sábado, 21 de novembro de 2015

A SOLIDÃO DOS REJEITADOS



Nasci numa noite fria, sem lua.

Feio e repulsivo.

Minha própria mãe, Dríope, me abandonou ao ver meu rosto.

Meu pai, Hermes, foi zombado de tal forma pela minha aparência que me proibiu de chama-lo de pai por toda a eternidade.

Na terra dos deuses belos e conquistadores, nasci com pés de bode, chifres e uma barba espessa e áspera.

Desde criança convivi com as galhofas e zombarias. Com o olhar divertido dos fanfarrões reconhecidamente belos.

Só me restava a solidão.

Passei a viver nos campos e nas matas.

Conversava com o sussurrar dos ventos nas folhas mortas, e agradecia a neblina alta que escondia meu rosto dos desavisados.

Minha dor sempre foi imensa e ela contagiou todo o meu reino, dos pastos aos picos mais altos, das matas verdejantes até a restingas e dunas.

 Passei a ser temido por todos os viajantes que tinham que atravessar as florestas à noite, pois na solidão da travessia, quando só ouviam as batidas do próprio coração era comum serem contaminados por minha melancolia e por um medo inexplicável de estar sozinho.

As ninfas zombavam de mim sem a menor piedade.

Por isso, jurei nunca me apaixonar.

Mas fui traído pelo desejo duas vezes.

Na primeira vez me apaixonei por Syrinx que como eu, amava a solidão apesar de bela e encantadora.

Mas, ela preferiu a solidão eterna dos caniços a se entregar a uma entidade bizarra como eu.

Na segunda vez foi pela ninfa Pítis, que era tão bondosa e tinha o coração tão doce que conseguiu ver em mim mais do que a forma deprimente.

Mas Pítis era amada por Bóreas, o maligno vento do Norte que, num acesso de ciúmes soprou com tamanha impetuosidade que jogou minha amada ninfa num precipício sem fim.

Pítis foi transformada por Zeus numa árvore consagrada a mim (Pitis, pinheiro em grego).

Cada vez mais sofrido e isolado fiz uma flauta com sete tubos.

Meu irmão Cupido à abençoou e me disse que seus sons mágicos deixariam enfeitiçadas as mais belas, apaixonadas pela doce música de minha flauta.

Cupido me disse que o coração da mulher, quando enfeitiçado pela paixão, pode achar a beleza na alma de um homem e no seu talento, mesmo que dele nem mesmo o próprio homem suspeite.

Assim passei a jogar no ar os sons de minha dor misturados com a harmonia das saudades de Pítias.

As ninfas dançavam ao meu redor e me seguiam.

Mas, o amor enfeitiçado não é amor verdadeiro e mantive minha jura de nunca mais amar ninguém.

Quem eu sou?

Eu sou Pã, a divindade protetora dos rebanhos. Deus dos bosques e dos pastos. Protetor dos pastores.

Mas também sou o deus dos rejeitados, o senhor da solidão e mestre do amor perdido.

Quando se sentir só, apure seus ouvidos nas janelas de seu quarto.

Se tiver o coração enfeitiçado ouviras minha música no gemido enlouquecido do vento, que como eu, nunca será de ninguém.



Prof. Péricles



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

SÍRIA, A EQUAÇÃO DO INFERNO

Criança Síria se rende ao confundir uma máquina fotográfica com uma arma




País de largas planícies e de desertos, além de altas montanhas, seu relevo facilitou desde tempos remotos a fixação de várias etnias, onde se destacam os curdos, armênios e turcos.

A região era espécie de protetorado da França e se tornou independente, após o fim da segunda guerra mundial, mas precisamente em 24 de outubro de 1945.

Após a retirada das tropas francesas da região, apenas em 1946, o país passou por um período de instabilidade até que em 1963 surgiu um partido poderoso, o Partido Baath, que uniu a maioria dos sírios e deu um golpe, assumindo o poder.

A Síria é inimiga mortal de Israel que, desde 1967, ocupa militarmente, as Colinas de Golan, território sabidamente Sírio e onde os israelenses desenvolveram uma indústria moderna de aços finos, altamente lucrativa.

