Em períodos de exceção como na década de 30 com o crescimento nazista, ou no período militar no Brasil, é muito fácil quebrar a cara quando se deposita esperanças de resistência em individualidades.
Os processos revolucionários são sempre coletivos, jamais individuais.
O autoritarismo não procura apenas eliminar os opositores, busca também coopta-los.
Como o regime detém as formas mais fáceis de promoção pessoal e abre portas com as chaves da truculência, torna-se sedutor apoia-lo tendo em mente o que pode se reverter em benesses pessoais, e não se trata aqui, uma questão de dinheiro, mas de estima.
O nazismo perseguiu intelectuais que o combatiam, mas antes, tentava traze-los para o seu lado, seduzindo-os de todas as formas além do econômico. Com alguns obteve exito, com outros não.
A mesma coisa foi feita pelo franquismo, salazarismo, etc.
Médice tornava-se muito mais simpático fazendo embaixadas depois de garantir prêmios vultosos aos atletas campeões da Copa de 70.
Por isso, é saudável que aqueles que contestam a dominação pela força não se entusiasmem em demasia pelos lampejos da intelectualidade. O desencanto mora ao lado enquanto os autoritários e todo seu poder de criar carismas tiverem como comprar simpatias.
É claro que dói profundamente ver um intelectual até então identificado como opositor de tudo de errado que está acontecendo na vida política brasileira, na mesa em alegre confraternização com um juiz identificado com essa situação.
É duro e desagradável, mas não pode ser considerado uma surpresa.
Bom mesmo é evitar julgamentos definitivos e acreditar que as luzes individuais podem ser maiores que as trevas de nossas pequenezas. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato e onde seus interesses individuais podem se tornar maiores que os coletivos.
Melhor a brandura de aceitar que essa lógica do opositor que se torna simpatizante como sendo um fenômeno universal no mundo das lutas pela democracia e pela justiça que invade a vida privada dos que se destacam e se tornam ícones de alguma forma de resistência.
Todo aquele que embasa sua opinião sobre ideias verdadeiros de igualdade jamais aceitará mudar de time.
Quem não tem esses ideais terá outras prioridades.
Aos que lutam pela verdade as compensações as vezes chegam em conta-gotas e as decepções à granel.
Prof. Péricles