No dia
das mães lembro de Zuleika.
Em 14
de abril de 1971, pouco antes dela completar 50 anos, seu filho, Stuart, foi
preso pela repressão da Ditadura Militar Brasileira.
Nunca
mais foi visto com vida.
Mas
Zuleika, que era conhecida no Brasil como Zuzu Angel, nunca desistiu de
encontrá-lo, ou, de pelo menos, poder enterrar seu corpo.
Ficou
conhecida no mundo inteiro por sua busca de mãe desesperada, tornando-se um
símbolo da luta contra os crimes da ditadura.
Chegou
a “furar” a segurança, arriscando a vida durante uma visita oficial do
secretario norte-americano Henry Kissinger ao apartamento do General de plantão
na presidência do Brasil na época, Ernesto Geisel.
Como
mães possuem um código próprio, pediu ajuda para outra mãe, a esposa do general
Mark Clark, comandante das tropas aliadas na Itália, durante a Segunda Guerra
Mundial.
Tudo
inútil. As lágrimas de Zuzu Angel jamais secaram e, exatamente cinco anos
depois da prisão de Stuart, em 14 de abril de 1976, ela também se tornaria uma
vítima da ditadura, sofrendo aquelas mortes estranhas e inexplicáveis de
acidente de trânsito, tão ao gosto dos tiranos da época.
Uma
semana antes do “acidente” Zuzu deixou na casa do amigo Chico Buarque de
Hollanda uma carta em que dizia “se eu aparecer morta, por acidente ou outro
meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.
O
corpo de Stuart jamais foi encontrado e ainda figura entre os desaparecidos
políticos, apesar de ser amplamente conhecido, graças ao testemunho de outros
presos políticos da época, o que aconteceu com ele.
Stuart,
militante do MR-8 era muito próximo do Capitão Carlos Lamarca, inimigo número 1
da ditadura. Foi torturado desde o momento em que foi preso. Acabou morrendo
por asfixia quando teve a boca amarrada a um cano de descarga de um veículo.
Muitas
mães, como Zuzu, já morreram sem poder enterrar os restos mortais de seus
filhos assassinados nos porões da tortura. Outras, em idade avançada, ainda
sofrem de saudades e ainda choram lágrimas de mãe, aquelas lágrimas que,
sabemos, são as mais amargas que se pode conhecer.
E às dores dessas mães, acrescenta-se hoje a dor de assistir
elogios à ditadura.
À
essas mães sofridas, de todas as lágrimas amargas, a quem foi negado o direito
da despedida, o desejo sincero de um dia das mães suavizado pela resignação e a
certeza de que a justiça, mais cedo ou mais tarde, aqui ou em outro plano da
existência, será feita.
Prof. Péricles
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