo o povo, de uma forma ou outra, no esforço do estado em sua construção.
Destaca-se que a escravidão não era a forma usual de exploração da mão-de-obra de seus governantes, mas, a escravidão coletiva, muitas vezes confundida até por gregos e hebreus, com escravidão.
Por habitarem o nordeste da África, mantiveram-se distantes das sangrentas lutas por terra fértil (ao contrário da Mesopotâmia) o que foi bom para seu desenvolvimento. Porém, esse isolamento geográfico acabou acarretando um forte atraso na metalurgia e no desenvolvimento tecnológico que acabaria sendo fatal para sua independência. Exemplo disso foi a invasão dos hicsos, no final do Antigo Império, que conheciam o aço, enquanto os egípcios não conheciam esse tipo de ferramenta.
O Egípcio era um povo cuja cultura estava fortemente atrelada à religião (extremamente politeísta, com mais de 3 mil deuses) e a idéia da morte.
Pensavam a morte permanentemente.
Apesar disso, não eram mórbidos.
Segundo o Historiador grego Heródoto, o Egípcio, apesar desse pensamento dominante, a ponto de ensinarem suas crianças a morrer desde tenra idade, era um povo alegre.
Adoravam festas, cerveja (que inventaram e que bebiam gelada) e música.
Na câmara mortuária de um faraó, por exemplo, onde se guardavam as coisas mais queridas do morto, foram encontrados os ingredientes básicos de uma cervejaria completa.
Amavam suas crianças, tanto que, todas as famílias ambicionavam uma casa cheia delas. Bater numa criança era crime hediondo e só permitido a seus pais sob certas circunstâncias.
Grandes médicos, os maiores de seu tempo. Destacavam-se na ginecologia e obstetrícia.
Conheciam como ninguém a saúde da mulher, tendo criado métodos anticonceptivos (à base de sementes de acácia negra moída misturada ao mel e usada como absorvente higiênico) e as primeiras camisinhas. Eram tão bons nisso que chegaram a criar um método desconhecido além deles por milhares de anos, de permitir a mulher tornar-se infértil temporariamente, enquanto tratava-se de alguma moléstia, por exemplo.
Tamanha sua fama que o Imperador Persa, certa vez, pediu, através de um mensageiro, que os médicos do Egito fizessem sua esposa engravidar novamente. Constrangido, e temeroso, pois o Império persa era o maior naquela época (séc. VI AC), o faraó respondeu que agradecia a confiança na medicina de seu país, mas que, até para eles seria difícil fazer a rainha engravidar outra vez, tendo em vista que a mesma já tinha 62 anos.
Em meados do século XX, a Rádio de Londres anunciou que tinha em seu poder, um instrumento musical, parecido com um saxofone e que na noite seguinte, um músico contratado pela emissora iria tocar o “Saxofone do faraó”.
Milhares de ouvintes telefonaram pedindo o cancelamento da exibição, pois tocar o instrumento querido de um faraó morto a tanto tempo poderia trazer azar e maldição. Ninguém na Rádio deu bola.
No dia seguinte, as 22 hs. Quando foi anunciada a execução ocorreu um blecaute na cidade. Por meia hora toda Londres ficou no escuro, fato raro pra eles. Novos telefonemas falaram em maldição.
Restabelecida a energia, o músico encheu os pulmões e dois mil anos depois, o instrumento musical voltou a emitir sua música.
Era a noite de 31 de agosto de 1939.
No dia seguinte, por ordens de Adolf Hitler a Alemanha invadia a Polônia e começava a segunda guerra mundial, evento que mataria milhões de pessoas, muitos delas, ingleses.
Coincidência, ou terá sido a maldição do Faraó?
Prof. Péricles
ITAMAR FRANCO
Diz a lenda que Itamar nasceu num navio, entre a Bahia e Minas Gerais. Ele mesmo se dizia mineiro e ficava brabo se o chamassem de baiano.
Itamar Franco surgiu no velho (não no atual, desfigurado) PTB de João Goulart. Sua primeira eleição foi para vereador em Juiz de Fora - MG, em 1958. Foi também sua primeira derrota eleitoral.
Foi derrotado novamente em 1962, candidato a vice-prefeito daquela cidade (na época prefeito e vice-prefeito eram duas escolhas separadas).
Porém, seria eleito prefeito em 1966.
Como Prefeito construiu 5 ou 6 adutoras de água que tornaram Juiz de Fora invejada pelas cidades vizinhas, até hoje.
A administração de Itamar foi tão elogiada e bem vista pela população local, que homens como Mário Andreazza, de visão política ambiciosa, tentou por todos os meios, levá-lo para a ARENA.
Em 1974, após ser reeleito em 1972, por uma pressão de Tancredo Neves, Itamar renunciou ao cargo para concorrer ao Senado Federal. Foi eleito naquele ano e naquelas eleições que seriam marcantes para fazer ver aos Ditadores que seu tempo se esgotava, já que o MDB (a oposição ao regime) venceria de ponta a ponta no Brasil (tal massacre de votos provocaria o Pacote de Abril e a criação do Senador Biônico para que os entreguistas da ARENA continuassem com maioria).
Com o fim do bipartidarismo, em 1982, Itamar permaneceu no PMDB e foi reeleito para o Senado Federal.
Em 1990, tendo seu espaço reduzido na política mineira por Newton Cardoso, Itamar surpreende a todos ao aceitar ser vice do candidato à presidência Fernando Collor de Melo.
Pela primeira vez é derrotado em Juiz de Fora. Lula vence as eleições no segundo turno na cidade de Itamar, mas vira vice-presidente, e, mais tarde, diante da queda de Collor, assume o posto de Presidente da República (1992).
Homem íntegro e honesto, Itamar Franco jamais usou o cargo para meter a mão no dinheiro alheio, muito menos no dinheiro público.
Antônio Carlos Magalhães, um dia, quando governava a Bahia fez denúncias de corrupção no governo Itamar. O então presidente o desafiou a apresentar as provas num encontro do Planalto. ACM foi (provavelmente disposto a fazer acordos e propor negociatas) e quando chegou às portas do gabinete presidencial estavam abertas, os ministros e jornalistas lá estavam, e, possesso, ACM não conseguiu mais que apresentar recortes de jornais, acabou desmontada uma das muitas farsas que protagonizou na política.
Foi o “pai”, o verdadeiro criador do Plano Real, mas, calado, permitiu que o clone de salvador da pátria, construído pela mídia e pela elite nacional se apoderasse de sua criação.
Imagine o que deve ter sido doloroso ao homem simples de Juiz de Fora assistir à criação da lenda de FHC “pai” do Real, pela mídia, a mesma mídia que lhe dava espaço apenas como um “Presidente instável e exótico”.
Em 1998, por pouco não consegue impedir a reeleição de FHC, tentando ser o candidato do PMDB. Houve choro e ranger de dentes para que desistisse, e foi montado todo um espetáculo para jogar sua imagem no ridículo. Os escândalos de ser filmado ao lado de uma atriz sem calcinha (Liliam Ramos) num desfile carnavalesco no Rio, namoros, etc, foram superdimensionados pela mídia nacional.
E em janeiro de 1999, eleito governador de Minas decreta a moratória das dívidas do Estado e coloca em risco, mais uma vez, todo o processo neoliberal de FHC.
Itamar Franco, como todos nós, era uma pessoa com seus defeitos e suas incoerências. Mas era um político nato, um brasileiro honesto. Um homem simples que dignificou com sua presença e com seu comportamento, o cenário político nacional, independente das diferenças de pensamento político e de ideologias.
Prof. Péricles
Itamar Franco surgiu no velho (não no atual, desfigurado) PTB de João Goulart. Sua primeira eleição foi para vereador em Juiz de Fora - MG, em 1958. Foi também sua primeira derrota eleitoral.
Foi derrotado novamente em 1962, candidato a vice-prefeito daquela cidade (na época prefeito e vice-prefeito eram duas escolhas separadas).
Porém, seria eleito prefeito em 1966.
Como Prefeito construiu 5 ou 6 adutoras de água que tornaram Juiz de Fora invejada pelas cidades vizinhas, até hoje.
A administração de Itamar foi tão elogiada e bem vista pela população local, que homens como Mário Andreazza, de visão política ambiciosa, tentou por todos os meios, levá-lo para a ARENA.
