terça-feira, 14 de março de 2017

A BANCA, A FARSA E A DITADURA INVISÍVEL


O romance 1984 de George Orwell, pseudônimo do súdito nascido na Índia Eric Arthur Blair, lançado em 1949, é uma crítica a Stalin e à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, de modo sutil, a glorificação de Winston Churchill, nome do herói – Winston – do romance.

Logo no início do livro travamos conhecimento da existência do Ministério da Verdade e da Novilíngua, graças aos quais se difundiam lemas governamentais: “liberdade é escravidão”, “ignorância é força”.

Parece ridículo a você, caro leitor, que alguém fosse atingido por tais farsas? Mas outra coisa não lhe é feita, desde os anos 1980, com as palavras e expressões tais como globalização, mercado livre, política ou decisão inevitável, modernização trabalhista, ações indispensáveis, contenção de despesas públicas, superavit fiscal, déficits públicos e baboseiras semelhantes.

A ensaísta e premiada escritora francesa Viviane Forrester publicou, em 2000, Uma Estranha Ditadura (UNESP, 2001) que desmascara a novilíngua neoliberal, que tomou conta de todas as notícias da imprensa, das análises supostamente técnicas e mesmo da academia, como demonstra com precisão e objetividade o filme de Charles Ferguson, Trabalho Interno (Inside Job), lançado em 2010.

Vamos analisar os verdadeiros significados destas palavras, os objetivos desta farsa e, como é óbvio, quem é beneficiado com este reeditado “1984”.

Tomemos um caso concreto – a reforma da previdência social no Brasil. Como já foi sobejamente demonstrado esta previdência é superavitária, mesmo sem a cobrança de milhões de reais devidos por empresas privadas.

O economista J. Carlos de Assis, nas páginas do jornal Monitor Mercantil e em vários blogs e portais virtuais, lançou o desafio a qualquer membro do governo, economista chapa branca ou independente, analista de jornal, rádio e emissora de televisão e doutos acadêmicos para debater com ele o “déficit previdenciário”. Ninguém se ofereceu a este repto que já completa dois meses.

Vejamos alguns elementos desta novilíngua. Primeiro este “pensamento único”, por si já prova do sentido ditatorial, que se autodenomina neoliberal.

Mas significando efetivamente a selvageria do cada um por si, de nenhuma restrição ao abuso, da satisfação de desejo, o mais iníquo, e a competitividade destruidora de pessoas e bens.

Viviane Forrester levantou, para março de 1996, sete grandes empresas multinacionais que tiveram cotações em bolsa elevadas com a divulgação da demissão de empregados. O resultado desta “competitividade” foi transferir o dinheiro de salários para os maiores lucros dos acionistas, um processo de concentração de renda e de expansão da miséria.

Mas a competitividade parece atender a voz divina que manda os ricos ficarem mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Ou você não havia notado esta novilíngua?

Para que serve a economia? Para promover concentração de riqueza ou existência digna para as pessoas?

Em Londres e em Nova Iorque houve manifestações (peço atenção do golpista Ministro da Educação (sic) – “houveram” remete-lo-ia (!) ao ensino Fundamental I) de mestres de escolas de economia em defesa do real estudo desta disciplina, pois, em suas próprias palavras, estava sendo transformada apenas e simplesmente em engenharia financeira.

Mas a imprensa mundial, dominada pela banca (sistema financeiro), fez-se surda e muda.

Outro vocábulo da novilíngua é globalização. Viviane Forrester chama “obra-prima do gênero” farsante.

Escreve esta crítica francesa: “seu nome por si só cobre todos os fatos de nossa época e consegue camuflar, tornando-a indiscernível no interior desse amálgama, a hegemonia do ultraliberalismo: um sistema político que, sem estar oficialmente no poder, comanda o conjunto daquilo que os poderes têm a governar, obtendo uma plenipotência planetária”.

Este avanço da banca à economia, à política, à comunicação social, a toda sociedade já é descrito até por seus executivos e membros de um organismo da banca: o Fundo Monetário Internacional (FMI).

E a imprensa, mesmo quando combate ações da banca, divulga a novilíngua, como se fosse inevitável a discussão nos seus termos e significados. É uma escolha a qual também devemos combater.

