quarta-feira, 20 de abril de 2016

GESTOS QUE DIZEM TUDO


Gestos muitas vezes dizem mais do que mil palavras.

O sopro de mãe para tirar nossa dor é gesto que buscamos reencontrar pelo resto da vida em outras circunstâncias.

O braço erguido com a euforia da vitória, as mãos unidas em prece...

JK inventou a mão espalmada para lembrar que possuía plano de governo com 5 ênfases e também para representar a promessa de cinquenta anos de desenvolvimento em cinco de governo.

Getúlio sorridente com seu cachimbo e acenando com o braço acima da cabeça dizia para todos o “trabalhadores do Brasil” mesmo sem falar.

O capitão Beline da seleção brasileira de futebol inventou o gesto de erguer a taça com as duas mãos acima da cabeça em 1958 e é imitado até hoje.

E o gesto de Rosa Parks de, simplesmente permanecer sentada no banco do ônibus depois de um dia cansativo de trabalho em vez de dar o lugar a um branco? Quanta resistência sem palavras...

Nas Olimpíadas de 1968 na Cidade do México, os atletas negros norte-americanos Tommie Smith vencedor dos 200 metros rasos e John Carlos, medalha de bronze, no alto do pódio, após receberem as medalhas ergueram os punhos fechados, gesto símbolo dos Panteras Negras, movimento negro de luta contra a segregação racial nos Estados Unidos. Foram punidos e expulsos da cidade olímpica, mas o gesto nunca mais foi esquecido.

O V com os dedos das mãos hippies que lembrava o “paz e amor”, o braço estendido dos nazistas que lembrava o ódio...

Sim, gestos as vezes falam por si mesmos.

Os judeus cuspiam no chão sempre que passava por eles alguém considerado alienado de suas leis religiosas e civis, gesto que, segundo os evangelistas, foi censurado por Jesus.

Mas ao longo do tempo, Jesus que nos perdoe, o cuspe criou vida própria e se tornou símbolo universal de desprezo.

O cuspe do deputado Jean Willis no também deputado Jair Bolsonaro tem toda a força necessária para se tornar um gesto icônico.

Segundo palavras de Jean Willis, o mínimo que ele poderia fazer diante do olhar debochado de um fascista era isso mesmo, cuspir.

Não é o gesto que se espera ver num lugar que deveria representar o encontro civilizado de defensores de ideias as vezes radicalmente diferentes.

Não é algo de boa educação, que se ensine aos filhos.

Mas, sem dúvida, é aquilo que muitos gostariam de fazer para marcar de forma indubitável seu desprezo ao fascismo e aos fascistas.

Diante da vitória do conluio hipócrita de tantos lobos travestidos de cordeiros e da indignação diante da ousadia de alguém capaz de elogiar e dedicar seu voto a um torturador que, entre outras pérolas de crueldade, costumava inserir um rato nos orifícios fisiológicos de suas prisioneiras, talvez não restasse mesmo, ao deputado do PSOL, outra coisa para fazer.

Foi feio? Foi sim.

Foi deselegante? Sem dúvida.

Mas, com o perdão da etiqueta da tolerância, coisa aliás, rara entre os fascistas, foi merecido.

Mais uma vez um gesto sem palavras disse milhares de coisas.

Coisas que boa parte da população brasileira e muitos familiares de mortos e desaparecidos na Ditadura Militar gostariam de dizer.



Prof. Péricles



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