quinta-feira, 9 de junho de 2016

A ÓPERA BUFA DO GOLPE

Maria Fernanda Arruda

Por Maria Fernanda Arruda

Como é constante na História do Brasil, o grande derrotado é o povo. Mas, nesse momento trágico-cômico, todos estamos entregues às mãos de bandidos primatas.

Quem eles representam? Representam a Máfia que quer dominar a educação, a saúde, as terras e os recursos naturais, hoje em especial a Máfia do Petróleo. Nesse momento, não são os banqueiros e alguns segmentos das velhas elites nacionais. Esses tiveram sempre a boa-educação recebida: dos Setúbal aos Mesquita.

Já tivemos a fala de Miguel Reale: proferindo palavras com dificuldade dolorosa, ele não consegue expor ideias que não formula, perde-se no vazio das mentes afetadas pelos malefícios de uma saúde precária. Foi seguido de Janaína, a histérica carente e que vive a crise incalculável de abstinência, aquela a quem falta tudo, mas especialmente o juízo que lhe permitiria fosse um ser racional.

São várias as certezas que poderão ser antecipadas e que correspondem aos anseios maiores dos donos do poder, desejosos de completar a obra-prima parida por Fernando Henrique Cardoso.

Haja espaço para lamentarmos, além das figuras nojentas, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Jose Sarney e mais alguns tantos. Caiado de Castro não é Carlos Lacerda. As bancadas do PMDB e do PSDB não fazem uma velha banda de música, aquela que era regida por Afonso Arinos. A derrota nos está sendo imposta pela incompetência dos que foram líderes.

A enumeração dos erros faz uma listagem muito grande que foram tolerados em razão daquilo que excepcionalmente de bom foi feito: a inclusão social de milhões de brasileiros.

O Partido dos Trabalhadores, é preciso reconhecer e entender, acomodou-se no pantanal da política brasileira e os seus comandantes devem ser responsabilizados.

Não vale para coisa alguma o sofisma paupérrimo do “ruim com eles, pior sem eles”.

Possivelmente, a menor das culpas caiba a Dilma Rousseff. A ela não se atribua corrupção.

A crítica do Partido dos Trabalhadores precisa ser feita, associada a uma proposta e um programa de ação. Não cabe fazer crítica baseada no sentimento justo de frustração. E não dispensa a contestação dura e firme do Golpe de Estado e o que resulte dele.

Greves? Greve geral é utopia, totalmente teórica e inviável. Greve dos petroleiros: perfeito. Greve dos transportes públicos: altamente desgastante junto ao povo. Greve dos estudantes? Ótimo, desde que não termine com todos indo para a praia: ocupem os estabelecimentos e usem o espaço para atividades de discussão, esclarecimento, diálogo com a sociedade. Fazer passeatas de protesto contra a Globo? Repetir o que já foi feito e está sendo repetido? Seria viável obter o apoio efetivo de atores e atrizes que vendem seus serviços.

Não tenhamos ilusões, como as que foram alimentadas diante da ditadura de 1964, imaginando-se que teria duração curta, jamais supondo-se 20 anos de chumbo.

Teremos que enfrentar um parto difícil e dolorido, pois não nos preparamos para ele, embalados pelos sucessos obtidos, mas que cegaram para os problemas que foram se acumulando.

O que fazer então? O que faltou?

1. Aceitou-se e justificou-se a política econômica neoliberal, que era programa do PSDB, e não do PT. Cometeu-se o erro grosseiro, aceitando a atuação de um Ministro empregado de um banco privado. Tivemos meses de justificativas equivocadas. Não será possível a repetição do erro e o povo precisa ser esclarecido, o que não se fez, tentando-se a validação da mentira.

2. A regulamentação da “mídia” é condição para que se realize a desintoxicação ideológica promovida pela televisão.

3. Os programas sociais precisam ser mantidos e aperfeiçoados. Precisam ser divulgados de forma eficiente, sem a conotação simplória que se usou com frequência. Organizados e fiscalizados.

