segunda-feira, 9 de maio de 2016

A BANALIDADE DO MAL





Exmo. sr. capitão paraquedista reformado
Deputado Jair Messias Bolsonaro (PSC/RJ)

Sou Maria Garcia Meirelles, amazonense de Parintins, mãe de Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto, ex-secretário geral da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), preso, torturado e assassinado na prisão.

Escrevo-lhe porque o senhor matou meu filho outra vez no domingo passado, em sessão da Câmara de Deputados, ao fazer uma apologia do crime exaltando seu colega de armas, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador e assassino reconhecido, responsável por 60 mortes e por mais de 500 casos de torturas cometidos no Doi-Codi entre 1970-1974.

Neste período, capitão Bolsonaro, Thomazinho combatia o golpe militar que rasgou a Constituição, derrubou o presidente eleito pelo voto popular, instituiu a censura e suprimiu as liberdades democráticas. Por isso, em 1970, foi preso e torturado no Doi-Codi. Condenado, cumpriu pena. Libertado dois anos depois, teve que se esconder. Foi aí que viajei ao Rio para encontrá-lo, na clandestinidade, levando um pouco do sabor de sua infância – uma paçoquinha que eu mesma fiz no pilão e que ele gostava tanto.

Nosso encontro foi numa noite de fevereiro de 1973 em Copacabana. Senti dor imensurável ao ver o fruto das minhas entranhas machucado, lanhado, com marcas de tortura e cicatrizes no corpo. Era um pedaço de mim que estava ferido. Provou a paçoquinha e deitou a cabeça no meu regaço, sempre calado, discreto e triste. Eu lhe fiz muito carinho, sem saber que era uma despedida. Essa foi a última vez que o vi.

Meu filho voltou a ser preso em 7 de maio de 1974, quando viajava do Rio a São Paulo, conforme documentos do DOPS/SP e relatório do Ministério da Marinha assinado pelo ministro Ivan Serpa. Cinco anos depois, o nome de Thomazinho constava numa lista publicada pelo Correio da Manhã (03/08/79) com 14 presos mortos pelos serviços secretos das Forças Armadas, mas somente em 1995 ele foi considerado oficialmente desaparecido. O corpo até hoje não foi localizado.

Durante anos, não assumi o luto por meu filho, sempre com a esperança de reencontrar a quem me fez mãe. É que quando ele nasceu, eu também nasci como mãe. Admitir sua morte era, além de amputar uma parte de mim, matar minha maternidade. Meu filho era muito inteligente, doce, educado, generoso. Um príncipe. Todos gostavam dele. Eu não o esqueci nem um minuto, não podia imaginar um amanhã sem ele. Nunca soube de seu paradeiro. Levou tempo para ter a certeza de seu assassinato.

A notícia foi confirmada quatro décadas depois pelo seu colega, capitão Bolsonaro, o ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra, atirador de elite, que escreveu o livro “Memória de uma Guerra Suja” para exorcizar os demônios que o atormentavam. Em entrevista a Alberto Dines, em junho de 2012, no Observatório da Imprensa, ele contou histórias de assassinatos e torturas durante a ditadura militar:

– “Hoje mais uma historia triste para esclarecer é (do) desaparecido político Thomaz Antônio da Silva Meirelles. É…recebi um chamado do coronel Perdigão e fui ao quartel da Barão de Mesquita (…) Ali o coronel Perdigão me entregou um corpo num saco preto, né, (…), quando chegou em Campos abri o saco, vi que se tratava de um homem aparentando ter mais ou menos 40 anos. E muito machucado, ele estava apenas vestido com um calção, não tinha as unhas das mãos, estavam arrancadas, o rosto bem desfigurado pelas torturas, com sinais de queimaduras…”.

A brutalidade da cena agride a humanidade. Quanta dor! Não desejo esse sofrimento para ninguém, capitão Bolsonaro, nem para dona Olinda – a sua mãe, nem para Michelle – sua esposa, nem para qualquer um de seus filhos – Eduardo, Flávio, Carlos, Renan e Laura. Ninguém merece isso, nem mesmo um execrável torturador. No meio da barbárie, luto para preservar minha humanidade. Vocês tiraram duas vidas: a minha e a do meu filho. Aconselhada a pedir indenização, não o fiz. O que queria era a verdade, nada mais, saber o paradeiro do meu filho em cujo túmulo em lugar desconhecido não pude colocar uma flor ou acender uma vela.