Afinal expropriação privada é tirar de alguém, sem que haja interesse público, algo que lhe pertence, seja o salário, no exemplo dado por Viviane Forrester, seja o direito à saúde ou à educação.

Chame-se de déficit público, de custo irrecuperável, de administração perdulária (como se altos juros não fosse o mais perdulário dos gastos públicos), de futura insolvência, como se alardeia às aposentadorias e pensões, sempre é você que está sendo tungado.

Já pensou o caro leitor quem vai receber suas contribuições previdenciárias se não for o Estado? e que garantia você terá da própria permanência da seguradora ou banco daqui a 30 ou 40 anos quando você resolver se aposentar?

É a farsa da banca que nos coloca nesta ditadura da própria linguagem, muito mais difícil de se insurgir do que a da censura, dos tanques nas ruas ou de um Estado totalitário.

É a ditadura invisível que nos oprime neste século XXI. E que os coxinhas, batedores de panela ou simplesmente ignorantes colocaram no Poder no Brasil.



Por Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado

domingo, 12 de março de 2017

DECEPÇÕES A GRANEL


Em períodos de exceção como na década de 30 com o crescimento nazista, ou no período militar no Brasil, é muito fácil quebrar a cara quando se deposita esperanças de resistência em individualidades.



Os processos revolucionários são sempre coletivos, jamais individuais.



O autoritarismo não procura apenas eliminar os opositores, busca também coopta-los.



Como o regime detém as formas mais fáceis de promoção pessoal e abre portas com as chaves da truculência, torna-se sedutor apoia-lo tendo em mente o que pode se reverter em benesses pessoais, e não se trata aqui, uma questão de dinheiro, mas de estima.



O nazismo perseguiu intelectuais que o combatiam, mas antes, tentava traze-los para o seu lado, seduzindo-os de todas as formas além do econômico. Com alguns obteve exito, com outros não.



A mesma coisa foi feita pelo franquismo, salazarismo, etc.



Médice tornava-se muito mais simpático fazendo embaixadas depois de garantir prêmios vultosos aos atletas campeões da Copa de 70.



Por isso, é saudável que aqueles que contestam a dominação pela força não se entusiasmem em demasia pelos lampejos da intelectualidade. O desencanto mora ao lado enquanto os autoritários e todo seu poder de criar carismas tiverem como comprar simpatias.



É claro que dói profundamente ver um intelectual até então identificado como opositor de tudo de errado que está acontecendo na vida política brasileira, na mesa em alegre confraternização com um juiz identificado com essa situação.



É duro e desagradável, mas não pode ser considerado uma surpresa.



Bom mesmo é evitar julgamentos definitivos e acreditar que as luzes individuais podem ser maiores que as trevas de nossas pequenezas. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato e onde seus interesses individuais podem se tornar maiores que os coletivos.



Melhor a brandura de aceitar que essa lógica do opositor que se torna simpatizante como sendo um fenômeno universal no mundo das lutas pela democracia e pela justiça que invade a vida privada dos que se destacam e se tornam ícones de alguma forma de resistência.



Todo aquele que embasa sua opinião sobre ideias verdadeiros de igualdade jamais aceitará mudar de time.



Quem não tem esses ideais terá outras prioridades.



Aos que lutam pela verdade as compensações as vezes chegam em conta-gotas e as decepções à granel.



Prof. Péricles

sábado, 11 de março de 2017

AS UTOPIAS NOS FAZEM CAMINHAR


Quando escala uma montanha, sempre tem aquele momento em que, cansado, o alpinista senta numa pedra e ofegante olha para o caminho já percorrido. Aparentemente já foram tantos desafios superados, pensa ele, muitos metros vencidos, caminho feito.

Mas, em seguida seu olhar recai sobre o caminho que ainda falta e, é quando ele percebe que por mais que tenha subido, muito ainda falta para subir. O caminho pedregoso e íngreme que se apresenta parece sempre ser maior do que aquele que já foi superado.

É nesse momento que acontece uma espécie de decisão interior.

Prosseguir, pelo que parece ser o insuportável caminho que ainda falta, ou descer, retornando ao ponto de partida, para finalmente poder repousar e encerrar o sacrifício.