Ao longo dos anos afastou-se da esfera dos Estados Unidos, tradicional aliado de Israel, aproximando-se da União Soviética, mais tarde Rússia, além da China.

Hafez al-Assad governou de 1970 até 2000, e seu filho, o atual presidente, Bashar al-Assad governa desde então, ou seja, há 15 anos.

Em 18 de dezembro de 2010, na Tunísia, teve início uma série de revoltas de cunho nacionalista e popular, que se expandiria para vários países muçulmanos, denominadas de “Primavera Árabe”.

Em março de 2011, ocorreram revoltas contra Assad e contra o Partido Baath.

Para alguns essas revoltas foram consequência da onda democratizante da Primavera Árabe. Para outros ela foi criada pelos Estados Unidos e aliados dentro da Síria, interessados em derrubar Assad o mais importante aliado da Rússia na região.

Embora o governo Assad se destaque pelo autoritarismo e pela eternização no poder, também se destaca por políticas sociais que lhe davam forte apoio popular.

Talvez, por isso, os rebeldes não obtiveram todo o apoio esperado da população e, assim sendo, não conseguiram derrubar o presidente ou fazê-lo renunciar.

Apoiado por importantes setores da sociedade e também de fora do país (especialmente o Irã), o Presidente manteve o poder, mas não conseguiu aniquilar o movimento de rebeldia.

Diante disso, a Síria vive desde 2011 uma horrenda guerra civil que literalmente destrói o país e massacra seu povo.

De um lado as forças do governo oficial; de outro as forças da “Coalizão Nacional Síria” como passaram a se chamar as forças da oposição.

A “Coalizão Nacional” recebe apoio logístico dos Estados Unidos e da OTAN.

A oposição rebelde é dominada por muçulmanos sunitas enquanto as principais figuras do governo são alauitas.

Essas denominações representam diferentes alas de pensamento dentro da mesma religião (islâmica) sendo que os sunitas (seguem as sunas além do Corão) são tradicionalmente considerados menos radicais e próximos do ocidente, enquanto os alauitas são xiitas, isso é, mais ortodoxos e distantes do ocidente (isso, claro, nem sempre ocorre de forma tão simplista).

A partir de 2013 a situação caótica de um país dividido (acredita-se que o governo tenha poderes apenas sobre 60% da população e 30 a 40% do território) surge o autoproclamado “estado Islâmico”.

O EI surgiu como uma das facções da al-Qaeda de Osama Bin Laden, depois se desmembrou desse grupo. Inicialmente lutou ao lado da oposição contra Bashar al-Assad, mas, nesse ano de 2013 passa a reivindicar um território próprio cuja área é composta por territórios da Síria e uma parte do Iraque.

Em junho de 2014 o EI proclama a criação de um Califado e Abu Bakr al-Baghdadi, seu líder, o califa da região.

Califa é o chefe de estado, um governante político e religioso e Califado, uma comunidade muçulmana governada pela sharia (a Lei do Corão) que iam se formando a partir da expansão muçulmana do século VII e VIII.

O primeiro a usar o título de califa foi Abu Bakr, sogro de Maomé após sua morte em 632.

O título de Califa deixou de existir no século XX, principalmente após o fim do Império Turco Otomano em 1924.

Em outubro de 2015 a Rússia anunciou sua participação direta no conflito com ataques aéreos ao Estado Islâmico.

A presença da Rússia preocupa pelos efeitos colaterais que pode ter.

Como aliados de Assad provavelmente aproveitem a oportunidade para atacar também os grupos rebeldes (aliados dos EUA lembra?) e um enfrentamento entre as duas superpotências não seria bom para ninguém.

A Rússia, inclusive, acusa as forças da coalizão EUA-Europa de estarem fazendo “corpo-mole”, não atacando adequadamente o EI, preferindo atacar as tropas leais ao presidente.

Existem ainda fortes indícios que o califado receba do próprio EUA aparato militar para manter os combates.

Os ataques do EI em Paris, são significativos. Eles demonstram que o grupo está sentindo a pressão militar russa já tendo, segundo algumas fontes, perdido cerca de 20% do território que já dominou.

O ataque fora da Síria é politicamente arriscado e militarmente suicida e o EI sabe disso.