O assassinato de Thomazinho como de tantos outros foi uma extrema covardia. Ele estava preso, desarmado, legalmente sob proteção do estado. Os assassinos, com salários pagos pelo contribuinte, envergonham o Exército nacional por praticarem um crime abjeto contra a humanidade, conforme definido pelo Direito Internacional. Como pode um ser humano se degradar tanto a ponto de torturar ou de apoiar a tortura? O senhor defendeu a tortura cometida por um coronel armado contra Dilma Roussef, uma mulher indefesa.

A sua declaração de voto, capitão Bolsonaro, revela covardia, que não me surpreende, pois o senhor é um notório agressor profissional de mulheres. Ofendeu Maria do Rosário (PT-RS) quando ela defendeu a Comissão da Verdade, insultou Benedita da Silva (PT-RJ), ameaçou a advogada indígena Joênia Wapichana, a cantora Preta Gil, a ministra Eleonora Menucucci (PT/MG), a senadora Marinor Brito (PSOL-PA) e até Marta Suplicy (PMDB/SP) quando ela defendia projeto de lei que criminaliza a homofobia. Tudo isso escancaradamente, publicamente.

Racista, homofóbico e fascista, a sua declaração em favor da tortura ecoou como o grito necrófilo e insensato de “Viva la Muerte” do general espanhol José Millán-Astray, em 12 de outubro de 1936, criticado por Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca, para quem só um mutilado mental carcomido pelo ódio é capaz de gritar “morra a vida”.

Capitão Bolsonaro, no Congresso do Cunha comandado por um réu no STF, o senhor votou e declarou que votava “sim” porque era a favor da tortura. Mais claro não canta um galo. Sua declaração de voto a favor da tortura me deu a certeza de que aquilo que está acontecendo no Brasil é mesmo um golpe. O Fora Dilma equivale a um Fora Thomazinho e Fora todos aqueles que combateram o outro golpe, o de 1964.

Tenho pena do senhor pela besta-fera em que se transformou. Morro de vergonha de vê-lo representando parcela do povo brasileiro no Congresso Nacional. Se viva fosse, diante de tanta afronta e de tanto escárnio, me sentiria representada pela reação do deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ) e pela ação atribuída à torcida do Corinthians na montagem da foto que circulou nas redes sociais.





Carta “psicografada” de dona Maria Garcia Meirelles, falecida em 1999.

sábado, 7 de maio de 2016

DIA DAS MÃES E O DIREITO DA DESPEDIDA


No dia das mães lembro de Zuleika.

Em 14 de abril de 1971, pouco antes dela completar 50 anos, seu filho, Stuart, foi preso pela repressão da Ditadura Militar Brasileira.

Nunca mais foi visto com vida.

Mas Zuleika, que era conhecida no Brasil como Zuzu Angel, nunca desistiu de encontrá-lo, ou, de pelo menos, poder enterrar seu corpo.

Ficou conhecida no mundo inteiro por sua busca de mãe desesperada, tornando-se um símbolo da luta contra os crimes da ditadura.

Chegou a “furar” a segurança, arriscando a vida durante uma visita oficial do secretario norte-americano Henry Kissinger ao apartamento do General de plantão na presidência do Brasil na época, Ernesto Geisel.

Como mães possuem um código próprio, pediu ajuda para outra mãe, a esposa do general Mark Clark, comandante das tropas aliadas na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.

Tudo inútil. As lágrimas de Zuzu Angel jamais secaram e, exatamente cinco anos depois da prisão de Stuart, em 14 de abril de 1976, ela também se tornaria uma vítima da ditadura, sofrendo aquelas mortes estranhas e inexplicáveis de acidente de trânsito, tão ao gosto dos tiranos da época.

Uma semana antes do “acidente” Zuzu deixou na casa do amigo Chico Buarque de Hollanda uma carta em que dizia “se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.

O corpo de Stuart jamais foi encontrado e ainda figura entre os desaparecidos políticos, apesar de ser amplamente conhecido, graças ao testemunho de outros presos políticos da época, o que aconteceu com ele.

Stuart, militante do MR-8 era muito próximo do Capitão Carlos Lamarca, inimigo número 1 da ditadura. Foi torturado desde o momento em que foi preso. Acabou morrendo por asfixia quando teve a boca amarrada a um cano de descarga de um veículo.

Muitas mães, como Zuzu, já morreram sem poder enterrar os restos mortais de seus filhos assassinados nos porões da tortura. Outras, em idade avançada, ainda sofrem de saudades e ainda choram lágrimas de mãe, aquelas lágrimas que, sabemos, são as mais amargas que se pode conhecer.

E  às dores dessas mães, acrescenta-se hoje a dor de assistir elogios à ditadura.

À essas mães sofridas, de todas as lágrimas amargas, a quem foi negado o direito da despedida, o desejo sincero de um dia das mães suavizado pela resignação e a certeza de que a justiça, mais cedo ou mais tarde, aqui ou em outro plano da existência, será feita.


Prof. Péricles

quinta-feira, 5 de maio de 2016

SUPERMAN DE REAÇA AMERICANO A DITADOR SOVIÉTICO


Por Ednardo Pinho

Quadrinhos de super-heróis, historicamente, têm sido considerados produto para entretenimento de crianças e adolescentes, sem qualquer pretensão artística ou intelectual.


Foi assim desde o surgimento do gênero, no fim dos anos 1930, nos Estados Unidos, e quase nada mudou até idos da década de 1980, quando surgiram obras que, por um lado, introduziram inovações técnicas apreciáveis, chamando atenção para a  linguagem quadrinhística, e, por outro, apresentaram desenvolvimentos temáticos com forte apelo junto ao público adulto.

Nessa época, O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, causou furor e devoção ao apresentar um Batman envelhecido, soturno, violento, numa trama efetivamente bem elaborada. Também Alan Moore e Dave Gibbons, com Watchmen, elevaram os quadrinhos de super-herói a um patamar artístico nunca antes atingido ao mostrar uma história altamente realista sobre como poderia ser um mundo em que super-heróis de fato existissem.


E assim começou a operar-se uma mudança no modo como os super-heróis eram vistos pelo público.

Ironicamente, o personagem símbolo de super-herói, o Superman, não teve a mesma sorte que um Batman ou um Demolidor, por exemplo, a de estrelar histórias que tivessem algo a dizer a um público maduro ou a um leitor não aficionado por quadrinhos. O Superman, a despeito de algumas histórias escritas por roteiristas consagrados, parecia um personagem fadado a viver aventuras infantiloides e dramas artificiais.

É que talvez não seja mesmo muito fácil infundir densidade a um personagem superlativamente poderoso e sem sérios dilemas morais, cuja atuação parecia ser sempre uma peça de propaganda de valores associados ao American way of life, aspecto ideológico estudado de maneira cabal por Umberto Eco em Apocalípticos e integrados, cuja primeira edição data de 1964.

O Superman, segundo Eco, batalha sempre pela manutenção do status quo num mundo profundamente injusto e cheio de sofrimento, sem jamais questionar sua conduta. Argumenta o estudioso que um personagem tão poderoso poderia gerar riqueza incalculável, seria capaz de resolver problemas como a fome e a opressão por que passam milhões de pessoas no planeta.

Em vez disso, porém, a luta do herói se dá geralmente em âmbito local, despendendo suas energias no desbarate de quadrilhas de gangsters, assaltantes de banco e coisas do gênero. Por que se limitar a salvar pessoas dos escombros de um desabamento ou evitar o descarrilamento de um trem quando se tem poder para agir em escala cósmica? Por que salvar a humanidade de monstros galácticos sem envidar esforços reais para mitigar o sofrimento humano aqui na Terra?

A resposta é só uma: o Superman nunca age contra as instituições, jamais questiona o establishment social, político e econômico, embora tenha poder para fazê-lo.


Está claro, então, que esse personagem espelha os valores do sistema socioeconômico vigente nas economias capitalistas. A própria mitologia do personagem  já mostra os Estados Unidos como um lugar especial.

Pensemos bem: o Superman é um ser alienígena que foi mandado por seus pais para a Terra a fim de escapar de um desastre em seu planeta natal. A nave que o transportou poderia ter caído em qualquer
lugar da Terra, mas foi aterrissar justamente no interior dos Estados Unidos, onde foi encontrada por um casal que, em tudo, encarna o ideal da pequena propriedade que faz a cabeça do americano médio. Parece natural que, dadas essas circunstâncias, o personagem se haja embebido com os valores desse sistema socioeconômico.

O que aconteceria, porém, se a fatídica nave, na verdade, tivesse ido parar, digamos, na antiga União Soviética? Teríamos então um Super-Homem educado segundo os valores do socialismo marxista e stalinista,  um defensor do comunismo?

Pois essa é a premissa básica de Superman: Entre a foice e o martelo (Superman: Red Son, no original), uma rara história desse personagem que talvez tenha algum apelo junto ao leitor adulto, ou que pelo menos já tenha passado pelo Ensino Médio, ainda que certos cacoetes do gênero a tornem uma história pouco palatável a quem porventura se acostumou a ler Faulkner ou Proust, por exemplo.