4. A omissão diante do problema indígena é inaceitável, e muito menos ainda a prática de desrespeito sistemático aos camponeses, contando-se para isso com o apoio do MST.

5. O modelo agroexportador, justificando a ocupação ilegal de terras, o uso indiscriminado de agrotóxicos e a disseminação das sementes transgênicas, precisa passar por reformas radicais.

6. O desenvolvimentismo, que justifica a desumanização brutal, tem que ser substituído pelo planejamento de um desenvolvimento econômico e social.

7. A reforma política é condição para as demais reformas. Não se confunde com medidas paliativas e só será possível com uma nova Constituição.

Essa é uma listagem preliminar, incompleta e enunciada de maneira muito pouco refletida. Mas pode ser um ponto de partida. É preciso substituir a superficialidade e o dogmatismo dos slogans que, por mais que sejam repetidos, não se fazem realidade.

Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.



terça-feira, 7 de junho de 2016

SOBRE MITOS, PODER E MENTIRAS


Eram duas irmãs que disputavam o poder na Terra: Democracia e Ditadura.

Democracia era bela, modos elegantes, tratava a todos da mesma maneira.

Ditadura era uma ordinária, só gostava de cafajestes e tratava as pessoas de acordo com seus próprios e íntimos interesses.

Democracia nasceu na Grécia, passou muitos anos afastada de todos e voltou só no fim da Era dos Feudos, infelizmente, muito mal acompanhada por um tal de capitalismo, que a promoveu como estrela de seu show de ilusionismo.

Ditadura era mais velha, inclusive ninguém sabia sua real idade pois sempre fora vista junto com os homens desde os tempos mais remotos.

Na verdade, Ditadura era meio revoltada já que, injustamente, diziam que ela só andava com socialistas e comunistas, quando na verdade sempre fora a preferida do capitalismo, aquele infiel.

Isso mesmo, o capitalismo fazia as maiores sacanagens com ditadura, mas, andava com democracia só para manter as aparências.

Ditadura gostava muito do Brasil.

Esteve em nosso país desde o nascimento da nação.

Era a melhor amiga de “Café com Leite”, brilhou no Estado Novo da Era Vargas e chegou a seu momento apoteótico com os militares (Ditadura adora os homens de farda, é um fetiche).

Democracia, coitadinha, nunca foi bem aceita em nossas terras.

Quando tentou se impor um presidente se suicidou em pleno mandato, outro renunciou e outro foi derrubado.

Democracia é assim mesmo, incompreendida entre os brasileiros.

Depois que sua irmã feiosa foi embora em 1985, Democracia ficou se achando. Inspirou a Constituição de 1988 e incentivou avanços sociais.

Pensou que agora sim, promoveria a diminuição das diferenças entre ricos e pobres, igualdades raciais e de gênero, enfim, Democracia ficou assanhada e fresca.

Ah... Dona Democracia, não aqui em terras tupiniquins... pensou uma velha inimiga sua, uma tal de Classe Média.

Classe Média era uma recalcada que ficava na janela invejando o progresso dos outros e torcendo para que sua janela fosse o centro do mundo.

Então, resolveu usar uma velha arma de sua querida amiga ditadura, a corrupção, para expulsar Democracia do país.

Quais das irmãs vencerá e permanecerá em nossas terras?

Bem isso dependerá de uma outra deusa pouco frequente nessas terras, mas decisiva nos momentos de crise - a Vontade, prima-irmã da dignidade, melhor amiga da Vergonha na Cara....

Mas esse... já é um outro mito.





Prof. Péricles

domingo, 5 de junho de 2016

GOLPE DE MESTRE

Por Tarcísio Lage


Michel Temer está de parabéns. Ele conseguiu dar o golpe de mestre, sonho máximo de partidos fisiológicos, sem ideologia.

No Brasil o PMDB ocupa o pódio. Golpe sim!

Se o Brasil fosse um regime parlamentarista a destituição de Dilma – vá lá, o eufemismo é afastamento – teria sido a coisa mais normal do mundo. Nesse sistema quem não tem maioria no Parlamento cai sem apelação. Mas o Brasil é presidencialista, os cargos executivos com mandatos de quatro anos, todo mundo sabe, até criança de escola primária.

Claro, sempre há a possibilidade de impedimento desde que dentro de normas previstas na Constituição, mas que não foram observadas.

Durante a aprovação pela Câmara, dia 17 se abril, assistimos ao espetáculo grotesco de ver a maioria da Casa sem ter a mínima ideia do motivo jurídico do pedido do impedimento e deputados dedicando seus votos a filhos, vovozinhas e até sogrinhas.

No Senado, pelo menos, a farsa foi menos grotesca.

No entanto, Michel Temer, o mestre golpista, nem de longe agiu só encastelado no Jaburu. Teve cúmplices em praticamente todas as instituições, do STF a traidores nos ministérios, na Lava a Jato, no diabo a quatro. 

Prometeu corte drástico nos ministérios, desistiu ao ver diminuído o poder de barganha de cargos e vacila ainda como comerciante sem escrúpulos ou de alguém que começou sua carreira política com Ademar de Barros.

É mais do que possível que soubesse da queda de Cunha depois do espetáculo deprimente da sessão do dia 17 e que o ministro Gilmar (acrescente o adjetivo mais apropriado) Mendes ia abrir processo contra Aécio Neves sobre graves suspeitas de falcatruas em Furnas. Toma lá, dá cá.

Mestre incontestável do golpe, da cartada decisiva, do xeque mate, Michel Temer é também não mais do que um instrumento de grupos nacionais e multinacionais interessados na mudança radical da política econômica brasileira.

O primeiro e mais urgente relaciona-se ao assédio constante das petroleiras pela privatização da Petrobras desde de que foi fundada em 1953 no bojo do movimento que tomou as ruas sob o lema “o petróleo é nosso”.

Não foi por nada que Temer nomeou Serra para o Ministério do Exterior, um sujeito que destoa até de seu próprio partido de tão entreguista que é. E não duvide: é bem provável que o preço do petróleo suba a medida que a privatização da Petrobrás se torne real. Certamente a Exxon e a Arábia Saudita vão deixar de segurar o barril a preço de banana.

O outro objetivo desse golpe é recolocar o Brasil total e cabalmente na área de influência dos Estados Unidos e do dito Ocidente.

Nesse caso, o Brasil é pouco mais do que um peão no jogo de xadrez dos países ocidentais contra os BRICS. É bom lembrar que o novo Banco de Desenvolvimento criado pela China. Rússia, India, Brasil e África do Sul tem o objetivo declarado de concorrer com o Banco Mundial, instrumento de dominação econômica comandadopelos EUA desde do fim da Segunda Guerra.

O golpe no Brasil ou o impedimento inconstitucional, se quiserem, pode ser uma revisão tática do grande capital em relação ao Brasil. Nesse sentido, é preciso deixar bem claro que a primeira eleição de Lula, em 2002, só foi possível porque o programa original do PT foi rasgado e substituído por outro social democrata e até certo ponto nacionalista.

Durante seu governo, Lula fez acordos com banqueiros e com parte do agronegócio para o desenvolvimento do etanol. Um risco calculado de perder (como perdeu) militantes mais à esquerda. Nasceu aí ressentimentos de muitas organizações de luta, como o MST, mas não suficientes para quebrar a aliança popular que sustentou o governo.

E, talvez, mais importante: beneficiado pelo avanço econômico (o Brasil chegou à posição de sexta economia do Planeta) o PT deu início à grande cartada de seu governo: a melhor distribuição da renda. Sair da vergonha onde grandes executivos ganhavam (e ganham ainda) salários equivalentes aos de seus colegas em Nova Iorque ou Paris, enquanto competia com o Haiti o primeiro lugar da pior distribuição da renda no mundo.

O bolsa família para tirar de imediato milhões da miséria e o aumento real do salário mínimo foram os grandes instrumentos. O capital financeiro ao calcular um bom aumento do mercado consumidor apoiou, mas sempre com um pé atrás, fiel a sua ideologia neoliberal do Estado mínimo.

Enfim, contornadas as arestas, dado o encaminhamento da contenção da miséria absoluta com as migalhas do bolsa família, tudo indica que o grande capital financeiro quebrou a aliança tática com o PT e agora está com Michel Temer do partido que faz qualquer jogada por mais suja que seja.

É o Brasil escancarando as portas para o neoliberalismo.



Tarcísio Lage, jornalista, escritor. As Tranças do Poder é seu último livro.



sexta-feira, 3 de junho de 2016

TRAIÇÃO, UMA TRADIÇÃO BRASILEIRA


O Brasil é um país que tem tradição em traição.

Um dos mais clássicos dos traidores é Domingos Fernandes Calabar.

Homem aventureiro e de muitos recursos provindos da experiência com contrabando, lutou ao lado dos brasileiros liderados por Mathias de Albuquerque contra os holandeses quando esses invadiram Pernambuco, em 1630.

Porém, por razões desconhecidas, o homem endoidou e em abril de 1632 procurou as autoridades militares batavas. Entregou tudo. Número de combatentes, caminhos escolhidos e até a posição do Arraial de Bom Jesus, sede da resistência brasileira.

Para uma luta de guerrilha, o segredo é fundamental e por isso, as informações de Calabar foram fatais e os holandeses tomaram Bom Jesus prenderam e expulsaram Mathias Albuquerque e seus homens.

Derrotado e em retirada, Mathias de Albuquerque por um desses golpes do destino, conseguiu capturar Calabar que foi garroteado e esquartejado em 1635.

Sem dúvida Calabar traiu, pelo menos, seus amigos da resistência, embora não se possa falar de traição a um Brasil que ainda não existia.

Outro traíra clássico é Joaquim Silvério dos Reis.

Em troca do perdão de suas dívidas entregou os bons meninos que sonhavam libertar Minas Gerais da tirania lusitana, especialmente, da cobrança da derrama.

Todos presos, muitos torturados, um suicidado na prisão e uma execução exemplar, a de Tiradentes, tudo por causa do trairão Silvério dos Reis.

Há muitos outros, comprovados e suspeitos de trairagem.

O pai de Pedro Ivo, líder da Revolta Praieira de 1848 em Pernambuco, Clemente Malcher na Cabanagem, Costa e Silva que traiu Jango, Gregório Fortunato que teria traído Getúlio Vargas, Getúlio Vargas que teria traído Borges de Medeiros, Bento Manoel e principalmente David Canabarro que traiu os negros e a Revolução Farroupilha, entre outros.

Fulgura até um traidor responsável por inúmeras prisões, torturas e mortes (inclusive da própria namorada que estava grávida) na ditadura militar... o sinistro Cabo Anselmo.

Enfim, temos vários tipos e características de traidores e traições. Clássicos, militares, civis. Traidores ao gosto nesse Brasil varonil.

Agora testemunhamos um caso de traição acompanhada pela nação, passo a passo.

A traição aberrante de um vice-presidente de olho no cargo de Presidente e de olho nos interesses em jogo.

O processo de impeachment não passaria na Câmara dos Deputados sem a traição do PMDB e o mais irônico é que o PT sempre suportou a presença desse partido no governo, em nome da tal governabilidade, que implicava, exatamente, a defesa desse aliado em caso de necessidade.

A traição de Temer pode ser vista de vários ângulos, todos eles nefastos.

Tendo a imagem de televisão, minutos após encerrada a contagem oficial dos votos, mostrando uma Dilma emocionada ao lado de um Temer, teoricamente também emocionado, lembra a traição de Calabar a seus companheiros de luta.

Sabendo que o principal motivo do golpe é proteger parcelas importantes de golpistas envolvidas em corrupção, lembra Silvério dos Reis para se livrar da derrama.

Entendendo que na verdade, as classes médias conservadoras, apoiam e exigem o golpe para manter distante as classes mais pobres favorecidas pelo governo que cai, nos fazem recordar Malcher, um homem das classes mais abastadas, traindo os miseráveis cabanos.

O aliado traiu a aliada. O vice traiu a titular. O homem traiu a mulher.

Talvez o garboso vice, agora presidente interino, devesse atentar para o seguinte detalhe: assim como a traição é constante na história brasileira, o desprezo pelo traidor também é e o povo costuma execrar sua memória.

E o rótulo virtual de traidor não se apagará da testa e dos olhos do personagem.

Assim como os apoiadores da ditadura militar negavam que apoiassem uma ditadura, chamando o golpe de “revolução”, os atuais golpistas também rejeitam o título de golpe e de traição ao ato perpetrado por Temer e seus aliados.

Porém, apesar belos discursos exibidos com o lustre da mídia tentem justificar sua infâmia, a história, essa fofoqueira, sempre usará a definição exata de sua ação: traição.

E traição é um ato repugnante, e sempre será.



Prof. Péricles





domingo, 29 de maio de 2016

LAERTE BRAGA PAROU DE ESCREVER

A partida de um grande guerreiro para o outro lado da existência, deixa o Brasil mais pobre e ainda mais carente de corações sem medo.

Mas, Laerte Braga não é uma perda. Laerte Braga jamais seria uma perda. Ele sempre será um ganho, nem que seja junto a outros guerreiros que hoje ainda lutam por justiça e por suas utopias nas grande padrarias celestes.

Prof. Péricles




Por Celso Lungaretti

Só mesmo a morte podia fazer Laerte Braga parar de escrever.

Veterano do jornalismo e do comunismo, Laerte Braga faleceu dia 15 de maio, vítima de enfarte aos 70 anos de idade.

Foi um companheiro com quem travei contato apenas virtual, mas logo percebi tratar-se de um militante da velha guarda, sincero e dedicado às suas causas.

Entendemo-nos bem, com mútuo respeito, no início. Depois, fomos arrastados a uma polêmica acalorada, em que tínhamos fortes motivos para assumir posições antagônicas.

Dois idosos que moram em cidades distantes acabam se encontrando apenas por acaso, e isto acabou não ocorrendo conosco (certa vez ele esteve para vir a São Paulo, mas cancelou a viagem à última hora). Então, eu não teria informações suficientes para traçar um perfil do Laerte com a qualidade deste que a jornalista Hildegard Angel, filha da Zuzu do filme, escreveu em 2012, quando ele disputava pela primeira vez a prefeitura de Juiz de Fora:

Dos candidatos de esquerda a prefeito no país, que se saiba, o mineiro Laerte Braga é o único que tinha direto acesso ao líder palestino Yasser Arafat, conversa em tête à tête com o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e consegue, sem grande dificuldade, uma audiência quer seja com o venezuelano Hugo Chavez quer seja com o cubano Raul Castro. Enfim, um mineiro internacional!

Um comunista atípico, que professa religião, veste-se de branco às sextas-feiras, obedecendo à tradição da umbanda, aprecia a boa mesa, a bebida de qualidade, os valores familiares, é filho respeitoso da mãe de 98 anos, cultiva as frases, a memória e os conceitos transmitidos pelo pai, gosta de escutar jazz e blues, admira e assiste aos filmes de Fellini, Godard e Woody Allen, e quando casa é com mulher bonita e jovem, como a Fernanda Tardin, com quem constituiu sua segunda família depois de enviuvar.

Enfim, nada a ver com o perfil clássico do comunista iconoclasta, barbado, desajustado e avesso aos gostos tradicionalmente cultivados pela burguesia…

Tem uma história tecida com os fios da coerência, desde os 13 de idade, quando se ligou ao PCB, em 1958, ao qual (o dito Partidão) agora retorna.

Jornalista nascido e vivido em Juiz de Fora, onde trabalhou no extinto Diário Mercantil e no Diário da Tarde, da cadeia dos Diários Associados. Depois, saltou para os jornais graúdos, como Estado de Minas e Jornal do Brasil.

