O Puchero é de uma constituição muito interessante.
Pega-se batata, mandioca (aipim aqui no Rio Grande), cebola, milho, nabo e uma infinidade de outros legumes. Acrescenta-se pedaços de carne de gado ou de ovelha. Bota-se tudo num caldeirão de ferro e deixa-se ferver por tempo indeterminado.
As atividades da festa na fazenda correm solta, rodeio e tudo mais e o puchero lá, fervendo.
Algumas vezes o panelão, onde está toda a mistura é enterrado para ferve sozinho, e a peonada até esquece dele.
Já na parte da noite, para arrefecer o trago, ele é finalmente trazido à mesa.
O que se vê é uma mistura uniforme, uma pasta só, com gosto delicioso e que reúne todos os ingredientes, como uma espécie de sopão.
É um alimento servido muito quente e é muito forte, capaz de sustentar qualquer um por um bom tempo.
Mas, o mais interessante, é que depois de tanta fervura não se distingue mais, com clareza, os ingredientes. Há uma uniformidade de gostos e sabores, num ponto em que ninguém sabe onde acaba a batata e começa o aipim.
Ao longo de eras o Brasil tem sido governado pelas elites ou por representantes dos interesses das elites.
Nesse tempo todo de poder, a corrupção sempre foi uma constante invariavelmente presente nas políticas públicas.
Paridos cujas diferenças são basicamente de siglas se revezaram ao longo dos anos nessa prática perniciosa, as vezes se aliando, apoiando mutuamente ou fazendo oposição de mentirinha.
Essa corrupção endêmica, na coisa pública e na vida partidária, é tão característica de nossa história que o povo sempre falou dela através do deboche das piadas, de forma que nunca foi segredo, no máximo, silêncio conveniente.
Na atualidade, quando a novidade foi a chegada ao poder de um partido de trabalhadores, fundado no final da Ditadura Militar e que jamais havia feito parte do jogo, a estratégia das elites e de sua mais importante superestrutura, a mídia, foi criar e difundir a ideia de que todos os políticos e de que todos os partidos são iguais.
Como um Puchero político. Tudo ferve no caldeirão do exercício do poder e da roubalheira, tudo igual, sem separação entre os ingredientes.
É um sofisma que agrada a direita, pois, se é tudo igual, a esquerda é tão leviana quanto ela e ao povo não cabe se preocupar em conhecer as ideias e diferenciar as propostas, pois é tudo a mesma coisa mesmo.
Agrada também o eleitorado conservador que assim justifica seu voto tacanho com o argumento de que não faz diferença, é tudo igual mesmo.
Só que não.
Não se deve ser levado por essa falsa ideia que uniformiza crimes e criminosos.
A esquerda nunca esteve no poder antes, a direita o exerce desde 1822.
Iguais são as propostas da direita, cuja diferenciação entre seus partidos se faz quase que imperceptível.
Acreditar nisso seria como acreditar que todo aquele que chega a um cargo público ou eleitoral é corrupto pelo simples fato de ter chegado, e convenhamos, acreditar nisso além de injusto é inescrupuloso. Está na raiz do pensamento daqueles que insistem em chamar Lula de ladrão, sem nenhuma prova.
É necessário que nosso sofrido povo diferencie bem os ingredientes.
É possível o exercício do poder através das ideias e ideais, a gente só não estava acostumado a ver isso.
A política não deve ser servida um puchero uniforme, mas como um belo e delicioso prato, onde se distinga bem o filé da carne de pescoço.
Prof. Péricles
Um comentário:
O problema é que todos se servem, e acham muito gostoso.
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