A verdade é que críticas como a de Umberto Eco não costumam deixar pedra sobre pedra, e por sua análise não havia mesmo outra forma de se enxergar o Superman a não ser como entretenimento barato para mentes ainda não amadurecidas e pouco exigentes.


De algum modo, então, e seguindo uma tendência mais geral dos quadrinhos norte-americanos em fins do século XX, a de se adequar a um público cada vez mais  adulto, procurou-se dar ao Superman alguma densidade, em tramas um pouco mais elaboradas, em que se esperasse do personagem mais que impedir uma queda de avião ou um assalto, por exemplo.

É nesse sentido que vêm a lume histórias como Paz na Terra, de Paul Dini & Alex Ross, que pretende justamente explicar por que o Superman, poderoso como é, não age de modo a superar os flagelos da humanidade. E é mais ou menos nessa linha conceitual que se insere a citada Entre a foice e o martelo, de Mark Millar e Dave Johnson, história que apresenta uma visão alternativa desse personagem, de maneira que, em vez daquele defensor do American way of life, temos “um super-homem alienígena comprometido com os ideais comunistas”, o “super-homem espacial de Stalin”, o “campeão dos proletários”, sempre disposto a atender a “seus chefes em Moscou”, segundo lemos nas primeiras páginas da história.

Na história, vemos um Superman tornando-se líder do Partido Comunista soviético após a morte de Stálin. Uma vez nesse posto, lança-se a ampliar a influência do Pacto de Varsóvia até que todos os países do mundo se hajam convertido ao modo de produção socialista, com exceção de Estados Unidos da América e Chile.

Segue-se uma era de relativo progresso material, com ganhos expressivos nas áreas sociais em todos os países que adotaram o regime socialista: não havia criminalidade, desemprego ou trabalho infantil, todos tinham direito a suas oito horas de sono por dia, e a expectativa de vida chegava a 120 anos.


A utopia ganha corpo. Tudo isso, porém, a um preço altíssimo. O Superman erigira-se não apenas líder, mas déspota, ditador, atuando com um Big Brother orwelliano em escala planetária. Não chegava aos extremos da violência física, mas também isso a um custo, o dos cérebros praticamente lobotomizados para todos os opositores, todos os dissidentes, todos os “desobedientes”.

Sob a liderança de Lex Luthor, o mundo vê a descoberta de uma cura para o câncer e a AIDS, por exemplo, e entra numa espiral de progressos materiais e tecnológicos inauditos. Aqui se tem, como conclusão, o outro lado da moeda: se, sob o comunismo, o que havia era opressão, apesar de alguns progressos econômicos e sociais, sob o capitalismo se produziu muito mais riqueza e conhecimento, com liberdade para o ser humano.


É bem claro o viés ideológico de Entre a foice e o martelo, de sorte que o Superman, mesmo nessa versão alternativa, continua a serviço da representação e propagação de valores caros ao status quo sociedades como a norte-americana.

Logo se vê, dessa forma, que a discussão de temas sociopolíticos resvala paraconcepções um tanto maniqueístas e reducionistas, ainda que estas venham a ser atenuadas pela habilidade dos autores na construção narrativa propriamente dita.


Somente assim se entende, por exemplo, que essa história em quadrinhos seja sucesso na Rússia, apesar das conclusões a que aludimos acima. É que, ao que tudo indica, a figura do Superman permanece ainda um símbolo de poder altamente sedutor, é ainda, como o classificou Umberto Eco, um mito moderno.

Ednardo Pinho, professor de Língua Portuguesa, mestre em Linguística pela Universidade Federal do Ceará, colecionador e estudioso de quadrinhos.



quarta-feira, 4 de maio de 2016

O CREPÚSCULO DEPRIMENTE DE CRISTOVAM BUARQUE



Por Carlos Fernandes

Houve um tempo em que o senador Cristovam Buarque representava uma das raras ilhas de lucidez e coerência em meio a um oceano de hipocrisia, ignorância e estupidez política.


Para ele não importava o problema secular que o país enfrentasse, a educação, e só ela, era a solução definitiva. Não é exagero falar que Cristovam dedicou uma grande parte de sua vida em defesa de uma educação pública inclusiva e de qualidade para todos. Sobretudo para os menos favorecidos.


Durante muito tempo utilizou de sua erudição para divulgar a importância do ensino público, dos profissionais da educação e das políticas governamentais para a democratização do ensino como as cotas raciais e o financiamento público para estudantes pobres em universidades particulares.


É justamente em função desse histórico invejável que Cristovam Buarque é hoje a maior decepção entre os principais traidores da jovem e inexperiente democracia brasileira.


Que víboras como Michel Temer, Eduardo Cunha, Aécio Neves e todos os seus asseclas acampem no pantanoso terreno de um golpe de Estado não é surpresa alguma. Mas alguém com as credenciais de Cristovam Buarque aderir a um expediente tão avesso à democracia e à Constituição Federal é realmente desalentador.


Não é à toa que está em curso no Distrito Federal um dos movimentos mais impressionantes e conscientes de agravo a um político feito exatamente pelos eleitores que o elegeram.


A outrora referência de dignidade, Cristovam Buarque, agora é alvo de uma campanha de “desvotação”. Nem Eduardo Cunha, um energúmeno, conseguiu tamanha desonra.


A revolta com que os cidadãos que votaram em Cristovam acreditando ser ele um porto seguro contra toda essa insanidade é gritante. É enorme a desilusão dos movimentos sociais que o ajudaram durante tanto tempo a estar no lugar de destaque que ocupa atualmente.


As evidências do descontentamento já são claras. O senador foi hostilizado recentemente numa livraria. Entre palavras de ordem, foi obrigado a ouvir de pessoas que provavelmente nutriam grande afeto por ele o estigma de “fascista” e “golpista”.


É inegável que o Brasil de transformou numa grande dicotomia ideológica. Chega a ser deprimente constatar que Cristovam Buarque optou por opor-se ao lado onde se encontram todos os movimentos sociais, todos os partidos políticos de esquerda, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização das Nações Unidas (ONU), toda a imprensa internacional especializada, um vencedor do Pulitzer, um Nobel da Paz e até o Papa mais socialista da história recente da Igreja Católica.


Mais deprimente ainda é constatar que o homem que defendia a educação agora é defensor de um governo ilegítimo que, ao que tudo indica, trará um crápula como José Serra para o Ministério da Educação. Na prática é impor o desastre do governo Alckmin nesse setor a todo o país.


Trocando em miúdos – para não deixar Chico Buarque fora dessa discussão em que o outro Buarque faz um papel tão abjeto – Cristovam nega, descaradamente, Darcy Ribeiro, talvez o maior educador da história desse país.


É imprevisível saber como Dilma Rousseff sairá dessa monstruosidade a que está sendo submetida. Mas uma coisa é certa. Ou Cristovam Buarque retorna urgentemente às suas origens ou um dos maiores perdedores de toda essa história será exatamente ele. Depois, é claro, da democracia e de toda a população brasileira.





segunda-feira, 2 de maio de 2016

CRISE DA LÓGICA


A Lógica se baseia na harmonia de raciocínio, proporcionalidade entre os argumentos e a correta e equilibrada relação e concordância entre todos os termos. 

A lógica discute o uso da racionalidade em alguma atividade.

É discutida principalmente nas disciplinas de filosofia, matemática e ciência da computação.

Atualmente o Raciocínio Lógico é um dos conteúdos mais solicitados em concursos públicos.

“A lógica examina de forma genérica as formas que a argumentação pode tomar, quais dessas formas são válidas e quais são falaciosas. 

Em filosofia, o estudo da lógica aplica-se na maioria dos seus principais ramos: metafísica, ontologia, epistemologia e ética.

Foi estudada com paixão em várias civilizções, principalmente na Índia, na China e na Grécia Antiga.

No Ocidente, quem buscou estabelecer a lógica como disciplina, dividida em formal e material, foi Aristóteles na obra Organon.

Talvez seu estudo tenha faltado nos currículos escolares brasileiros.

Nessa terra de tantas certezas e de tantas convicções, muitas vezes, o que solidifica conceitos não é a lógica.

Assim como os tupiniquins juravam que viram o homem branco botar fogo na água sem conhecer o álcool, muitos nativos ainda acreditam que a TV mostra a verdade, por amor à verdade e sem outros interesses.

Aliás, o que ela mostra se torna a verdade dos fatos para muitos, sem grandes reflexões, mesmo em gente formada e "reformada" em cursos superiores de ensino.

Para que lógica se o moço da televisão falou está falado. Aliás, o mesmo moço que já comparou o telespectador brasileiro a Homer Simpson. Pra que pensar se a TV já traz a interpretação pronta?

Vejamos alguns exercícios de lógica.