Hoje, abraça com todo o fôlego a mídia virtual, aquela que dá liberdade total, escrevendo para o jornal espanhol Diário Liberdade, blogs e sites como Juntos Somos Fortes, Pueblos de Nuestra America, Quem Tem Medo da Democracia?, Jornal O Rebate, enfim, a imprensa realmente livre, aquela em que se pode expressar opinião própria sem se submeter à tirania dominante da opinião única, que atualmente envergonha a imprensa brasileira…

Laerte participou da resistência à ditadura, quer ligado ao MDB, quer como jornalista, acolhendo e veiculando denúncias em veículos da mídia internacional, à época a única a relatar as torturas e assassinatos perpretados no país…

Quatro filhos, seis netos, Laerte acredita em debater a cidade em que vive como “a primeira realidade de cada um de nós –onde nascemos, onde está nossa família, onde crescemos, nos formamos, vendemos nossa força de trabalho, em família temos nossos filhos, netos, onde terminamos nossos dias”…

Diz mais: “Dentro dessa visão, a cidade é o ponto de partida para uma nação forte e isso só será possível com participação popular”… (por Hildegard Angel)



Celso Lungaretti, jornalista e escritor, participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

IMPRÓPRIA PARA MAIORES DE 50 ANOS


O jovem desolado, mãos nos bolsos, caminha tenso pela calçada vazia de uma noite que ficou para trás.

Sua rebeldia acumulada luta para escapar do peito e transformada em gritou assustar a fauna noturna que já dorme nos becos.

A repressão dos tempos negros daquela época em que qualquer tipo de comportamento rebelde era perigoso para saúde estava sempre atenta a gritos fugitivos que se escondiam nos becos.

Eram tempos em que, quem não suportava as injustiças e as ordens opressoras não tinha para quem apelar, a não ser, para seus próprios deuses imaginários. E esses deuses eram seus únicos amigos confiáveis, naqueles tempos.

Dia haverá de chegar, pensava ele, em que todos os ouvidos estarão abertos aos apelos dos perseguidos.

Não há madrugada que não acabe, pensava ele enquanto chutava uma lata, sempre haverá um novo amanhecer.

Muitos anos depois o jovem já não é mais jovem, embora seus sonhos esqueçam disso e insistam em ter as mesmas cores de antigamente.

E para sua imensa surpresa ele se pega novamente chutando lata.

Novos gritos se recusam às masmorras da ordem estabelecida.

A repressão dessa vez, não tem a face suja de sangue como antigamente, mas tem nos olhos aparência mais sinistra, talvez, devido aos comerciais.

A quem apelar em pleno estado de direito, se são os juízes que escolhem o que ouvir, a quem julgar, que listas devem ser apuradas ou esquecidas?

A quem pedir justiça se ela foi privatizada e agora tem dono?

Nos tempos antigos os perseguidos eram listados por organismos cujas siglas tornaram-se sinônimas de terror: DOPS, OBAN, SNI e tantas outras.

Nos tempos novos os perseguidos são selecionados em gabinetes refrigerados, por equipes profissionais que escolhem as notícias e as versões que serão impostas ao povo.

São nos estúdios e editoras que se traçam destinos e se praticam torturas.

Se antes os profissionais se envergonhavam, de sua própria brutalidade escondendo da própria família sua “rotina de trabalho” hoje, os profissionais da mentira vestem roupas limpas, ganham bons salários e se orgulham do que fazem.

Antes o inimigo era bem definido, usava farda. Agora, é invisível, ou melhor, é bem trajado e maquiado.

Dia virá em que tudo isso será reescrito e redefinido.

Dia virá... bolas, mas até lá, como esconder tanta patifaria e canalhice?

A geração mais velha prefere a luta direta do que a farsa de uma democracia prostituída.

Essa é uma ditadura imprópria para maiores de 50 anos.

Muito difícil jogar um jogo de cartas marcadas. Melhor mesmo a fria bala do fuzil.

É mais dura, porém mais sincera.



Prof. Péricles