Ao optar assim mesmo pela ação, parece ter concluído não haver possibilidade de sustentar a guerra por muito tempo e prepara-se para agir como a Al-Quaeda, ou seja, com ações do tipo guerrilha e fora do Oriente Médio.

Hoje a Síria é expressão do horror.

Com o governo atuante apenas em 40% do território a manutenção dos serviços públicos estrangulou. O respeito aos direitos mínimos da população não são assegurados por nenhuma das forças em conflito.

Abastecimentio de água e provisões, energia elétrica, transporte, etc deixaram de existir enquanto serviços básicos e a população, abandonada à própria sorte sofre com o desabastecimento e os combates que não respeitam nenhum limite geográfico.

Não há mais escolas para as crianças, nem trabalho para os jovens, pois toda a estrutura do país entrou em colapso.

Mais de 2,5 milhões de sírios fugiram para países vizinhos, especialmente Jordânia e Líbano, além de tentarem a fuga desesperada para a Europa (a foto do corpo do menino Aylan, recentemente, chocou o mundo).

Cerca de 500 mil cristãos movem-se com extremo cuidado em uma fuga cautelosa e solitária, pois foram jurados de morte pelo exército do Califa.

Em terra o território convulsionado está repartido entre vários atores: o governo que mantém a fidelidade do exército nacional, armado com equipamentos russos e chineses domina de 30 a 40% do território, especialmente o leste, incluindo a capital Damasco.

Grupos armados da Coalizão Nacional (treinados e equipados pelos Estados Unidos); Forças militares e paramilitares do Estado islâmico e seu califado ao centro e norte.

Grupos armados curdos que habitam o norte da Síria e combatem o EI tendo significativas vitórias; comandos especiais do Irã, também ao norte.

Comandos da Al-Quaeda que dominam a região sudoeste, tropas turcas estacionadas a oeste, na fronteira e determiandas a impedir qualquer aproximação de seu território e tropas israelenses, ao sul, ocupam Golan e impedem qualquer aproximação temendo um envolvimento que poderia ser catastrófico aos seus interesses.

No ar aviões de guerra dos Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia, além de misseis de médio alcance, e conforme recentes informações, misseis de cruzeiro disparados de navios franceses estacionados no Golfo Pérsico.

Por tudo isso, poucas coisas parecem claras na Síria além de que, é muito fácil morrer, enquanto muitas indagações assombram o mundo.

Pilhas de crianças mortas, adultos inválidos, mulheres estupradas e escravizadas compõem seu novo cenário.

Talvez a maior dúvida seja, afinal, como civis ainda sobrevivam no meio do caos e, na equação do inferno, quem é mocinho e quem é bandido nas terras de Alá?



Prof. Péricles


terça-feira, 17 de novembro de 2015

SEXTA-FEIRA 13, A GUERRA VOLTOU À EUROPA

Por Rui Martins


Já tive oportunidade em outras oportunidades de comentar o que era ainda um risco iminente do jiadismo trazer a guerra de atentados à Europa. Esses horríveis e covardes atentados desta Sexta-feira 13 de novembro assinalam o começo de uma longa e dolorosa guerra desfechada pelos fanáticos islamitas jiadistas aos infiéis europeus em nome de Alá, por um califado fiel a uma leitura e aplicação literal do Corão.

Alguns ensaios e ameaças tinham sido feitos na Bélgica e, faz dez meses, houve o ataque e assassinato dos redatores da revista Charlie Hebdo com um objetivo bem definido: punir os humoristas desenhistas autores das caricaturas de Maomé.

Os atentados desta Sexta-feira 13 não tinham um objetivo específico mas visavam aglomerações de pessoas, fosse num estádio de futebol como numa casa de espetáculos ou bares e restaurantes com a intenção de matar cegamente a desconhecidos.

De onde saíram esses novos bárbaros que se comprazem em transmitir imagens de brutalidade e ódio na guerra missionária em que estão empenhados? Da Caixa de Pandora aberta pelos Bushs americanos ao atacarem e destruírem o Iraque de Sadam Hussein, único Estado laico existente na época no Médio Oriente.

Aprendiz feiticeiro, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy quis imitar Bush, enquanto o inglês Cameron quis imitar Tony Blair e assim abriram outra Caixa de Pandora destruindo a Líbia de Kadhafi.