Em 1974, após ser reeleito em 1972, por uma pressão de Tancredo Neves, Itamar renunciou ao cargo para concorrer ao Senado Federal. Foi eleito naquele ano e naquelas eleições que seriam marcantes para fazer ver aos Ditadores que seu tempo se esgotava, já que o MDB (a oposição ao regime) venceria de ponta a ponta no Brasil (tal massacre de votos provocaria o Pacote de Abril e a criação do Senador Biônico para que os entreguistas da ARENA continuassem com maioria).
Com o fim do bipartidarismo, em 1982, Itamar permaneceu no PMDB e foi reeleito para o Senado Federal.
Em 1990, tendo seu espaço reduzido na política mineira por Newton Cardoso, Itamar surpreende a todos ao aceitar ser vice do candidato à presidência Fernando Collor de Melo.
Pela primeira vez é derrotado em Juiz de Fora. Lula vence as eleições no segundo turno na cidade de Itamar, mas vira vice-presidente, e, mais tarde, diante da queda de Collor, assume o posto de Presidente da República (1992).
Homem íntegro e honesto, Itamar Franco jamais usou o cargo para meter a mão no dinheiro alheio, muito menos no dinheiro público.
Antônio Carlos Magalhães, um dia, quando governava a Bahia fez denúncias de corrupção no governo Itamar. O então presidente o desafiou a apresentar as provas num encontro do Planalto. ACM foi (provavelmente disposto a fazer acordos e propor negociatas) e quando chegou às portas do gabinete presidencial estavam abertas, os ministros e jornalistas lá estavam, e, possesso, ACM não conseguiu mais que apresentar recortes de jornais, acabou desmontada uma das muitas farsas que protagonizou na política.
Foi o “pai”, o verdadeiro criador do Plano Real, mas, calado, permitiu que o clone de salvador da pátria, construído pela mídia e pela elite nacional se apoderasse de sua criação.
Imagine o que deve ter sido doloroso ao homem simples de Juiz de Fora assistir à criação da lenda de FHC “pai” do Real, pela mídia, a mesma mídia que lhe dava espaço apenas como um “Presidente instável e exótico”.
Em 1998, por pouco não consegue impedir a reeleição de FHC, tentando ser o candidato do PMDB. Houve choro e ranger de dentes para que desistisse, e foi montado todo um espetáculo para jogar sua imagem no ridículo. Os escândalos de ser filmado ao lado de uma atriz sem calcinha (Liliam Ramos) num desfile carnavalesco no Rio, namoros, etc, foram superdimensionados pela mídia nacional.
E em janeiro de 1999, eleito governador de Minas decreta a moratória das dívidas do Estado e coloca em risco, mais uma vez, todo o processo neoliberal de FHC.
Itamar Franco, como todos nós, era uma pessoa com seus defeitos e suas incoerências. Mas era um político nato, um brasileiro honesto. Um homem simples que dignificou com sua presença e com seu comportamento, o cenário político nacional, independente das diferenças de pensamento político e de ideologias.
Prof. Péricles
QUANDO CABRAL ERA GAY
Em 1965, os autores da coleção "História Nova" (produção conjunta do Iseb com o MEC), inclusive Nelson Werneck Sodré, fomos presos. Certo dia um tenente, jovem como eu, me tirou da cela para cortar meu cabelo. Não admitia cabeludos ali. O barbeiro era um velho sargento reformado ou talvez civil, não me recordo.
Enquanto me aplicava a máquina zero, com a curiosidade própria do ofício, perguntou ao tenente por que eu estava ali. "É um subversivo", respondeu.
Passa um tempo, o barbeiro insiste: "Mas subversivo como?" "Subversivo, porra", ranhetou o tenente. Barbeiros não se conformam com meias respostas. "Mas o que fez?" O tenente, já de cara amarrada, braços cruzados, deu a explicação definitiva. "Um general comunista, Nelson Werneck Sodré, convenceu esse aí a reescrever a história do Brasil."
Passam-se então alguns minutos. O barbeiro arrisca uma derradeira pergunta. "Reescrever a história do Brasil, como assim?" Furioso e embaraçado, o tenente encerra: "Eles escreveram, por exemplo, que Pedro Álvares Cabral era viado!".
Não é anedota. A contra-agitação daqueles anos se caracterizou por crendices assim. Sujeitos bem-intencionados, fardados ou não, reproduziam invencionices, precisavam delas para obedecer e agir. Os chefes mandavam prender; tenentes e investigadores, funcionando pela lei da gravidade, enchiam a cabeça de absurdos.
A "História Nova" nem fora idéia de Werneck Sodré” ele apenas a abraçou com entusiasmo. Nasceu numa tarde do verão de 1963, no Leblon. Um grupo de estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia, inconformado com a ruindade do ensino, planejou reescrever capítulos da história brasileira o descobrimento, as invasões holandesas, a independência de 1822, o sentido da Abolição e o advento da República, entre outros. Seriam a reforma de base no campo da história. Saíram cinco volumes pela Campanha de Assistência ao Estudante, do MEC.
Distribuídos gratuitamente a professores secundários, alcançaram êxito imediato, que se repetiu quando da segunda edição, em 1965, pela Brasiliense.
Essa nova tiragem foi apreendida, e nós, presos. O policial nos indagou, de imediato, pelo paradeiro de um certo Immanuel Kant.
A "História Nova" não existiria sem Werneck Sodré. Éramos estudiosos, mas ignorantes. Ele, historiador consagrado, orientava, discutia conosco o texto, emprestava o nome. Tinha suas cismas. Uma vez, nos foi visitar um brasilianista de gravata borboleta. Queria dados da realidade brasileira. Sodré o levou pelo braço até a varanda e apontou a favela Santa Marta. "Está tudo ali. Passe bem."
JOEL RUFINO DOS SANTOS
FOLHA DE SÃO PAULO - DOMINGO 26/06/2011
Enquanto me aplicava a máquina zero, com a curiosidade própria do ofício, perguntou ao tenente por que eu estava ali. "É um subversivo", respondeu.
Passa um tempo, o barbeiro insiste: "Mas subversivo como?" "Subversivo, porra", ranhetou o tenente. Barbeiros não se conformam com meias respostas. "Mas o que fez?" O tenente, já de cara amarrada, braços cruzados, deu a explicação definitiva. "Um general comunista, Nelson Werneck Sodré, convenceu esse aí a reescrever a história do Brasil."
Passam-se então alguns minutos. O barbeiro arrisca uma derradeira pergunta. "Reescrever a história do Brasil, como assim?" Furioso e embaraçado, o tenente encerra: "Eles escreveram, por exemplo, que Pedro Álvares Cabral era viado!".
Não é anedota. A contra-agitação daqueles anos se caracterizou por crendices assim. Sujeitos bem-intencionados, fardados ou não, reproduziam invencionices, precisavam delas para obedecer e agir. Os chefes mandavam prender; tenentes e investigadores, funcionando pela lei da gravidade, enchiam a cabeça de absurdos.
A "História Nova" nem fora idéia de Werneck Sodré” ele apenas a abraçou com entusiasmo. Nasceu numa tarde do verão de 1963, no Leblon. Um grupo de estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia, inconformado com a ruindade do ensino, planejou reescrever capítulos da história brasileira o descobrimento, as invasões holandesas, a independência de 1822, o sentido da Abolição e o advento da República, entre outros. Seriam a reforma de base no campo da história. Saíram cinco volumes pela Campanha de Assistência ao Estudante, do MEC.
Distribuídos gratuitamente a professores secundários, alcançaram êxito imediato, que se repetiu quando da segunda edição, em 1965, pela Brasiliense.
Essa nova tiragem foi apreendida, e nós, presos. O policial nos indagou, de imediato, pelo paradeiro de um certo Immanuel Kant.
A "História Nova" não existiria sem Werneck Sodré. Éramos estudiosos, mas ignorantes. Ele, historiador consagrado, orientava, discutia conosco o texto, emprestava o nome. Tinha suas cismas. Uma vez, nos foi visitar um brasilianista de gravata borboleta. Queria dados da realidade brasileira. Sodré o levou pelo braço até a varanda e apontou a favela Santa Marta. "Está tudo ali. Passe bem."
JOEL RUFINO DOS SANTOS
FOLHA DE SÃO PAULO - DOMINGO 26/06/2011
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