terça-feira, 4 de agosto de 2015

HISTÓRIAS DE NÁUFRAGOS



Após um naufrágio um grupo de pessoas, entre homens, mulheres e crianças, ocupam o mesmo barco e tentam sobreviver na imensidão do mar.

Passado o primeiro dia surgem as primeiras diferenças de opiniões entre eles.

Um pequeno grupo tenta impor sua vontade alegando que a madeira de fabricação do barco foi extraída da fazenda de um tio, por isso, eles produziram mais para todos e merecem hegemonia.

Outro grupo discorda. Afirma que o barco é de todos e que é imoral tentar impor vontades a partir da pseudo-propriedade.

Um terceiro grupo se mantém em silêncio ouvindo as discussões cada vez mais acaloradas de ambos os lados.

Resolvem então fazer uma votação para escolher um líder.

Nos debates que se seguem um dos grupos apresenta suas ideias. Querem racionar a água, mas priorizar as necessidades das crianças e dos mais velhos. Alega também que os que estão remando merecem comer uma porção maior de ração já que estão trabalhando mais e que, seria interessante que outros, que nada estavam fazendo além de especular fossem socialmente mais úteis, por exemplo, adaptando fios e anzóis e para pescar para todos.

O líder do outro grupo alega que não tem ideia nenhuma. Defende que todos devam se abraçar fraternalmente e desenhar corações no barquinho, pois isso os irá salvar. Não tem a menor ideia para onde ir e o que fazer. Na verdade, seu maior argumento (o único) para ser escolhido como líder é que se eleito impediria a vitória do outro incentivando o sentimento de antagonismo, aversão e preconceitos que, ele sabia, existirem de forma natural entre alguns.

O grupo do “abraço, coração e sem ideias” venceu as eleições.

Logo depois o barco afunda tragicamente no meio do oceano e todos, sem exceção são tragados para o abismo.

Estranhamente o grupo que votou pela desgraça não sente o menor remorso ou vergonha. Mesmo diante do último suspiro ainda se acha mais esperto e e em seu último suspiro ainda carregava a patética alegria de evitar a vitória “do outro”.

Esse barco se chamava “Rio Grande do Sul”.



Em outro ponto do vasto oceano, outro naufrágio acontece e algumas pessoas sobrevivem num barco.

Nesse barco a história inicialmente, se repete, mas, quem vence a votação pela liderança é o grupo das ideias novas.

A reação do grupo perdedor, porém, é autoritária e rancorosa.

Longe de pular fora do barco que odeiam preferem colocar em risco a segurança de todos.

Reclamam que houve fraude na eleição, mesmo depois dos votos contados e recontados, não aceitam o resultado, boicotam as ações do líder, tentam convencer os demais náufragos que o barco está afundando e que jamais barco algum foi tão malconduzido.

Inconformados passam a fazer de tudo para que o barco afunde.

Se afundar, todos se afogarão, de onde se pode concluir que, para o grupo que não aceita que perdeu a vez é preferível um barco perdido no fundo do mar do que um barco no rumo certo, mas levado por um timoneiro que não seja de seus propósitos.

Esse barco se chamava Brasil.


Prof. Péricles

sábado, 1 de agosto de 2015

A REVOLUÇÃO DOS RICOS


Qual foi a maior importância da Revolução industrial na história humana?

Antes de lembrar a definição mais simples “Revolução Industrial foi a introdução de novas tecnologias (máquinas) e novas fontes de energia (vapor, eletricidade) no sistema produtivo”, vamos refletir.

Qual a primeira consequência de colocar máquinas a fazer o trabalho humano? O fato de que as máquinas fazem mais ligeiro.

E qual a importância de fazer mais ligeiro? Certamente não é a melhor qualidade visto que um produto artesanal pode ser muito melhor que um produto feito pela máquina. Então qual a vantagem de fazer mais ligeiro? O fato que isso representa que se faz mais, em maior quantidade, aliás bem maior quantidade a partir de que as máquinas são aperfeiçoadas indefinidamente e, por isso, sempre fazendo mais e melhor.

Então, a pergunta mais importante: qual a importância de se fazer com a máquina e novas fontes de energia, consequentemente, mais rápido e em maior quantidade? A possibilidade de ganhar mais dinheiro.

Ulalá... eis o mistério da industrialização.

A Revolução Industrial foi uma revolução nas possibilidades de ampliação dos lucros.

Antes da revolução industrial os horizontes da riqueza eram bem mais modestos. O rico era rico mas não era imponderável. As peças de Shakespeare no século XVII eram vistas no mesmo teatro por pobres e ricos. Aliás, eles se conheciam. A diferença era que os pobres levavam as próprias cadeiras de casa.

Depois da Revolução industrial a possibilidade de lucrar e fazer fortuna se ampliou dramaticamente. O rico, ficaria tão rico que se tornaria invisível ao pobre.

Se antes fazendo 10 chinelos por dia o dono dos instrumentos e do capital ficava satisfeito se vendesse 8, depois da revolução, podendo fazer mil por dia, a venda tinha que ser compatível com a produção e consequentemente o dono das máquinas e do capital não se conformaria em vender 8 e ser rico, iria querer vender mil e ser milionário.

O trabalho industrial para funcionar, precisava de mão de obra abundante, matéria-prima mais barata possível e gente que comprasse. Gente, muita, muita gente, pois as máquinas, precisam de gente para opera-las.

Desde o seu primeiro estágio, no século XVIII, a indústria resolveu o problema da mão de obra, transformando artífices em operários. Milhares, milhões de trabalhadores braçais foram enredados nas engrenagens que lhe tiraram os instrumentos e lhe deram um salário.

Para garantir a abundância da oferta de mão-de-obra e assim barateá-la, houve uma pequena revolução na agropecuária inglesa com os enclousures que, a partir da produção intensiva demitiu milhares, liberando-os para o trabalho nas cidades.

Os segredos do processo da feitura do produto se perderam do antigo artesão com a máxima especialização, que ao mesmo tempo que tornava tudo mais rápido, escondeu do simples trabalhador o segredo do preço final do todo.

O artesão que antes, com seus instrumentos fazia todo o sapato, agora trabalhava numa sessão que fazia apenas a sola, por exemplo, e só sobre sola ele entendia e era especialista.

Dessa forma embora a produção tenha se multiplicado a riqueza não foi do estado e de seus cidadãos, mas apenas dos proprietários das máquinas e das fábricas, portanto, uma revolução dos ricos.

(Continua)

Prof. Péricles


terça-feira, 28 de julho de 2015

DO ÓDIO À ESPERANÇA


Por Frei Betto



Sabem os publicitários que uma mentira repetida reiteradas vezes acaba aceita como verdade. É o caso dos sucos de caixinhas, vendidos como “naturais”. E ainda há quem pergunte por que tanta incidência de câncer…

A Operação Lava-Jato presta excelente serviço à nação. Leva corruptores à cadeia e traz à luz bilionárias somas de recursos públicos destinadas a favorecer interesses privados.

Mas por que a Lava-Jato é um samba de uma nota só? Será que houve corrupção apenas no governo do PT? E por que o Judiciário permite o vazamento de depoimentos especificamente centrados no PT? Algum diretor de revista anda corrompendo investigadores da Lava-Jato para obter o conteúdo dos depoimentos dos réus antes que cheguem à Justiça?

O fato é que se criou, no Brasil, um clima de amargura e ódio. Amargura, porque Dilma prometeu na campanha o contrário do que faz agora: não tocar nos direitos dos trabalhadores. O ajuste fiscal desajusta as conquistas obtidas nos últimos 12 anos. Estão de volta a recessão, os juros altos, a inflação e, em consequência, o desemprego, a retração da indústria e o fechamento de lojas. Após 12 anos de avanços, o Brasil dá marcha a ré.

O ódio resulta da falta de consciência política. Quando não se consegue racionalizar uma experiência traumática, o ódio emerge. Por isso se procura terapia quando as emoções são embaralhadas pelo ódio e a visão obnubilada pela sensação de desespero.

Ou se busca uma “saída” no gesto vingativo: o jovem branco que, em nome da supremacia “ariana”, extermina negros em uma igreja, ou o Exército Islâmico que, em nome de Deus, degola inimigos…

Muitos me perguntam se guardo ódio dos torturadores de meus tempos de prisão. Digo com sinceridade: não. Assim ajo, não por virtude, mas por comodismo. Aprendi que o ódio destrói primeiro quem odeia e não quem é odiado. Shakespeare já havia dito o mesmo com mais estilo: “Odiar é tomar veneno esperando que o outro morra”.

O PT promoveu a inclusão econômica de milhões de brasileiros, mas se omitiu quanto à inclusão política. Não politizou a nação. Não organizou os trabalhadores. Não fortaleceu os movimentos sociais. Ao contrário, estimulou o sonho consumista e, agora, é vítima da síndrome da criança impedida de tomar sorvete – a carência gera frustração e raiva.

Resta à sociedade civil descruzar os braços e não esperar dos políticos no poder. É hora de arregaçar as mangas e reorganizar a esperança. Com meros protestos não sairemos dessa depressão cívica. Há que ter propostas.

O Brasil soube dar a volta por cima diante de muitos períodos críticos, tanto na monarquia quanto na República. Precisamos é deixar de lamentar e articular em especial os jovens e os movimentos sociais.


Frei Betto, é escritor.

sábado, 25 de julho de 2015

FRANCO E MADALENA



Ela era filha e neta de espanhóis, mas nascida aqui na querência mais ao sul do Brasil.

Tinha os cabelos negros, pouco abaixo dos ombros e olhos graúdos numa face pálida e linda.

Deveria ser acompanhada por uma placa de trânsito: “curvas perigosas”.

Porque eram harmoniosas, generosas, sonhadoras, mas, extremamente sinuosas.

Na base de tudo isso, um par de pernas que, naqueles tempos de minissaia provocavam a imaginação do mais sem imaginação da turma.

Seu nome era Madalena, Mada para os amigos.

O macharedo parava tudo quando ela passava, e ficava aquele silêncio que fazem os predadores quando uma presa deliciosa aparece em seu território.

O alvo de desejo de 11 em cada 10 marmanjos.

Era difícil achar um defeito naquela filha de Afrodite, pois junto com a escultura brilhava um sorriso derretedor de pedras, um jeito de ajeitar os cabelos que provocava convulsões e espasmos de desejo.

Naturalmente, era também, o alvo do pensamento de seus colegas de turma na faculdade. Quase todos militantes de partidos e organizações de esquerda, proibidas naqueles duros tempos de ditadura e de repressão.

Simpática, simples e inteligente, era quase uma lenda na faculdade, o que, como sempre, provocava o ódio e a inveja do pessoal da engenharia.

Que injustiça, diziam eles, que negavam a nós os “comunistas”, qualquer direito à felicidade, uma mulher dessas fazendo o curso de história.

Mas, se é verdade que a perfeição não existe, também é verdade que nenhuma dor dói mais do que a decepção.

Mada, oh céus, era fã do odiado General Franco.

Francisco Franco, o generalíssimo que liderou os fascistas na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939 e que destruiu a democracia socialista que florescia no país.

Franco, que apoiara Hitler e Mussolini na segunda guerra e que fora responsável por milhares de mortes, prisões e torturas nos longos anos em que governou a Espanha com mãos de ferro até sua morte em 1975.

Não, era insuportável ouvir Mada falando bem de Francisco (Franco).

Para aqueles militantes da esquerda a contradição entre a bela Mada e seu horrendo discurso lembrava Médici fazendo balõezinhos com uma bola e se fazendo de bom moço.

Era uma missão estratégica traze-la para os domínios da razão e às verdades da democracia.

Como ela olhava com um pouco mais de atenção um dos nossos bravos heróis da resistência, formulou-se uma missão de guerra.

Claro que nosso companheiro de lutas que era olhado um pouco mais devagar pelos olhos límpidos de Mada, era a peça chave no nosso plano.

Nosso herói deveria penetrar no território inimigo e após efetivar a conquista, resgatar Mada para “nosso lado”. Muito simples.

Freneticamente, o plano foi elaborado e posto em ação.

Todos passaram a falar maravilhas do nosso combatente fazendo com que as maravilhas chegassem as lindas orelhinhas de nosso alvo.

Nas cervejadas depois das aulas, todas as amigas dela (incluindo algumas detestáveis infiltradas) eram convidadas para ter certeza que ela compareceria.

A cadeira ao lado dela, claro, era estrategicamente reservada ao nosso herói.

E assim as coisas foram indo. Tudo era feito para deixa-los juntos.

Para a felicidade do alto-comando tudo estava dando certo, e a primeira vez que os vimos de mãos dadas comemoramos com abraços emocionados.

E quando soubemos que, aquela noite seria a primeira entre os dois, preparamos nosso íntimo para a vitória certa.

No dia seguinte, todos nós reunidos na faculdade esperávamos pelo nosso guerreiro.

Já imaginávamos Madalena com a camiseta do Tche. Ficaria muito mais linda.

Ele chegou sorridente e acompanhado e ao se aproximar do grupo sentimos um inevitável arrepio ao ver que Mada vestia uma camisa escrito “Viva Franco”.

Passaram por nós de mãos dadas, e antes de dobrar o corredor ainda disse “Até la vista Compañeros”.

Havíamos perdido nosso agente em combate. Para sempre...

Aprendemos que o amor é maior, bem maior, que a ideologia.

Maldito Franco!



Prof. Péricles

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O PRESÍDIO E A CLIENTELA


Por Roberto Malvezzi



O mercado criado em torno de presos e presídios movimenta muito mais grana que a imaginação popular possa ver. Só o mercado de quentinhas servidas aos 715 mil presos no Brasil (4º maior população carcerária do mundo) movimenta cerca de dois bilhões de reais ao ano.

Quando você vai conferir quais empresas fornecem essas quentinhas, muitas delas são de políticos ou de parentes deles, como é o caso dos Perrela em Minas Gerais. Além do mais, essas empresas também são financiadoras de campanhas eleitorais (Os mercadores das cadeias, Carta Capital).

Além do mais, 30 grandes presídios brasileiros estão privatizados. Nesse sentido, cada preso é um cliente. Portanto, presídios lotados são evidências de lucros, presídios vazios são sinais de prejuízos, como em qualquer hotel.

O detalhe é que cada preso em presídio privado é pago com o dinheiro público. A Pastoral Carcerária estimou em R$ 3.000,00 o custo de cada preso privado para o Estado.

Poderíamos investir esse dinheiro em escolas, mas preferimos investir em presídios.

Eduardo Cunha conseguiu reduzir a maioridade penal. Votaram com ele o PMDB, o PSDB, o DEM e outros partidos, gente da oposição e da tal “base aliada”. Sem dúvida, a indústria dos presídios está feliz com eles. Haverá mais clientes para suas empresas.

Não haverá nenhuma redução da violência no Brasil ao se reduzir a maioridade penal. Pelo contrário, vamos fortalecer as facções que dominam os presídios em todo o Brasil.

Ali o preso não tem escolha, ou participa de alguma facção, ou ele e sua família estarão marcados para morrer.

Portanto, nessa votação há interesses econômicos e eleitoreiros, mas nenhum interesse na paz e na justiça. Teremos outras votações antes da decisão final, mas com tantas manobras talvez a razão tenha poucas chances.

Menores de 18 podem cometer crimes hediondos, sim. Mas, em casas de ressocialização muitos são recuperáveis. Nos presídios, nunca. Os congressistas sabem, mas por todos os motivos acima, preferem jogar os adolescentes na jaula dos leões.

Assim o Brasil vai se tornando cada vez mais uma sociedade policialesca, repressiva, mas não de paz.

Como diziam os profetas da antiguidade, ou mesmo os da modernidade – como Gandhi, Luther King, Mandela e Papa Francisco -, a “paz é fruto da justiça”, não dos presídios e da repressão policial.


Roberto Malvezzi é músico, Filósofo e Teólogo.

terça-feira, 21 de julho de 2015

VÍRUS CUNHA



Por Mário Augusto Jakobskind

Os jornalões e os telejornalões estão apresentando o Brasil mergulhado no abismo. As edições diárias mostram um quadro catastrófico, sendo que alguns colunistas não escondem o objetivo de detonar a Presidenta Dilma Rousseff.

O quadro é de crise política estimulada pela mídia conservadora, como pode se verificar através de vários exemplos.