Embora venerados por certos esquerdistas, tanto Hussein como Kadhafi eram ditadores implacáveis, mas asseguravam um certo equilíbrio dentro do mundo árabe-muçulmano xiita ou sunita.

Esse equilíbrio acabou, instalou-se a luta entre os muçulmanos xiitas (o Irã não é árabe, mas persa) e os sunitas, uns subvencionados pela Arábia Saudita outros pelo Irã, surgindo primeiro a Al Qaída e a seguir com autonomia própria, o Estado Islamita ou Daesch.

Infelizmente, a primavera árabe, que muitos imaginavam levar o mundo árabe à democracia, provocou o caos ao deixar entrarem fundamentalistas islamitas entre as legiões de combatentes internacionais na luta contra o ditador sírio Assad.

Assim, entraram na Síria brigadas vindas do Estado Islamita que, ao participarem da guerra na Síria, provocaram a fuga de milhões de pessoas para a Europa, fracionando a União Europeia na questão do dar ao não refúgio a esses fugitivos.

E procuraram conquistar jovens das periferias europeias, marcados pela estigmatização e exclusão social, incitando-os a se tornarem voluntários na luta contra Assad com o objetivo de lhes darem treinamento militar para, ao regressarem à Europa, criarem o clima de terror entre os infiéis europeus.

Mais de quatro mil jovens revoltados, filhos de imigrantes do Magreb (Argélia, Marrocos, Tunísia e Líbia) nos países europeus, encontraram sua fé no fundamentalismo islamita literal do Corão, onde os conceitos de solidariedade e humanidade foram substituídos pela aplicação dos preceitos de uma religião exigente e cruel.

Alguns já foram mortos em combate pela bandeira negra do terror, mas algumas centenas estão regressando aos seus países, depois de um aprendizado prático da guerra como o saber matar sem ter medo de morrer. Não há nessa luta um objetivo social ou político, nos moldes das antigas lutas de libertação contra o colonialismo, mas o retorno a objetivos de dominó religioso comparáveis ao que o Ocidente viveu na Idade Média.

Esses jovens estão de volta e diluídos na população, escondidos e disfarçados entre seus familiares religiosos moderados, irão por em execução sua missão de desestabilizar a União Europeia com séries períódicas de atentados. Difíceis de localizar, podendo agir em conjunto, mas preferivelmente como células independentes, os jiadistas lançaram nesta Sexta-Feira 13 seu primeiro grande e simultâneo ataque.

Alguns eram kamikases, e ao se explodirem com a promessa de irem ao céu de Alá, não deixaram pistas, os outros fugiram e serão difíceis de localizar.

Esses atentados feitos por uns poucos fanáticos serão suficientes para instaurar o caos e desestabilizar a União Europeia.

Hoje a Europa deixa de viver seus longos anos de paz desde 1945, para entrar numa outra época – a da guerra intestina, de atentados ou guerrilhas, que provocarão a insegurança nas populações dos diversos países a começar pela França.

Essa guerra irá fortalecer os movimentos racistas de extrema-direita que elegerão parlamentos e governos. Hoje a Europa mudou, nada mais será como nestes últimos anos, a insegurança vai se juntar à crise econômica e de desemprego. Como os ovos do Alien, eles serão chocados pelos próprios europeus.





Rui Martins, jornalista, escritor. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, pela recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e rádios RFI e Deutsche Welle.


sábado, 14 de novembro de 2015

DILMA E A SÍNDROME DE ESTOCOLMO

Pattie Hearst
No Julgamento



Numa quente manhã do verão de 1973, dois homens invadiram o “Creditbank” em Estocolmo, capital da Suécia. A ação dos assaltantes não deu certo e o prédio acabou cercado pela polícia, resultando num terrível tiroteio.

Impossibilitados de fugir, a dupla de assaltantes fez quatro desafortunados reféns por longos e arrastados seis dias (de 23 a 28 de agosto) de ameaças e negociações  com a polícia.

Para surpresa de todos, ao final das negociações os reféns mostraram-se arredios ao auxilio da polícia e usaram os próprios corpos para proteger os assaltantes de algum atirador de elite. Em seguida passaram a defender publicamente os raptores.

