A declaração de independência, em setembro de 1822, foi o ápice de um processo conduzido pela elite brasileira que pretendia a mudança do status político, mas sem mudanças sociais, inclusive, com a manutenção da escravidão.
Muitos, porém, iludiram-se com os fatos e acreditaram realmente que a emancipação política era também, o seu momento, já que eram brasileiros. Talvez, o momento da desforra contra os pés de chumbo (portugueses).
Um dos mais tragicamente iludidos foi o povo do Pará.
Na noite do dia 16 de outubro de 1823 (o Pará aderiu à independência e união ao Brasil em agosto de 1823), um grupo de brasileiros, pobres e embriagados, atacou com pedras estabelecimentos comerciais portugueses (na época as vidraças eram moda), na cidade de Belém. Era a explosão de um ódio represado pela humilhação nativa de ver os portugueses sempre bem nutridos, donos das melhores casas e senhores do comércio local.
A desordem foi informada ao mercenário John Pascoe Grenfell, mercenário expulso da marinha britânica e contratado a peso de ouro por D.Pedro I para comandar sua força naval e impor a independência, que chegara semanas antes, na cidade.
Grenfell, já pela madrugada, determinou o desembarque de tropas que efetuaram a prisão de todas as pessoas encontradas pelas ruas, acusadas de atacar as vitrines portuguesas.
Foram presas 261 pessoas. Cinco sumariamente fuzilados e 256 recolhidos à cadeia pública até o dia 20, quando foram transferidos para bordo do navio “Palhaço”, ancorado no porto da cidade.
Confinados no porão da embarcação, tendo sido fechadas as escotilhas e mantendo-se aberta apenas uma pequena fresta para a entrada de ar, devido à superlotação e ao calor a bordo, os prisioneiros começaram a gritar reclamando por água e mais ar, alguns chegando mesmo a ameaçar a guarnição, em seu desespero.
O que aconteceu em seguida, até hoje é envolto em dúvidas e mistérios.
Alguns afirmam que um tiro (de advertência) de um dos guardas tenha atingido o depósito de cal virgem que se espalhou pelo lotado recinto. Outros acreditam que o próprio Grenfell tenha ordenado deliberadamente o massacre.
O fato é que, no dia seguinte, às sete horas da manhã do dia 22, aberto o porão do navio contaram-se duzentos e cinquenta e dois corpos (com sinais de longa e penosa agonia) e quatro sobreviventes, dos quais, no dia seguinte, apenas um resistiu. No total pereceram 255 homens.
Embora mais tarde Grenfell tenha negado ordenar o massacre, consta que os corpos foram espalhados pelas proximidades do cais.
Sua exposição era um macabro e silencioso aviso de que nada havia mudado com a proclamação às margens do Ipiranga.
Ah...ninguém foi preso pelo massacre e consta que Grenfell morreu velho, gordo, rico, e aparentemente sem nenhum remorço.
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