Mas, Laerte Braga não é uma perda. Laerte Braga jamais seria uma perda. Ele sempre será um ganho, nem que seja junto a outros guerreiros que hoje ainda lutam por justiça e por suas utopias nas grande padrarias celestes.
Prof. Péricles
Por Celso Lungaretti
Só mesmo a morte podia fazer Laerte Braga parar de escrever.
Veterano do jornalismo e do comunismo, Laerte Braga faleceu dia 15 de maio, vítima de enfarte aos 70 anos de idade.
Foi um companheiro com quem travei contato apenas virtual, mas logo percebi tratar-se de um militante da velha guarda, sincero e dedicado às suas causas.
Entendemo-nos bem, com mútuo respeito, no início. Depois, fomos arrastados a uma polêmica acalorada, em que tínhamos fortes motivos para assumir posições antagônicas.
Dois idosos que moram em cidades distantes acabam se encontrando apenas por acaso, e isto acabou não ocorrendo conosco (certa vez ele esteve para vir a São Paulo, mas cancelou a viagem à última hora). Então, eu não teria informações suficientes para traçar um perfil do Laerte com a qualidade deste que a jornalista Hildegard Angel, filha da Zuzu do filme, escreveu em 2012, quando ele disputava pela primeira vez a prefeitura de Juiz de Fora:
Dos candidatos de esquerda a prefeito no país, que se saiba, o mineiro Laerte Braga é o único que tinha direto acesso ao líder palestino Yasser Arafat, conversa em tête à tête com o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e consegue, sem grande dificuldade, uma audiência quer seja com o venezuelano Hugo Chavez quer seja com o cubano Raul Castro. Enfim, um mineiro internacional!
Um comunista atípico, que professa religião, veste-se de branco às sextas-feiras, obedecendo à tradição da umbanda, aprecia a boa mesa, a bebida de qualidade, os valores familiares, é filho respeitoso da mãe de 98 anos, cultiva as frases, a memória e os conceitos transmitidos pelo pai, gosta de escutar jazz e blues, admira e assiste aos filmes de Fellini, Godard e Woody Allen, e quando casa é com mulher bonita e jovem, como a Fernanda Tardin, com quem constituiu sua segunda família depois de enviuvar.
Enfim, nada a ver com o perfil clássico do comunista iconoclasta, barbado, desajustado e avesso aos gostos tradicionalmente cultivados pela burguesia…
Tem uma história tecida com os fios da coerência, desde os 13 de idade, quando se ligou ao PCB, em 1958, ao qual (o dito Partidão) agora retorna.
Jornalista nascido e vivido em Juiz de Fora, onde trabalhou no extinto Diário Mercantil e no Diário da Tarde, da cadeia dos Diários Associados. Depois, saltou para os jornais graúdos, como Estado de Minas e Jornal do Brasil.
Hoje, abraça com todo o fôlego a mídia virtual, aquela que dá liberdade total, escrevendo para o jornal espanhol Diário Liberdade, blogs e sites como Juntos Somos Fortes, Pueblos de Nuestra America, Quem Tem Medo da Democracia?, Jornal O Rebate, enfim, a imprensa realmente livre, aquela em que se pode expressar opinião própria sem se submeter à tirania dominante da opinião única, que atualmente envergonha a imprensa brasileira…
Laerte participou da resistência à ditadura, quer ligado ao MDB, quer como jornalista, acolhendo e veiculando denúncias em veículos da mídia internacional, à época a única a relatar as torturas e assassinatos perpretados no país…
Quatro filhos, seis netos, Laerte acredita em debater a cidade em que vive como “a primeira realidade de cada um de nós –onde nascemos, onde está nossa família, onde crescemos, nos formamos, vendemos nossa força de trabalho, em família temos nossos filhos, netos, onde terminamos nossos dias”…
Diz mais: “Dentro dessa visão, a cidade é o ponto de partida para uma nação forte e isso só será possível com participação popular”… (por Hildegard Angel)
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia.