domingo, 30 de junho de 2013
O PREÇO DO IR E VIR
Os movimentos de protesto nas ruas brasileiras se iniciaram com reivindicações relacionadas ao preço do transporte urbano, nas grandes capitais. Não é de hoje que o preço da locomoção dos brasileiros cria dor de cabeça aos governantes.
A primeira revolta reivindicatória relacionada ao transporte público que se conhece, ocorreu no período imperial, mais exatamente entre 1879 e 1880, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. O protesto foi contra a cobrança de vinte réis, ou seja, um vintém, nas passagens dos bondes. Bom lembrar que esses bondes eram de tração animal, no caso, puxado por burros. Uma galera de mais ou menos 8 mil pessoas, aos gritos de “fora o vintém” agrediram os pobres condutores e, o cúmulo da violência, chegaram a matar alguns burros. No fim, o governo mudou o Ministro e desistiu da cobrança. Houve certa de 10 mortos durante os protestos.
Já a cidade de Salvado, na Bahia, experimentou uma paralisação forçada de 10 dias devido a um movimento de protesto contra o aumento das tarifas em transportes coletivos. Foi em 2003 sob a liderança da UNE (União Nacional dos Estudantes). Não houve acordo e as tarifas permaneceram reajustadas, mas foi grande o susto da população da cidade.
Na cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina, ocorreu a “Revolta da Catraca” nos anos de 2004 e 2005. O movimento que era contra o aumento das tarifas do ônibus balançou a vida política do estado e traumatizou a população urbana. Até hoje o movimento é citado como um dos mais assustadores já ocorridos. O acesso à cidade foi fechado pelos participantes do movimento. Foram milhares de participantes, mas quem acabou pagando o pato foi o estudante Marcelo Pomar, militante do MPL – Movimento Passe Livre, que foi preso e ainda hoje responde a processo no Tribunal de Justiça.
A atual mobilização, chamada por alguns de “A Revolta dos Vinte Centavos”, iniciou por São Paulo quando do aumento da passagem de ônibus em R$ 0,20. O maior destaque no início do movimento, e, talvez, o maior erro das autoridades, foi a repressão extremamente violenta por parte da polícia. O movimento se alastrou por outras cidades brasileiras, iniciando por Porto Alegre e Florianópolis e em pouco tem tornou-se nacional. Como sabemos, as inúmeras ramificações a partir do foco do reajuste das passagens de cara e forma a um movimento muito maior que questiona muito além do seu ponto de início, passando pela revolta contra a corrupção e outros pontos.
Ao contrário do que "estrelinhas intelectuais” da grande mídia comentaram com desprezo, o fulcro principal não são meros R$ 0,20. Não se trata de um movimento de miseráveis tentando matar burros. Pelo contrário, é um movimento, em essência, pela dignidade e pelo direito de manifestação, um direito inalienável da cidadania num estado que se pretende democrático.
O direito de ir e vir, tem preço e geralmente, além do ir e vir se restringir ao deslocamento de casa para o trabalho, esse preço é alto e desconsiderado.
Até onde vamos, ainda não sabemos, mas uma coisa deve ter ficado muito clara para os nossos dirigentes: não menosprezar jamais o peso do transporte no bolso do trabalhador. O elefante por causa de um mísero grão de amendoim pode descobrir que é o mais forte do circo.
Prof. Péricles
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