Na edição do último domingo, Élio Gaspari, herdeiro dos arquivos do coronel Golbery do Couto e Silva e do general Ernesto Geisel repete diversas vezes o que tinha dito na edição do dia anterior o presidente reeleito do PSDB, Aécio Neves Cunha.

Élio Gaspari, parecendo ter baixado nele o espírito maligno do coronel Golbery, perguntou inúmeras vezes em sua coluna se Dilma conseguirá completar o mandato de quatro anos. Golbery, o eterno golpista, não faria melhor.

Na mesma linha, o imortal Merval Pereira diariamente reproduz reflexões que objetivam convencer os leitores que Dilma Rousseff não vai resistir por muito tempo. Para ele, o governo chegou ao fim.

Nos telejornalões o noticiário não fica muito atrás em matéria de apresentar o país em crise violenta e sem perspectiva. É a tal coisa, como o papo catastrófico tem se repetido constantemente, o telespectador acaba convencido de que o Brasil caiu mesmo no abismo.

É a técnica de Joseph Goebbels, o responsável pela propaganda do III Reich nazista com a utilização da técnica de que uma mentira repetida várias vezes acaba virando uma verdade.

Fazendo dobradinha com o noticiário catastrófico, na área política, além de Aécio Neves Cunha, um outro Cunha, o Eduardo, que preside a Câmara, visivelmente passou dos limites. Tornou-se um câncer político a ser removido. E sob pena de se não o for acabar tornando-se uma metástase que fere de morte todo o corpo político.

Os dois Cunhas, segundo o noticiário, têm se encontrado, o que é um mau sinal para a democracia brasileira.

Neves Cunha até hoje não se conforma com a derrota sofrida no segundo turno presidencial, em outubro do ano passado. Já o presidente da Câmara dos Deputados conseguiu, através de manobra torpe que os parlamentares aprovassem, mudando de opinião em menos de 12 horas, a redução da maioridade penal para 16 anos.

Eduardo Cunha subverteu o regimento que impede a votação de um projeto derrotado numa mesma legislatura. Graças a esse jogo sujo, a vingança venceu e se isso prevalecer na votação no Senado e novamente na Câmara, os menores entrarão nas prisões com canivetes e facas e lá vão se especializar no uso de revólveres e metralhadoras.

A manobra de Cunha, segundo o próprio, teve por objetivo satisfazer a opinião pública apoiadora da redução da maioridade penal por estar envenenada pelo espírito de vingança, com o apoio da mídia conservadora.

Na verdade, Eduardo Cunha se empenhou em causa própria, porque em sua campanha, segundo a revista Galileu, ele obteve financiamentos empresariais dos mais diversos, inclusive da Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), produtora e comercializadora de cervejas. Ambev, por sinal, de propriedade de Jorge Paulo Lemann, acusado de financiador de um esquema golpista.

Nesse sentido, cabe uma pergunta que não quer calar: sendo Eduardo Cunha um notório evangélico, como se explica ele ter aceitado que uma entidade cervejeira tenha doado um milhão de reais para a sua campanha? Pode ser que para neutralizar esse apoio Cunha tenha aceitado, como consta também da Galileu, 550 mil reais da Coca Cola e assim sucessivamente.

Como se não bastasse, ainda segundo a revista Galileu, Eduardo Cunha em abril do ano passado foi o relator de uma medida provisória que perdoava dois bilhões de reais dos planos de saúde. E meses depois o mesmo Cunha recebeu para a sua campanha doação de 500 mil reais por parte da Bradesco Saúde e Vida e Previdência, um dos maiores planos de saúde do Brasil.

Eduardo Cunha, como Aécio Neves Cunha, tem um objetivo primordial, o poder a qualquer preço. Eduardo agora quer porque quer que o Parlamentarismo volte à ordem do dia, não bastasse a rejeição dessa forma pelos eleitores em duas oportunidades, em 1963 e na década de 90.

É por aí que passa a atual crise brasileira, que remete (como farsa) também a 1954 e 1964, quando empresários e militares se uniram, primeiro para detonar Getúlio Vargas, golpe evitado com o sacrifício heróico do Presidente e dez anos depois com a derrubada do Presidente constitucional Jango Goulart.

Aí, vale repetir, esteve em cena o Coronel Golbery do Couto e Silva, que doou seus arquivos para o jornalista Élio Gaspari.


Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil).