sábado, 12 de abril de 2014

MACACO CHAPADO


Existem mais mistérios sobre a humanidade do que nossa vil hipocrisia pode supor.

Veja o caso das teorias sobre nossa ancestralidade e o que nos fez ser como somos.

Ha milhares e milhares de anos atrás, nossos ancestrais eram tão inseguros diante das ameaças que, simplesmente, viviam em cima das árvores.

O australoptecos áureos simplesmente abominava a presença de predadores naturais, e diante de insípida capacidade de pensar, preferia a segurança de fortes galhos acima do solo.

Claro, isso trazia problemas pontuais.

Fazer xixi não era muito difícil para as classes dominantes, que desde aqueles tempos viviam em patamares mais altos. Difícil era para os mais pobres, muitos galhos abaixo.

Sonambulismo era doença fatal, e o marido, simplesmente não tinha como dormir no outro galho.

Um dia, porém, se achando grandinho, nossos tataratatara ancestrais arriscaram uma decidinha no chão. Tipo assim, num momento em que o macharedo achou que era hora de mostrar coragem para justificar a subjugação das fêmeas.

O grande lance, o real maior segredo da humanidade foi justamente, segundo o filósofo norte-americano Terence McKenna, nesse supremo momento de chegada ao solo.

Segundo ele, nossos meninos esfomeados e cansados do mesmo menu de frutinhas e folhas verdes das copas, passaram a comer tudo que estivesse em volta, e um coisa que estava em volta em profusão era um cogumelo tenro e macio, ensopado de psilocibina, uma substância altamente alucinógena.

Para nosso autor filósofo, o caráter alucinógeno influiu de forma decisiva na evolução humana.

De carrapato das árvores, criatura trêmula e medrosa, o homem se tornou o o maior predador da Terra.

Acredita ele que, a substância psicoativa tenha aprimorado as habilidades cognitivas de nossos antepassados e os ajudado a falar, a pensar e a desenvolver habilidades de lógica.

Em seguida, ele controlaria e diversificaria sua dieta, abandonando os cogumelos, que, entretanto, foram fundamentais para seguir em frente.

O australoptecos, segundo essa teoria, chamada nos meios acadêmicos de “Teoria do Macaco Chapado”, desenvolveu-se em tamanha velocidade que pulamos alguns degraus da escala evolutiva, deixando um mistério a ser desvendado.

Talvez isso explique por que o homem teime em construir sociedades distorcidas e irreais, onde a maioria é excluída da riqueza produzida.

Construindo e destruindo na mesma proporção. Sonhando e perdendo sonhos, o homem segue sua estrada de incoerências e contradições, ameaçando destruir a própria terra, algo como derrubar aquela árvore protetora.

Muito distante do Deus que ele mesmo tanto gosta de se imaginar e muito mais próximo de um macaco chapado a civilização humana cada vez mais se parece com um sonho colorido, mas, de despertar muito louco.

Prof. Péricles






quarta-feira, 9 de abril de 2014

FAÇA POR MIM PAPAI


Porto Alegre. Rua Riachuelo número 1355, mas o 1 e o 3 caíram, deixando os dois 5 sozinhos. Prédio velho de quatro andares contando com o térreo. Cada andar com 8 janelas cobertas por persianas de duas folhas que se abrem para fora. Prédio enrugado pelo tempo de onde se entra ou se saí através de uma porta de ferro trabalhada em detalhes como apenas as construções de sua época costumam ser. No centro da porta a frase “Casa do Estudante Universitário, Abrigando Estudantes de todo o mundo”.

Podemos conhecer uma cidade por suas histórias cujos segredos são guardados a sete chaves por prédios como esse da rua Riachuelo, antigamente chamada de rua da ponte.

Aparício Corá de Almeida nasceu em 1906, filho de família abastada, em quarai/RS. Sempre quis ser advogado, por isso, aos 17 anos veio completar seus estudos fundamentais no Colégio Militar de Porto Alegre.

Brilhante orador destacou-se na faculdade de Direito como um líder natural entre os estudantes.

Sempre foi muito preocupado com os outros rapazes de sua idade que, ao contrário dele, eram de famílias humildes e, por isso, vinham para a capital estudar sem as melhores condições financeiras.

Encabeçou inúmeras ações de assistência social e, finalmente, fundou, em 25 de agosto de 1930, a Casa do Estudante de Direito, que ficava na rua Duque de Caxias.

Engajado nas lutas populares daqueles tempos atribulados tornou-se socialista e participou com dinamismo, talento e coragem extraordinária dos movimentos da Revolução de 30 que prometiam novos tempos de liberdade.

Para sua decepção os ventos revolucionários inclinam-se para a direita, com Getúlio Vargas nomeando o General Flores da Cunha, homem reconhecidamente conservador, para governador do estado.

Não diminui sua determinação. Foi preso, apanhou muito, mas seguiu nas suas convicções socialistas e em sua luta.

Em 1935 a Esquerda tenta se opor ao crescente fascismo brasileiro dos integralistas, criando a Aliança Nacional Libertadora, cujo objetivo era impedir que o extremismo chegasse ao poder no Brasil na figura de Plínio Salgado, como chegara à Alemanha, em 1933, com Adolf Hitler.

Numa festa emocionante no Teatro São Pedro, milhares de pessoas aclamaram a Aliança e os aliancistas. Aparício Corá de Almeida foi aclamado primeiro secretário no estado, Dionélio Machado na presidência. Luis Carlos Prestes, o cavaleiro da Esperança seu presidente nacional.

No final daquele ano os comunistas acreditando que Vargas daria um golpe colocando os Integralistas no poder, tentaram dar um golpe primeiro, mas falharam completamente.
Prestes e as principais lideranças caem na clandestinidade. Centenas de comunistas são presos em todo Brasil, a ANL é extinta.

No Rio Grande do Sul ocorreram várias prisões. Dionélio foi preso e torturado.
Mas, o pior, perguntem ao prédio antigo, aconteceu com Aparício Corá.

Na manhã de 13 de outubro de 1935 seu corpo sem vida, foi encontrado numa rua transversal da Voluntários da Pátria, com um enorme ferimento de arma de fogo num dos ouvidos.

Nas investigações da polícia que incluiu testemunhas que posteriormente alegaram nada ter visto, e relatos de pessoas inexistentes, a versão final de que, brincando com o próprio revólver, a vítima disparara contra si mesmo, acidentalmente.

O costumeiro assassinato político acobertado por falso acidente ou falso suicídio.
Aparício Corá de Almeida morreu com 29 anos, no apogeu de seu talento e de sua juventude.

Seu pai, Israel Almeida e a mãe Maria Antônia Corá nunca aceitaram as explicações da polícia, nem se conformaram com a perda do filho amado.

Israel instalou a Casa do Estudante nesse prédio da Rua Riachuelo 1355 que o filho há tempos idealizara como suporte de seu sonho, e o doou inteiro, para a Faculdade do Rio Grande do Sul, com a condição que ele fosse mantido, para sempre como Casa do Estudante, abrigo de jovens que do interior deslocam-se para a capital em busca do sonho de fazer a faculdade.

Até sua morte em 25 de junho de 1961, quando seus amigos empresários lhe perguntavam como podia se desfazer de um bem tão valioso, Israel respondia ser essa a vontade de seu filho. Na última vez que nos vimos, explicava ele, com olhos marejados, sorria ao antever o que seria a Casa do Estudante, e suas últimas palavras, a porta de sua casa, foram, “faça por mim papai”.

Prof. Péricles

sábado, 5 de abril de 2014

145 ANOS DE SAUDADES


Ele nasceu em 3 de outubro de 1804 e morreu (desencarnou, como ensinou) há 145 anos, em 31 de março de 1869.

Professor, pedagogo, tradutor, cientista e pensador em vários ramos do conhecimento, Hippolyte Léon Denizard Rivail, nosso querido Allan Kardec, deixou um rastro de luz a partir da codificação brilhante que fez dos ensinamentos dos espíritos.

Em homenagem aos 145 anos de saudades, entrevistamos o sábio de Lyon, com perguntas que receberam respostas dadas a mais de um século e permanecem extraordinariamente atualizadas.

Confiram...


Blog) Depois de tanto tempo de mutismo, de repente, no século XIX, os espíritos entregaram todos os segredos ao senhor. Por quê?

AK - Os Espíritos disseram que era chegada à hora dos tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, tinham por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.

Blog) Em poucas palavras, o professor Poderia nos dizer por que devemos acreditar em Deus e nos espíritos?

AK - Simples. Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito.

