Aproveitando o feriado de 21 de abril, vale algumas reflexões sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira.
Em 1755 ocorreu em Portugal, na região de Lisboa, um dos maiores terremotos da história. Para muitos, o maior que já aconteceu. Infelizmente não havia equipamento específico para registro de sua intensidade. Lisboa foi destruída.
O Marques de Pombal (ministrão do Rei) temia que a destruição da capital desestimulasse os parceiros comerciais europeus e que fosse negado um empréstimo que Portugal recorria já algum tempo.
Como poderia acalmar os parceiros investidores? Com o Brasil, claro. Mais precisamente, com o ouro do Brasil.
Dessa maneira os impostos arrocharam ainda mais e a administração Pombalina cria na região das minas a horrenda, Derrama.
E foi a Derrama, uma das causas, talvez a principal, da revolta que deu origem ao movimento da Inconfidência Mineira.
Os inconfidentes eram, em imensa maioria, filhos de classes mais favorecidas, mas, dela também participaram padres e militares.
Joaquim José da Silva Xavier era alferes (patente militar já extinta entre sargento e tenente). Não é justa a afirmação que era um movimento apenas de “filhinhos de papai”. Mas, definitivamente, era de uma elite intelectual. Gente que conhecia o iluminismo e as mudanças no mundo contemporâneo.
Tiradentes, embora não fosse um intelectual era um sujeito bem informado. Nomalmente guardava a Declaração de Independência dos Estados Unidos no bolso da calça e gostava de recitá-la quando discutia independência com alguém.
O que queriam os inconfidentes?
Basicamente defendiam reformas, além da independência política do Brasil. Queriam a criação de uma fábrica de pólvora em Vila Rica, que São João Del Rei se tornasse capital, pagamento de pensão vitalícia, como estímulo para mulheres que tivessem mais de quatro filhos (era necessário aumentar o povoamento), etc.
Sobre questões mais profundas como a forma de governo (Tiradentes era republicano) e a questão da escravidão (Tiradentes defendia sua abolição) a maioria jamais se pronunciou ou registrou seu pensamento.
Quando em reunião conspiratória na casa de um deles, os que chegavam ao bater à porta tinham que pronunciar uma senha, a senha “uai” (abreviatura de unidade, amor e independência) e daí a origem da característica expressão mineira, até hoje.
Traídos, o movimento que era frágil e condenado ao fracasso, pois não contava com qualquer base popular (o povo literalmente não sabia o que estava acontecendo), caiu como um castelo de areia.
Presos incomunicáveis por três anos (todos ficaram esse tempo todo com a roupa com que foram presos), torturados (Claudio Manuel da Costa foi “suicidado” na prisão), foram julgados e condenados, a maioria ao degredo.
Tiradentes foi condenado à morte. Segundo muitos, por ser o único chinelo da turma, mas também por ter a coragem de sustentar seus ideais, sem medo da pena, que sabia bem, seria a capital. A Coroa, para desestimular outras inconfidências, buscou ainda, criar terror. Esquartejou o corpo e distribui seus pedaços em lugares públicos de Vila Rica (hoje, Ouro Preto).
O movimento e seus elementos sempre foram questionados na história do Brasil e a figura de Tiradentes, em vários momentos, foi vista de maneira diferente.
A Independência veio 30 anos após a morte do Alferes (executado em 1792). Mas a monarquia brasileira, durante toda sua existência (1822-1889) procurou esquecer o movimento tido como republicano e abolicionista e Tiradentes permaneceu esquecido, sendo, inclusive, proibida a publicação de seu nome.
Apenas após a proclamação da República, em 1889, sua memória foi recuperada, e sua figura, erroneamente apresentada como fisicamente parecida com Jesus Cristo (Tiradentes não tinha cabelos compridos, pois era militar e inclusive teve os cabelos raspados para afugentar os piolhos da prisão para a execução).
Talvez porque toda nação necessite de heróis, de preferência martirizados, como o maior mártir de toda civilização cristã.
Mas essa é outra história.
Que nesse 21 de abril possamos refletir sobre nosso país, sobre homens capazes de defender suas idéias, sobre verdades e mentiras.
E, por que não, salve Joaquim José da Silva Xavier.
Uai.
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