Após a morte trágica de Júlio Cesar, no ano 43 a.C., assassinado nas escadarias do senado, Roma virou um pandemônio. Petrificados, os senadores que tramaram o assassinato de Cesar perceberam o gol contra que haviam cometido. Como única forma de pacificar a galera, restou aceitar a imposição de um Triunvirato (o segundo) que iria exercer funções de executivo por cinco anos (prorrogados por mais cinco), enquanto se providenciasse a pacificação dos romanos e a prisão dos assassinos e seus mandantes.
Os homens desse trio no poder, foram escolhidos através de acordos feitos às pressas e eram: Marco Antônio, Otávio e Lépido.
Tirando fora Lépido, que ali estava por consenso, mas sem nenhuma ambição política, Marco Antônio e Otávio, desde o primeiro dia disputaram entre si o poder. A idéia era fazer do trio um solo, e depois disso, engolir o senado tornando-se imperador. A disputa entre Marco Antônio e Otávio decidiria os futuros de Roma e do mundo, e contou com pitadas operescas e tragi-cômicas.
Marco Antônio era o cara.
Herói de guerra, cicatrizes de batalhas expostas, braço direito de Júlio Cesar, alto e forte, era uma espécie de ídolo entre a juventude. Solteirão, metido a cantor, Marco Antônio era pegador. Rico, muito rico, e famoso, era o melhor partido disponível pra mulherada do pedaço.
Otávio, sobrinho de Júlio Cesar, era quase o oposto. Muito jovem (tinha apenas 20 anos na época) baixo, precocemente calvo, nunca fora visto em batalha (coisa que para os romanos era como nunca ter jogado futebol pra nós), falava baixo e pausado. Todos diziam que estava ali só por causa do titio.
A disputa entre os dois parecia decidida mesmo antes de começar. Algo assim como uma corrida entre o Vettel e o Rubinho. Mas...
Mas, Marco Antônio cometeria dois erros que se revelariam fatais.
Primeiro, desdenhou da concorrência. Achava Otávio um bundão e jamais se preocupou como deveria com ele. Quem vê careca não vê coração e Otávio, por trás da fala mansa escondia uma enorme habilidade política.
Segundo, talvez pela própria soberba, Marquinhos acabou se enrabixando com Cleópatra, a rainha egípcia, coisinha linda da época e que por anos dominou o experiênte Júlio Cesar com quem tivera um filho. Marco Antônio misturou assuntos de estado com assuntos pessoais. Não deu a mínima para a opinião pública que detestava a união entre seu general romano e uma rainha estrangeira. Se achando garanhão invencível procurou Cleópatra em seu próprio território, a cama, e... sucumbiu aos seus encantos como gurizinho chorão.
Pobre Marco Antônio. Com certeza se chegassem de surpresa no Palácio de Cleópatra o encontrariam paparicando a moça, naquele perfeito papel de idiota que todo homem apaixonado adora fazer.
Enquanto o tempo passava e Marco Antônio chamava Cleópatra de minha tchutchuquinha, Otávio ardilosamente fazia aquilo que em Brasília é praxe: alianças, conluios, propinas, aliciamentos e muita corrupção.
Quando Marco Antônio percebeu (vai ver na beira do fogão fazendo uma papinha pra amada) já não possuía o apoio dos principais políticos e generais romanos. E quando tirou o avental recebeu a notícia que Otávio rumava para o Egito com a mais poderosa esquadra que o dinheiro poderia comprar.
Foi o fim do nosso herói. Numa só batalha, a Batalha do Actium, seus poucos navios somados aos frágeis navios egipcios, foram completamente derrotados.
Empreendeu então uma patética fuga, que terminaria num patético suicídio. (Quanto à Cleópatra esqueça aquela bobagem da serpente que Hollywood inventou. Ela foi assassinada mesmo, a mando de Otávio que, esperto, nem quis ver a doida ao vivo).
Otávio, seguindo seus planos cuidadosamente traçados, fechou o senado e se declarou Imperador, com o nome de Augusto, ou Otávio Augusto.
Nos seus quase cinquenta anos de poder pacificou o Império Romano (ampliando o lucro dos poderosos oferecendo pão e circo à plebe).
Embelezou a capital. Centralizou o poder político e em seu tempo Roma conheceu um esplendor e uma paz nunca antes, nem depois, conhecida, a “Pax Romana”. Quando morreu, aos 77 anos, virou Deus, pelo menos, para os romanos.
Sem dúvidas, essa trágica história ensina muitas lições, como, por exemplo, jamais menosprezar o adversário, nunca se achar o cara acima da tragédia e sempre, mas sempre mesmo, respeitar o poder de uma mulher.
Prof. Péricles
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