sábado, 20 de fevereiro de 2016
A NECESSIDADE DE FAZER PARTE
O ser humano é um ser gregário, um animal social.
Seu instinto de sobrevivência o obrigou desde o início das eras a conviver em bandos como forma de superar o medo e suas próprias limitações.
Animal acanhado, lento tanto na terra como na água, desajeitado para subir nas árvores, mais fraco até do que um chipanzé, pouco enxerga e ouve mal.
Parecia uma sacanagem da natureza e candidato natural ao extermínio.
Mas, a capacidade de raciocinar, mesmo primitiva e insipiente, somada ao instinto de sobrevivência o fez grupal, e dessa união surgiu a força para prosseguir, não virar jantar e, ao contrário, tornar-se o maior predador da face da Terra.
Porém, viver em grupo tem seu preço.
Ao viver em grupo ele ganha muito, mas também perde.
Talvez, sua maior perda seja a sua liberdade natural, radical e plena, assumindo a liberdade relativa que o viver em grupo lhe permite.
Ingenuamente alguns dizem que são livres. Não o são. São relativamente livres em função direta com as leis que regulam sua vida.
Outro preço caro a ser pago é a rebeldia, o sentimento de inutilidade ou de insuficiência, já que, em essência, a inteligência o torna questionador.
Nenhuma formiga obreira jamais parou pra pensar se é justo o trabalho que faz para o bem do formigueiro.
Nenhum zangão, até hoje, botou as mãozinhas na cintura e perguntou se ele é apenas um objeto sexual.
Os animais irracionais gregários, como abelhas, formigas, cupins, pinguins, elefantes, etc. não raciocinam, não possuem consciência, muito menos simpatias ou antipatias. Vivem e apenas vivem, multiplicam-se e morrem.
Outro problema a destacar é que o homem não gosta nem confia nos outros homens.
O homem se suporta, mas não se gosta.
Uma prova? O casamento e o surgimento da família.
A família se origina na união de apenas duas pessoas e é a tentativa humana de criar um grupo privado e suportável dentro do grupão social e insuportável.
Também foi aqui que surgiu o machismo, pois é onde o homem pode exerce seu poder, aquele mesmo que lhe é negado no grupão e impor a autoridade que lá fora não tem.
Mas, voltando ao grande grupo, essa característica gregária da espécie cria a sensação de que o que importa é “fazer parte”.
As maiores dores humanas nascem do sentimento de não “fazer parte”.
A solidão é o sentimento de não fazer parte de nada.
A paixão é a tentativa de fazer parte das necessidades do outro.
As drogas nascem também disso tudo.
O dependente químico geralmente se vê como um estranho no ninho.
Quanto mais o grupo o rejeita, critica e abomina mais ele deixa de fazer parte.
Para o dependente químico o grande grupo vai progressivamente perdendo seu encanto e ele sente-se no céu da liberdade, enquanto na fase inicial do consumo da droga, e no inferno da solidão e da morte, na fase final da dependência.
É por isso que o tratamento para a maior parte de nossas doenças sociais como drogas, preconceito e ódio é a política de inclusão e não a exclusão ou repressão.
O que o homem mais teme não é a morte, é a rejeição.
Ser rejeitado é o oposto do “fazer parte”.
Prof. Péricles
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4 comentários:
Mui
Muito bom.
Muito bom.
Concordo com tudo. Em algum momento da vida passamos a nos medir com base da nossa participação (ou falta dela) em um grupo.
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