Um Farroupilha |
José Antônio Flores da Cunha foi um importante político e militar do Rio Grande do Sul da primeira metade do século XX.
Era um dos homens de confiança do velho caudilho Borges de Medeiros que governou o Rio Grande do Sul por quase trinta anos.
Ele e Getúlio Vargas traíram o velho no Pacto de Pedras Altas, em 1923 afastando-o da vida política gaúcha.
Aliás, a relação entre Flores da Cunha e Getúlio Vargas foi do amor ao ódio extremo.
Vitoriosos na Revolução de 30, Getúlio foi para a Presidência do Brasil e nomeou Flores interventor no estado do Rio Grande do Sul, cargo que exerceu até o golpe do estado novo de 1937, quando Getúlio se tornou Ditador e então, os dois romperam para sempre.
Flores da Cunha se opôs à Ditadura Varguista, foi destituído do cargo de interventor, perseguido, exilou-se no Uruguai e, mais tarde, acabou tramando contra a própria vida do ditador, sendo preso na Ilha Grande.
Era uma figura ímpar, com uma personalidade marcada, tanto pela sensibilidade que lhe deu fama de chorão, como pela aspereza que o marcou nos campos de batalha das revoluções do Rio Grande.
Adorava jogos, desde baralho até corrida de cavalos e mulheres bonitas.
Ao final da vida não apresentava nenhum patrimônio, apesar de filho de família rica e de muitos anos de poder. Questionado sobre isso por um jovem jornalista Flores teria respondido que teve uma vida plena, porém marcada por mulheres ligeiras e cavalos lerdos.
Conta-se que, certa vez, um paulista jogava animada mesa de pôquer com o general e levava a melhor a cada rodada. A cena era repetida, o paulista recebia as melhores mãos, vencia, recolhia as fichas enquanto Flores da Cunha bufava de raiva.
Em certo momento o centro da mesa está forrado de fichas e Flores dobra a aposta. O paulista desconfia e paga para ver. Flores abre o jogo e mostra uma mistura horrorosa onde nenhuma carta combina com a outra. O visitante abre um largo sorriso e move-se para recolher as fichas, mas é interrompido por Flores que, coloca o revólver em cima da mesa e diz
- Eu ganhei rapaz. Aqui no Rio Grande cinco cartas diferentes uma da outra é chamado de Farroupilha e é o jogo mais alto.
Olhando o revólver, o paulista ficou quieto e achou melhor aceitar os “argumentos” do homem.
No final da madrugada, o jovem apresenta, eufórico, um “farroupilha”. Mas, antes de recolher as fichas é novamente interrompido pelo revólver de Flores que diz
-Não rapaz. Farroupilha é jogo tão importante que só vale um por noite.
Pobre paulista. Não tinha nenhuma chance de ganhar um jogo contra “regras” tão instáveis.
Algo semelhante ao que está acontecendo agora no Senado Federal.
A presidenta Dilma Rousseff não cometeu nenhum crime, nenhum ilícito.
Contra todas as acusações seu advogado já apresentou uma lista de argumentos destruidores que, em termos de legalidade ou de moralidade, não tem nem como contestar.
Porém, tudo já está previamente arranjado e os “argumentos” dos acusadores, embora não sejam um revólver, como do general, são tão ou mais ilícitos e “invencíveis”.
Não se trata de justiça ou moralidade, é um golpe político de soma simples de votos já definidos independente de Dilma ter razão.
O impeachment, instrumento criado para coibir atos ilícitos do presidente da república e retira-lo do poder por improbidade tornou-se mero instrumento político de facções que, unidas, possuem maioria de votos.
Quando as regras mudam o jogo já está jogado. Já está decidido e pronto.
É um jogo sem regras, ou melhor, de regras que variam conforme os interesses de um dos competidores, no caso, em favor dos golpistas.
Assistir um grupo de pessoas comprovadamente comprometidas com desvios de recursos, abuso de poder em causa própria e atos corruptos, julgando uma presidenta que nenhum ilícito cometeu é como ver Al Capone e sua turma julgando os habitantes de Chicago.
Enquanto para Flores da Cunha o azar foram mulheres ligeiras e cavalos lerdos, para o Brasil o azar são, golpistas organizados e povo alienado.
O resultado, a gente já conhece.
Quando as regras mudam o jogo já está jogado. Já está decidido e pronto.
É um jogo sem regras, ou melhor, de regras que variam conforme os interesses de um dos competidores, no caso, em favor dos golpistas.
Assistir um grupo de pessoas comprovadamente comprometidas com desvios de recursos, abuso de poder em causa própria e atos corruptos, julgando uma presidenta que nenhum ilícito cometeu é como ver Al Capone e sua turma julgando os habitantes de Chicago.
Enquanto para Flores da Cunha o azar foram mulheres ligeiras e cavalos lerdos, para o Brasil o azar são, golpistas organizados e povo alienado.
O resultado, a gente já conhece.
Prof. Péricles