Por Mário Augusto Jakobskind
Hoje há quase unanimidade quanto à ausência de líderes do porte de Leonel Brizola, governador do Rio de Janeiro por duas vezes e uma no Rio Grande do Sul.
Polêmico, Brizola foi sempre combatido pela mídia
conservadora, em particular pelo jornal O Globo.
Tanto assim que uma semana antes da morte do líder trabalhista, o
diretor executivo da Rede Globo, Ali Kamel divulgava artigo no jornal mais
vendido do Rio de Janeiro culpando Brizola pela onda de violência na cidade do
Rio de Janeiro.
Kamel, por sinal, é uma das carreiras mais ascendentes e rápidas do
jornalismo brasileiro. Pode-se imaginar o motivo. Em 1982, por ocasião da
primeira eleição de Brizola como governador do Estado Rio de Janeiro, Kamel era
estagiário na rádio Jornal do Brasil e participou da cobertura da emissora da
eleição, tendo comprovado a tentativa de fraude eleitoral no episódio conhecido
como Proconsult,
Com o tempo, Kamel deixou para trás essa participação e foi galgando
postos até chegar ao cargo atual.
Mas voltando a Brizola, o governador do Estado do Rio de Janeiro foi
responsável, junto com Darci Ribeiro, pelo projeto dos CIEPS, combatido por
setores da direita e mesmo da esquerda que a direita gosta.
Se o projeto fosse levado adiante, possivelmente nos dias atuais boa
parte dos jovens da época poderia ter a oportunidade de encontrar caminhos que
possivelmente o levariam a ter um destino diferente da marginalidade.
Mas o tempo passou e logo em seguida ao governo Brizola, Moreira Franco
assumiu o Palácio da Guanabara e sepultou o projeto educacional dos CIEPS,
contando nesse sentido com o apoio de O Globo e particularmente de Roberto
Marinho.
É conhecido por inúmeros jornalistas as pautas de O Globo para combater
Brizola.
O próprio Marinho cobrava diariamente dos editores fatos negativos
contra o Governador. Chegou ao ponto de um dia o próprio Roberto Marinho ter
exigido que o jornal pautasse dessa forma, mesmo que nada houvesse para
criticar o Governador.
Brizola ficou em terceiro lugar na primeira eleição presidencial depois
do fim da ditadura civil militar que assolou o país durante 21 anos. Brizola
colocava sempre em pauta a questão das perdas internacionais, deixando furiosos
não apenas o empresário Roberto Marinho, como economistas que posteriormente se
tornaram apologistas do modelo neoliberal fortalecido a partir do governo do
então Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Brizola, sem dúvida, marcou época na política brasileira, antes e depois
de 1964, mesmo tendo sido na prática linchado pelas Organizações Globo, tendo à
frente figuras como Ali Kamel e outros do gênero.
Onze anos e meio depois de sua morte, a Presidente Dilma Rousseff com
muita razão o colocou na lista dos Heróis da Pátria, o que tem provocado
irritação de alguns setores, que não se conformam com o fato.
Muitos não têm coragem de aparecer como opositores da medida, preferindo
apenas destilar a contrariedade dando continuidade ao sectarismo contra Dilma
Rousseff.
Chegou ao ponto de opositores preverem o fim do governo que venceu a
eleição presidencial em outubro de 2014.
Nesse sentido surgiram defensores radicais do impeachment, jogando do
mesmo lado que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que poderá,
por decisão do Supremo Tribunal Federal, perder o cargo que exerce
envergonhando o Brasil.
O que Dilma Rousseff enfrenta hoje em termos de oposição sectária,
guardando-se as devidas proporções, de alguma forma remete ao que Brizola
enfrentou quando exercia cargos públicos depois de eleito pelo povo.
Por estas e muitas outras fez muito bem Dilma Rousseff em colocar
Brizola no rol dos Heróis da Pátria.
Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio
Brecha.