Estão expostas duas camisas: verde e vermelha. Fulano diz que não gosta da verde, isso quer dizer que ele gosta da vermelha?

Não. Ao dizer não gostar da verde fulano não está dizendo que gosta da vermelha. São coisas diferentes. A conclusão em relação ao fulano não é lógica é preconceituosa, pois se formula um conceito sobre a referência sem ela ser exposta.

Da mesma forma se alguém diz ser contra lixamentos e justiçamentos pelas próprias mãos não está dizendo que defende o bandido e a violência. Afirmar isso, não tem lógica.

Outro exemplo.

Se um partido se diz defensor da ética, mas vota contra o fim das doações empresariais, discurso e prática estão em flagrante contradição e nenhuma contradição não é coerente.

Ou, se um partido se apresenta como defensor da ética mas é composto por uma imensa maioria envolvida em casos corruptos, algo violenta a afirmação.

Lógica é lógica. É coerência e harmonia.

Harmonia que não existe num Congresso presidido por alguém envolvido em gravíssimas denúncias públicas e que condena uma presidente sem cometimento de ato ilícito algum.

Simplesmente não tem lógica.

Quer saber? Consultemos a razão.

E que se leia Aristóteles.




Prof. péricles

sexta-feira, 29 de abril de 2016

DOS BANCOS QUE NÃO VEMOS



Minha querida colega Maria Alice é uma pessoa muito especial no nosso meio.

Amada por seus alunos, respeitada por seus colegas, preciosa para seus amigos.

Curiosidade de criança é capaz de fazer toda sala de professores rir, mesmo nos piores momentos, com uma simples pergunta.

Capaz de encurralar até um veterano professor de história como eu com questionamentos inéditos e impensados.

Mas, não se conhece todo um tesouro com apenas um olhar, e minha amiga Maria Alice desafia todos os olhares.

E num deles, mesmo que furtivo, somos capazes de descobrir riquezas escondidas nessa professora de português.

Mesmo que ela não aceite, mesmo que ela resmungue, tenha certeza... disfarçado naquele jeito de menina espavitada se esconde uma poetisa de talento e teimosia.

No texto abaixo, por exemplo, ela nos fala de algo muito comum e no qual esbarramos com frequência, mas, na pressa de levar os dias para frente, não damos o valor necessário, já que tudo é trivial nesse nosso andar de hoje em dia.

Os bancos das praças e das cidades, estão ali, e não vemos.

Silenciosas testemunhas de tantas juras e de tantos abandonos aceitam humildemente nossa ignorância.

Para eles basta estar ali, onde o teremos sempre que quisermos recostar nossas dores para tomar fôlego diante do caos.

Aos olhos do poeta, entretanto, eles são visíveis como o sol que nos anima.

Leiam o texto, e descubram a poetisa, Maria Alice Mendes, minha amiga.


DOS BANCOS QUE NÃO VEMOS


Os bancos me perseguem.

Aonde vou, eu os encontro. Até no pátio dos hospitais.

Parecem sinais! De que devo parar. E sentar. E pensar. Afinal, quanto tempo me resta?

Por mais que seja, é menos. Bem menos do que já foi. Do que fui. Então, que eu pare.

Que eu repare. Que eu preste atenção. Que eu escute mais uma vez aquela canção.

Que nada mais me passe (como já passou) sem que eu veja, sem que eu perceba que foi uma pena não ver o que eu não vi. E deixar de viver o que não vivi.

Que eu mantenha os meus olhos atentos, pois que ainda há tempo, sim! De reler Os Tambores de São Luiz, de fazer o que não fiz, de dizer o que eu não disse.

Claro que não será como seria, se eu tivesse dito (na hora de dizer).

Mas, e quem sabe?? E a hora não é agora?? Porque agora (e há muitas e muitas horas) eu já me desfiz dos falsos brilhantes, daqueles sonhos que sempre foram muito distantes.

Agora, eu tenho os bancos que vejo (e que fotografo) e tenho um novo retrato de mim.

Acho que vou, realmente, me sentar nesses bancos (e o farei sem culpa).

Se mais não fiz, não fiz porque não pude fazer. Então vou reler nem só Os Tambores de São Luiz, mas toda a obra de Machado de Assis.

E assim vou reinventando a vida, pois que "a vida só é possível, reinventada".

Isso não é um desencanto. É um novo canto, que canto, e me encanto de poder cantar (apesar dos pesares) e dos outros cantares que não deu para cantar.



Prof. Maria Alice Mendes