Blog) Mas existem tantas pessoas diferentes na Terra. Gente boa misturada com gente perversa, inclusive de boa condição social e intelectual. Temos visto muita crueldade no mundo. O que o senhor pensa disso?

AK - Para mim, um homem é um homem, isto apenas! Meço seu valor por seus atos, por seus sentimentos, nunca por sua posição social. Pertença ele às mais altas camadas da sociedade, se age mal, se é egoísta e negligente de sua dignidade, é, a meus olhos, inferior ao trabalhador que procede corretamente, e eu aperto mais cordialmente a mão de um homem humilde, cujo coração estou a ouvir, do que a de um potentado cujo peito emudeceu.

Blog) Assistimos atualmente, a proliferação de religiões. Muita fé fervorosa e...

AK - (interrompe com um sorriso)Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente à razão, em todas as épocas da Humanidade.

Blog) Sim, mas todas essas religiões defendem sua fé e dizem que podem levar os fiéis a salvação e felicidade e...

AK) Fora da caridade não há salvação, além do mais, a felicidade depende das qualidades próprias do indivíduo e não do agrupamento religioso.

Blog) Desculpe-me querido professor, mas por que essa exploração sobre a credulidade das pessoas acontece? Por que os bons espíritos não os ajudam?

AK) Os espíritos protetores nos ajudam sim, com os seus conselhos, através da voz da consciência, que fazem falar em nosso íntimo - mas como nem sempre lhes damos a necessária importância...

Blog) Existe alguma maneira segura de se dar bem depois da morte?

AK (risos, de certo pela ingenuidade da minha pergunta) O homem é o árbitro constante de sua própria sorte. Ele pode aliviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça dependem da sua vontade de fazer o bem.

Blog) quer dizer que...

AK - quer dizer que a nossa felicidade será naturalmente proporcional em relação à felicidade que fizermos para os outros.

Blog) Mas, vamos combinar que nos dias atuais está cada vez mais difícil não partir pro tudo ou nada, o Senhor não acha?

AK - O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem. Tudo é um efeito de causa e conseqüência.

Blog) Muita gente ainda tem muito medo de fantasmas. O senhor que conheceu tantos médiuns e assistiu tantas sessões, pode nos dizer se existem fantasmas?

AK - Existem muitos. Por exemplo, a inveja e o ciúme.
Com a inveja e o ciúme, não há calma nem repouso para aquele que está atacado desse mal: os objetos de sua cobiça, de seu ódio, de seu despeito, se levantam diante dele como fantasmas que não lhe dão nenhuma trégua e o perseguem até no sono.

Blog) O professor Rivail, curte algum tipo de entretenimento quando não está envolvido em seus trabalhos intelectuais?

AK - Gosto de música. A Música exerce salutar influência sobre a alma e a alma que a concebe também exerce influência sobre a Música.

Blog) qual, entre tantas frases imortalizadas na obra espírita, é a sua frase preferida?

AK - Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.

Blog) Só aqui, entre nós, como podemos fazer para atrair amigos espirituais, espíritos de luz, enfim, boas companhias do lado de lá e nos afastar dos barra pesada?

AK - Os bons espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorar. Os espíritos inferiores, com os homens viciosos ou que podem viciar-se. Os afins se atraem. Então, a escolha é nossa.

Blog) Para encerrar, o professor poderia nos deixar sua mensagem final?

AK - Nunca, nunca mesmo, façam aos outros o que não quereríeis que vos fosse feito, mas fazei-lhe, ao contrário, todo o bem que está em vosso poder fazer-lhe.

Obs. Todas as respostas foram montadas a partir de frases reais proferidas e/ou escritas por Allan Kardec.


Prof. Péricles

quinta-feira, 3 de abril de 2014

CAMPANHA GOVERNABILIDADE SEGURA



Chega de tantas doenças políticas proliferando em nosso país!

O contágio promovido pela mediocridade é intenso, e atinge principalmente, os mais jovens, que não viveram os dias cinza da Ditadura Militar.

A virulência do conservadorismo é altíssima, sendo disseminado pelas mídias diariamente. O preconceito entra nas casas brasileiras através de vozes suaves de âncoras televisivos, comediantes e especialistas avulsos encomendados e se instala no coração dos desavisados.

Basta de contaminação das novas idéias pelas coisas mais antigas e doentes de nossa política.

Partidos de esquerda, digam não às alianças espúrias.