Desde então, essa estranha condição psicológica em que a vítima submetida a longo estresse físico e emocional (quando perde toda esperança de escapar) desenvolve um processo de simpatia, aceitação e dependência da aprovação do raptor, é denominado de Síndrome de Estocolmo.

Segundo especialistas “A princípio, as vítimas passam a se identificar emocionalmente com os sequestradores por meio de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos raptores são frequentemente amplificados porque o refém não consegue ter uma visão clara da realidade e do perigo em tais circunstâncias. O complexo e dúbio comportamento de afetividade e ódio simultâneo junto aos raptores é considerado uma estratégia de sobrevivência por parte das vítimas”.

O caso mais famoso de Síndrome de Estocolmo envolveu Patty Hearts, uma norte –americana hedeira de um verdadeiro império (neta do Roberto Marinho dos Estados Unidos, William Randolph Hearst, magnata das comunicações).

Sequestrada em 04 de fevereiro de 1974 quando estava em seu apartamento com o noivo, pelo “Exército Simbiones”, um grupo de americanos marxistas pirados que se diziam contra o racismo, a monogamia e o sistema penitenciário do país, Patty foi ameaçada de morte, torturada e violentada pelo líder do grupo, Donald DeFreeze.

Depois de libertada do cativeiro, juntou-se aos raptores e passou a viver com eles com novo nome “Tania” em homenagem a companheira de Che Guevara, participando de assaltos e outras ações do bando.

“Tania” e um casal foram os únicos sobreviventes do “exército” quando os outros seis mebros (inclusive DeFreeze) foram mortos em confronto com a polícia em Los Angeles.

Reorganizaram o grupo e executaram mais dois assaltos (um com morte de uma mulher grávida), e finalmente presos em setembro de 1975.

Julgada em março de 1976 foi condenada a sete anos de prisão, mas cumpriu apenas 21 meses, tendo a pena comutada pelo presidente Jimmy Carter, muito amigo de seu avô.

Atuou em alguns filmes, como Cry-Baby de 1990 e alguns seriados de televisão, e hoje, aos 61 anos, vive com Bernard Shaw, seu ex-guarda-costas, com quem teve duas filhas.

A síndrome de Estocolmo pode muito bem ser identificada, por exemplo, no clássico conto de Marie le Prince de Beaumont, "A Bela e a Fera".

O que ninguém esperava é que a Síndrome também se desenvolvesse entre governantes, como parece ser o caso dos governos petistas do Brasil.

Embora eleitos democraticamente por uma maioria de milhões de votos, os governos Lula e Dilma padecem do temor diante da falsa ideia de que não existe escapatória se não houver cumplicidade com os raptores.

Os raptores no caso são a mídia que assumiu uma postura de partido político de oposição e industrializou a forma de divulgar notícias que incluí “vazamento” estratégico de notícias sigilosas ainda sendo investigadas e pirotecnia de vocabulários, presunções de culpa e inocência além de defender ideais claramente golpistas.

Reeleita há um ano, Dilma ainda não conseguiu governar, sequestrada por aqueles que perderam nas urnas.

Estranhamente, os governos petistas reduzem-se no enfrentamento dessas agressões, evitando o debate mais aberto e mantendo programas milionários que beneficiam os “raptores” assumindo uma postura que varia da passividade à cumplicidade.

Querem acreditar que os raptores irão gostar deles e alterar posturas.

Enquanto faz de conta que está tudo bem, a apatia dos governos petistas põem em risco a própria sobrevivência da democracia brasileira.

Militantes, simpatizantes, eleitores, de Dilma e de Lula, muitas vezes ficam perplexos diante da passividade assim como os policiais ficavam perplexos diante de fotos de Patty Hearts com metralhadora na mão, assaltando um banco.

Na última viagem da presidenta aos Estados Unidos, na hora da entrevista coletiva que por lá é disputada à unhas e dentes, Dilma, diante da cara de espanto do presidente Obama, concedeu a uma repórter da Globo fazer a primeira pergunta (coisa que nos EUA representa valorização e reconhecimento por parte da autoridade). Fosse Obama e a repórter da Globo ficaria para a última pergunta e nisso nada haveria de ilegal já que é da preferência da autoridade a ordem das perguntas.