A busca por nossas utopias, muitas vezes aparece assim, diante de nossos olhos, não os físicos, mas, sensoriais.

Quanto já percorremos? Rememorando todas as dificuldades parece que muito foi vencido, mas, ao perceber a luta que ainda tem pelo caminho o desânimo é quase automático.

Vale a pena continuar?

Não seria mais fácil descansar, retornar às origens, subir as arquibancadas e apenas torcer pela escalada alheia?

Afinal, para que servem as utopias se estamos sempre em busca sem alcança-las plenamente, perguntaram a Eduardo Galeano, que, de forma serena respondeu que, as utopias servem para nos fazer caminhar.

Se as utopias não são sonhos, mas ideais que se busca transformar em realidade, então, buscamos o cume, a amplitude de nossos ideais com a possibilidade de que jamais sejam atingidos? Vale à pena todo esse longo caminhar?

De certa forma as respostas podem ser muito diferentes umas das outras.

O que moveu jovens de uma geração inteira a lutar contra um exército bem equipado e bem treinado, além de seus mecanismos de repressão repleto de torturas e torturadores apoiados até pelos Estados Unidos?

Sem dúvida era uma luta desigual e impossível de ser vencida, então, o que moveu seus corpos e mentes na ânsia desesperada por uma vitória impossível?

Consta que na Guerrilha do Araguaia, em certo momento, no coração da floresta, um oficial do exército colocou seus homens diante dos corpos de meia dúzia de guerrilheiros mortos e disse que sonhava que, um dia, eles tivessem a metade da coragem e da dignidade daqueles mortos.

O que fez de jovens estudantes universitários que mal conheciam arma de fogo, lutadores tão renhidos a ponto de serem elogiados post mortem por um comandante militar profissional?

Provavelmente a mesma coisa que faz hoje milhões de pessoas se organizarem de alguma maneira para lutar contra o despotismo do congresso/mídia/sistema jurídico... a indignação diante da injustiça.

A vergonha na cara pode mover mundos e empilhar estrelas num cantinho de um universo paralelo e nem todo o poder da máquina de construir mentiras é capaz de ser mais lúcido do que o olhar de um inocente que pede justiça.

Sigamos então, enquanto o tempo não fecha derradeiramente nossos olhos ou curvarem as pernas que movem montanhas.

Lutar é preciso, não para ir para outro ponto, mas para permanecer seguindo em frente.

É a dignidade das utopias que exige mais até do que pensamos ser capazes de fazer.



Prof. Péricles

quinta-feira, 9 de março de 2017

O HOMEM ESCOLHEU O PESADÊLO


Por Maria Lúcia Dahl



Estive pensando muito na minha geração, da qual fui fã e tiete. Admirei e defendi ardorosamente toda a sua virada de mesa dentro de um contexto geral: político, social, sexual, bissexual, feminista, libertário e até na revolução da moda, das saias, dos cabelos, reflexo imediato do pensamento revolucionário.

Mas agora, depois de essa mesma geração estar no poder comecei a repensar nossas atitudes.

Para mim, 68 não tinha erro, embora fosse uma geração experimental e nem toda experiência seja fadada ao sucesso, mesmo que eu continue achando muito melhor tentar do que ficar parado, até prova em contrário.

Quando o pai da minha filha, líder estudantil e exilado político, discursava na Cinelândia, ao lado de Vladimir Palmeira, dizendo: “ Nós vamos tomar o poder”, eu me preocupava, porque os achava jovens demais, sem experiência nem prática, apenas terminando a faculdade.

Então, trinta anos depois, quando finalmente tomamos o poder, pensei: “ agora tudo vai dar certo. Está todo mundo mais velho, mais sábio, mais experiente e amadurecido em suas ideias. O que eu não podia imaginar era que, pelo menos a maioria não pensava mais daquele jeito.

Como posso admitir que alguém vá preso e torturado por um ideal se realmente não acredita nele acima de tudo?

Ninguém é crucificado pra ficar rico, privando o povo de escolas, hospitais, aposentadoria, dignidade. Isso pra mim não bate. Ou se está de um lado ou de outro.

Será que, diferentemente do que eu achava, se tivessem tomado o poder quando jovens, teria sido diferente? Que só jovem tem ideologia? Que com a idade troca-se a ideologia pelo poder? Que a força da grana, como diz Caetano, ergue e destrói coisas belas?

Que éramos apenas sonhadores, como dizia Bertolucci? Libertários na ficção, na imaginação e que a teoria, na prática era outra?

Por um momento fiquei confusa, até constatar que continuo acreditando nos mesmos valores: democráticos, políticos, sociais, bissexuais, feministas, libertários. Continuo acreditando em “liberdade sem medo”, que era o lema de Summerhill, o que havia de mais amoroso e avançado em matéria de educação, continuo acreditando no amor e na paz como condições definitivas para o progresso, continuo apoiando a verdade contra os fingimentos da década de 50, cheios de garçonnières, esconderijos, traições, mentiras.

Mas infelizmente, não acredito mais no ser humano. Não era o pensamento nem o ideal da minha geração que estavam errados, ambos estavam certíssimos, e não tenho dúvidas de que pertencia a uma juventude que queria mudar o mundo de verdade.

Não acho que tenhamos sido apenas sonhadores. Nossa teoria estava certa e o sonho só acabou, como disse Lênin e depois Lennon, porque o homem continua bárbaro e não evolui um segundo da Idade da Pedra, até agora, em matéria de consciência. Prefere a guerra, o desamor e o sofrimento em nome do dinheiro e do conforto.

Mas que conforto, se o feitiço virou contra o feiticeiro?

Quem espalha miséria, sofrimento, escravidão, receberá tudo isso de volta. É a lei do retorno, da consciência, dos atos. Para que vivêssemos em paz, bastaria amar o próximo como a nós mesmos. Por isso acho que não foi Summerhill que errou em dar liberdade sem medo às crianças não é a opção sexual que nos faz melhores ou piores, mas o fingimento, a mentira.

Tudo o que não for verdadeiro sairá do fundo do poço, felizmente sobrando a esperança, como na caixa de Pandora. Basta saber o que fazer com ela.

Porque não foi o sonho que acabou, mas o homem que escolheu o pesadelo.



Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista.

terça-feira, 7 de março de 2017

DO QUE SÃO FEITOS OS SONHOS?


Talvez seja difícil para alguns comentar sobre seus sonhos.

Para outros pode até parecer os sonhos desapareceram com a idade ou diante das preocupações de cada dia.

Alguns, até mesmo, evitam assumi-los ou reconhecê-los.

Difícil é acreditar em alguém que não os tenha.

Do que afinal são feitos os sonhos? Ou melhor, de que matéria são feitos?

O extraordinário William Shakespeare escreveu em 1611, na sua última peça, injustamente menos conhecida, “A Tempestade”, que “somos feitos da matéria dos sonhos”.

Foi assim...

Um poderoso duque de Milão, chamado Próspero, é derrubado do poder num golpe sórdido e covarde liderado por seu irmão Antônio e outros traidores.

Ele e sua pequena filha, chamada Miranda, são colocados num barco sem remos e abandonados à deriva, numa triste noite sem luar.

Mas, pai e filha sobrevivem e chegam a uma ilha completamente desabitada, onde vivem apenas espíritos, isso é, individualidades desencarnadas.

Próspero conhece, entre outros, o espírito Ariel, bom e pacífico, e também Caliban, uma entidade rebelde, vingativa e inquieta. Descobre que tem habilidade para compreender os espíritos e passa a se dedicar a mantê-los sobre suas ordens e influência.

Muitos anos depois ele acredita que chegou a hora da vingança. Provoca, com a interferência dos espíritos, um naufrágio, fazendo com que Antônio, o irmão traidor, Ferdinando, filho do Rei de Nápoles, um dos golpistas que lhe derrubaram, e alguns outros amigos e inimigos chegassem à sua ilha, fragilizados, na condição de náufragos.

Só que as coisas começam a mudar quando Miranda, a filha de Próspero, que desconhecia completamente o passado de seu pai, encontra Ferdinando, e ambos se apaixonam perdidamente.

Entre a vingança e a felicidade da filha, Próspero abandona seus planos, liberta os espíritos e retorna ao convívio dos homens.

No Ato IV, cena I, Shakespeare escreve:

“Criai ânimo, senhor; nossos festejos terminaram. Como vos preveni, eram espíritos todos esses atores; dissiparam-se no ar, sim, no ar impalpável. E tal como o grosseiro substrato desta vista, as torres que se elevam para as nuvens, os palácios altivos, as igrejas majestosas, o próprio globo imenso, com tudo o que contém, hão de sumir-se, como se deu com essa visão tênue, sem deixarem vestígio. Somos feitos da matéria dos sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono”.

Se nós somos feitos da matéria dos sonhos e somos nós aqueles que sonham estes sonhos, tão importante quanto o que eles nos dizem é saber de que parte de nós eles são feitos.

De que parte de Próspero eram feitos seus sonhos? Cravejados de vingança, não sobreviveram ao amor da própria filha. De ódio, certamente, não era.

E você, que lê esse texto? Quais são seus sonhos?

Onde eles sintonizam e qual seu verdadeiro lugar?

Do que afinal, são feitos seus sonhos?



Prof. Péricles



Fonte:

Cadernos de Psicanálise (Rio de Janeiro)
Neyza Prochet

A Tempestade
Willian Shakespeare
L&PM, 2002
Tradução Beatriz Viégas Faria

domingo, 5 de março de 2017

UM NOVO 1968 NOS ESTADOS UNIDOS



Trecho de um ótimo artigo da revista Cult, assinado por Sean Purdy (professor do departamento de História da USP), para nos fazer refletir: .



“A primeira grande mobilização do movimento estudantil nos Estados Unidos aconteceu na Universidade da Califórnia em Berkeley em 1964-1965 sobre o direito dos estudantes de organizar atividades políticas no campus, já que, nos anos 1950, os administradores dessa renomada universidade pública haviam banido tais atividades.



No outono de 1964, estudantes abertamente organizaram atos no campus em solidariedade ao movimento negro para desafiar as proibições. O aluno Jack Weinberg foi preso pela polícia e uma manifestação espontânea de 3 mil estudantes cercou o carro da polícia, proibindo-o de partir por 32 horas.



Por dois meses, estudantes continuaram organizando grandes atos e manifestações sob a bandeira do Movimento pela Livre Expressão. Em dezembro, alunos ocuparam o principal prédio da administração da universidade. A polícia entrou e mais de 700 alunos foram presos. Em janeiro, a universidade suspendeu os líderes da ocupação, provocando uma greve estudantil e manifestações amplas que efetivamente fecharam a universidade. Logo depois, a administração da universidade cedeu e atividades políticas foram permitidas no campus”.



Estamos passando por momento semelhante, com uma difusa insatisfação entre os jovens dos EUA e Europa, cientes de que a crise econômica colocará enormes obstáculos no seu caminho para a inserção profissional e sucesso nas futuras carreiras.



Os avanços autoritários pipocam em várias nações e a recém-iniciada presidência de Donald Trump vai na contramão de quase tudo que é belo, digno e justo na face da Terra, ameaçando tanger a humanidade para uma nova Idade Média ou mesmo para o extermínio (em função de seus desvarios ambientais).



Não é utópico trabalharmos com a hipótese de que os EUA novamente se dividirão entre uma embotada e intolerante parcela reacionária e uma ampla frente comum de pessoas esclarecidas e idealistas, dispostas a deter a marcha para a insensatez trumpiana. Sendo que, desta vez, a correlação de forças não será maioria silenciosa x minoria estridente, mas, provavelmente, meio a meio (não esqueçamos que a o apresentador de reality show só ganhou permissão para tocar o terror graças ao estapafúrdio sistema eleitoral estadunidense, pois foi sua hilária adversária quem obteve maior quantidade de votos).



E, com os rigores que se abatem sobre a Europa, tudo leva a crer que uma escalada de protestos estudantis e outras manifestações de inconformismo contra as políticas de Trump repercutirá instantaneamente no velho continente, alavancando o ressurgimento, em larga escala, da contestação jovem.



Um novo 1968 não só é possível, como pode já estar começando.