Não se aliem a velhos coronéis travestidos de um idealismo que jamais tiveram.

Use preservativo contra a corrupção velhaca que nunca saiu do poder.
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Presidenta, não aceite falsificações.

Exija o selo de qualidade de verdadeiras utopias forjadas nos mais caros sonhos da juventude do mundo.

Não distribua seus ministérios a qualquer parceiro. A promiscuidade política de aliados descomprometidos com qualquer projeto popular pode levar à contaminação através da corrupção mais dolorosa.

Verifique antes se ele é confiável, se defende idéias ou apenas nomes.

Desconfie de quem só quer cargos e verifique se sua agenda é de inclusão ou se social, pra ele, significa apenas, eleitor.

Diga não se seu aliado não demonstrar ser ético.

Não faça política sem memória.

Prefira parceiros confiáveis, daqueles que estiveram no mesmo lado da trincheira.

Basta de falsificações.

Basta de aliados oportunistas que votam contra, diante de qualquer carguinho de segundo escalão perdido.

Verifique se eles não trazem o vírus do autoritarismo.

Não aceite gato por lebre, presidenta, nem ande de braço com quem apoiou a Ditadura.

Base de governo não pode se tornar algemas.


Prof. Péricles

segunda-feira, 31 de março de 2014

MODA REAÇA


Por Gregorio Duvivier

Aproveitando essa onda reaça que tá super-mega tendência, a gente está lançando toda uma coleção pra você, jovem reacionário, que quer gastar o dinheiro que herdou honestamente na sociedade meritocrática --apesar dos impostos, é claro.

Pode guardar a camiseta fedida do Che Guevara e raspar essa barba de Fidel. A moda guerrilheira é muito 2002. Quem tá com tudo neste outono é o jovem reaça. A moda é cíclica, gatinhos! Nesta estação, vamos aproveitar o aniversário da revolução democrática e tirar do armário a fardinha verde-oliva do vovô. E o melhor: não precisa nem limpar as manchas de sangue. Superona.

O último grito do outono fascistão é defender os valores tradicionais e ressuscitar velhos chavões: direitos humanos para humanos direitos, bandido bom é bandido morto, Deus não fez Adão e Ivo.

Nossa coleção --que será lançada amanhã, no prédio do DOI-Codi-- foi feita pensando em você, cidadão de bem, branco, católico, heterossexual, rico, com as pernas no lugar, funcionando direitinho. Você é o homem da minha coleção. Olha só esse soco inglês: é a sua cara. Vestiu bem, homem da minha coleção. Combina com sua correntinha.

O homem da minha coleção anda armado e se algum viado der em cima dele ele diz que atira na testa. O homem da minha coleção transa com travesti mas se arrepende logo em seguida e enche a bicha de porrada. O homem da minha coleção casou na igreja com a mulher da minha coleção num casamento celebrado pelo padre da minha coleção, homofóbico, racista e com um sotaque ininteligível apesar de nunca ter saído do Brasil.

A mulher da minha coleção critica periguetes porque elas não se dão valor --chama isso de feminismo. Saia curta, nem pensar. "Depois reclama quando é estuprada..." A mulher da minha coleção acha que mulher gorda devia evitar sair de casa. "Ninguém é obrigado a ver gente obesa."

A mulher da minha coleção finge que não sabe que é traída pelo homem da minha coleção e se vinga estourando o limite do cartão de crédito do homem da minha coleção que por sua vez finge que não sabe e se vinga saindo com outras mulheres da minha coleção.

Nosso it boy, claro, é o coronel Paulo Malhães, torturador chiquerésimo que deu depoimento à Comissão da Verdade usando um puta óculos escuros Prada de aro dourado, onde assumiu ter perdido a conta de quantos cadáveres ocultou. Divo.

Viva a revolução --democrática.

sábado, 29 de março de 2014

CRONOLOGIA DE UM PESADÊLO



Agosto de 1954. Depois de uma crise política fulminante, na madrugada do dia 24, o Presidente Getúlio Vargas, em pleno exercício do poder, se suicida com um tiro no coração. O tiro que matou Getúlio trouxe o povo emocionado às ruas das cidades brasileiras e matou a pretensão já bem articulada de um golpe militar. Frustrados, os golpistas tiveram que baixar as armas e voltar para os quartéis.