Talvez seja necessário que os governos petistas entendam que a defesa da democracia não implica em ser autoritário. A retaliação, dentro dos parâmetros civilizados, faz parte do jogo de pressão que é a essência da política.

Se Leonel Brizola não erguesse sua voz em defesa da Legalidade, a mesma mídia consideraria correta a tomada do poder pelos militares em 1961.

Se alguém erguesse a voz em favor de Getúlio Vargas em 1954, talvez o presidente levasse seu governo até o fim e ainda vivesse muito tempo.

A mídia brasileira jamais aprovará os governos petistas por mais que os governos petistas tentem ser simpáticos e “amiguinhos” da mesma forma que os senhores da Casa Grande jamais defenderão os interesses da senzala.

A mídia brasileira não é neutra e nisso reside um erro gigantesco dos ingênuos. São grandes empresas com grandes interesses aqui e fora do país, e que, defendem seus interesses antes de qualquer outra coisa.

As concessões sempre serão poucas e a exigência de mais concessões sempre será maior, pois o que a elite brasileira quer mesmo é aquilo que ela sempre teve e não se conforma perder, o poder.

Vale ressaltar que, as vítimas da Síndrome de Estocolmo não se reconhecem dentro do quadro doentio. É comum também no caso de violência doméstica e familiar em que a vítima é agredida pelo cônjuge e continua a amá-lo e defendê-lo como se as agressões fossem normais.

Da mesma forma, os governos petistas e seus mais leais e fervorosos defensores, entendem como normais os planos e golpes contra a democracia brasileira.

Pobre país que não tem nem mesmo a esperança de um Jimmy Carter hipotético que lhe indulte os pecados e que perdeu aqueles que não tinham medo da luta.




Prof. Péricles
















quinta-feira, 12 de novembro de 2015

É O MERCADO, ESTÚPIDO


Por Moisés Mendes



Uma das propostas de resgate de fortunas extraviadas que recebi por e-mail neste ano me desafia a buscar US$ 85 milhões no ICBC, o Banco Industrial e Comercial da China.

É o apelo de sempre: o dinheiro abandonado por um investidor poderá ser meu.

Por que sempre tão longe? Por que não no Equador? De qualquer forma, é tentador. É perto dos US$ 97 milhões que Pedro Barusco, o ladrão avulso da Petrobras no tempo do governo tucano, levou para a Suíça.

Foi a primeira vez que recebi tal convite vindo da China.

Tenho e-mails enviados da Síria, do Sudão, da Líbia, da Tunísia, do Azerbaijão.

Ainda me causa estranheza que a terra de Confúcio seja citada entre os lugares de fortunas sem dono. Até pouco tempo, não havia especulação financeira na China, que aos poucos acabou virando essa coisa estranha, disforme, que ninguém sabe direito o que é.

Fortunas de financistas extraviadas na Índia, na Ucrânia, no Paquistão, tudo bem. Mas na China?

E recebo o apelo na hora em que se anuncia que o país vai quebrar. O mundo aguarda a implosão do comuno-capitalismo confuciano.

O que será do povo comunista que investiu loucamente em ações, quando o povo capitalista ocidental tentava se desfazer das suas? De onde os chineses tiraram que o mercado de ações funciona, se desde 2008 as bolsas do mundo rico estão emperradas?

Seria o fim da superbolha chinesa.

Imagine um chinês ainda agarrado à lembrança de Mao Tsé-tung — e ainda em dúvida sobre o que levou o país a esse estranho capitalismo —, agora falido e com um monte de ações que não valem nada.

A China pode ter seu crash de 29, apenas quatro décadas depois da morte de Mao.

Vou esperar o livro Breve Introdução à História da China, que o professor Carlos Eduardo da Cunha Pinent lança agora pela Sulina, para entender a crise de identidade do capitalismo chinês. Gostaria que o professor me ajudasse a decifrar o ódio que certos jovens liberais brasileiros sentem pela ditadura cubana e a adoração que nutrem pela ditadura chinesa.

Um amigo apressado me disse: é o mercado, estúpido. Cuba não tem mercado, nem mão de obra de graça, nem bagulhos baratos. Cuba, estúpido, só tem médicos.

Pobre Mao Tsé-tung.

O estágio superior do capitalismo está vicejando na sua China. Mao não merece. Nem Confúcio.

E muito menos os nossos velhos liberais.




Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre/RS




terça-feira, 10 de novembro de 2015

O ÉDEN AMEAÇADO

Templo de Palmira foi destruído


Mesopotâmia, terra entre rios. Um dos berços da humanidade.

Terra de muitos povos que surgiram, floresceram e desapareceram, mas deixaram sua marca e seu legado.

Tudo testemunhado pelos rios Tigre e Eufrates e seus vizinhos como a Palestina do Rio Jordão e o Egito, a terra dos faraós.

Ali a humanidade aprendeu a escrever em cuneiformes gravados em tabletes de argila, tão antigos quanto os hieróglifos egípcios.

E foi em escrita hieroglífica que ficou registrado o mais antigo código de leis conhecido pelo homem, o Código do grande rei Hamurabi.

“Eu, Hamurabi, pela vontade dos deuses rei de toda a mesopotâmia...”

Suas velhas cidades assistiram o esplendor de povos que cultuavam o prazer do agora e buscavam fazer da vida o melhor passatempo possível.

Segundo os autores bíblicos foi ali que um dia Deus criou o Jardim do Éden, os homens construíram a Torre de babel e onde duas cidades, Sodoma e Gomorra, foram completamente destruídas pela ira de Deus.

Muitas de suas maravilhas, como os Jardins Suspensos da babilônia já desapareceram, muitas outras ainda são perceptíveis através de ruínas e outras ainda estão para serem descobertas.

Mas a Mesopotâmia e seus arredores fica na região mais conflituosa do globo. O Oriente Médio, mais especificamente o Iraque, destruído pelos Estados Unidos e aliados, a Síria, o Irã, o Afeganistão.

Aqui a perversidade anda de mãos dadas com a intolerância e no rastro de exércitos muito mais cruéis do que foram um dia os Assírios do rei Sargão II, os tesouros de sua história convivem com a ameaça de agressão.

A Rússia há algumas semanas entrou no conflito pois o “faz de contas” dos Estados Unidos de combater o tragicômico EI já ameaçava diretamente o governo de seu aliado Bashar al-Assad.

Sem fazer de contas a aviação russa em três semanas destruiu mais da força militar do EI do que EUA e aliados em mais de ano.

Mas os misseis não distinguem os tesouros humanos de seus objetivos, quando lançados, por isso Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores russo, pede que a UNESCO (órgão da ONU para Educação, Ciência e Cultura), envie peritos para a região para avaliar os danos causados pela guerra ao patrimônio cultural e mapear, com clareza, as regiões de interesse histórico mais importantes e que precisam ser preservadas.

Diga-se de passagem, essa é uma súplica antiga de historiadores do mundo inteiro. 

Historiadores norte-americanos chegaram a entregar por escrito uma carta de recomendação ao presidente Barak Obama, assinalando os pontos mais importantes a serem preservados mas, ao que parece, não foram levados em consideração pelos senhores da guerra.

A questão é urgente como demonstra à demolição do templo de Palmira uma antiga cidade semita de muitas histórias, situada num oásis na província de Homs, a 215 km de Damasco, capital da Síria.

Palmira foi declarada Patrimônio Mundial da UNESCO, mas nem por isso o Estado Islâmico deixou de dinamitar vários lugares, incluindo os antigos templos de Baal (divindade máxima dos mesopotâmios) Marduke e Baalshamin, de onde veio a expressão Belzebaal, ou Belzebu, dos hebreus.

O pedido do Ministro Lavrov tem como base jurídica a Convenção das Nações Unidas de 1954 sobre a proteção de bens culturais em caso de conflito armado.
Os esforços da Rússia para o desenvolvimento das relações culturais entre os países do mundo no âmbito do trabalho da Unesco estão prejudicados por medidas discriminatórias de certos governos para quem os interesses estratégicos e econômicos superam em larga margem os interesses culturais, afirma o Ministro.
Espera-se que os deuses antigos orientem os passos daqueles que, como herdeiros da cultura milenar deixada pelos mesopotâmios, têm a tarefa intransferível de protege-la.


Prof. Péricles