Março de 1964, sexta-feira 13. O presidente João Goulart avisado de articulações golpistas tenta, numa manobra desesperada, trazer o povo para as ruas com um comício emocionante e um discurso inflamado e decisivo. Jango anuncia que fará a reforma agrária, nacionalizará as refinarias estrangeiras de petróleo e tronará ainda mais difícil a remessa de lucros das multinacionais para suas sedes, fora do país. O discurso da central do Brasil, para muitos, foi um erro, pois provocou a adesão ao golpe de alguns militares indecisos, o pânico entre os norte-americanos e o ódio entre a classe média conservadora e amiga dos gringos. Outros entendem que o discurso foi um recurso político válido, mas que não deu os resultados esperados.

Março de 1964, quinta-feira 19. Numa demonstração de força virulenta contra o “presidente comunista” a “Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade” em São Paulo, reúnem 500 mil pessoas que bradam por valores conservadores e pela defesa dos interesses das elites daqui e dos poderosos de lá.

Nessa época, a CIA e outros órgãos de espionagem que trabalhavam livremente no Brasil, como se esse fosse seu quintal (e era), disfarçada em entidades fantasmas como o IPE e o IBAD, já haviam reunidos dossiês e “provas” de que o governo João Goulart marchava para o comunismo, que era como eles chamavam qualquer política que dificultasse seus interesses e seus lucros.

Governadores como Ademar de Barros, de São Paulo e Carlos Lacerda “o corvo”, da Guanabara, preparavam o palco para a o golpe militar, que deveriam ser os personagens principais do teatro armado.

Considerando que as marchas davam um recado inequívoco de apoio ao golpe, o comando militar golpista marca a data de 4 de abril para iniciar o movimento, mas o general Carlos Guedes, da Infantaria, afirma que não se faz nada direito em lua de quarto minguante, e a data é remarcada para o dia 8 de abril.

Março de 1964, madrugada do dia 31, terça-feira. Um general golpista que mais tarde se definiria como “uma vaca num salão de cristais”, Olimpio Mourão, num momento de euforia ou de depressão, não se sabe, resolve dar início ao movimento e parte com suas tropas de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro. Castello Branco, marechal respeitadíssimo entre os militares tenta, por telefone, barrar a marcha de Olimpio Mourão, mas, por telefone, é informado pelo governador e conspirador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, que agora, posto na estrada, recuar seria impossível.

Abril de 1964, quinta-feira, dia 2. Reunidos do aeroporto Salgado filho, em Porto Alegre, o ex-governador gaúcho Leonel Brizola, o presidente João Goulart e o General Ladário Lopes, discutem a situação. Enquanto Brizola demonstra uma enorme agitação, “Jango” está perfeitamente calmo. Ouvem os relatos de um golpe militar praticamente sem reação, irritam-se ao saber que o Congresso Nacional numa vil traição à democracia considera o cargo de presidente vago e da aceitação do STF da posse temporário no cargo presidencial de Ranieri Mazilli, presidente do Congresso e estão cientes do apoio ao movimento de tropas e armas dos Estados Unidos escondidos em algum lugar do litoral nordestino. Podem resistir. O general Lopes afirma que há condições de resistência dura, embora não garanta a vitória final.

Brizola e Lopes querem organizar a luta, mas João Goulart termina com a discussão ao afirmar que não irá lutar. Está cansado. Está abatido e decepcionado. Friamente informa aos dois que está indo embora no Brasil e que seu exílio será no Uruguai. Brizola percebe que sem o presidente a luta é impossível.

Abril de 1964, dia 9, quinta-feira. O golpe militar é um êxito completo. Não houve a reação esperada. É editado o AI-1 (Ato Institucional número 1) dando início às cassações de mandatos políticos. Castello Branco é empossado presidente com mandato até 24 de janeiro de 1967. Depois disso, segundo o porta-voz do novo presidente, haverá eleições livres para um novo mandatário e a “revolução” chegará ao fim, já que seu objetivo era apenas derrubar o perigoso comunista João Goulart e seu bando.

1967 chegou e não houve eleições, a ditadura continuou.

Dezembro de 1968, outra vez uma sexta-feira 13, caí a máscara. A farsa de um movimento bonzinho acabou com a edição de um dos mais macabros instrumentos já utilizados como expediente de Lei, o AI-5. Seu teor detinha tamanha repressão e violência aos direitos humanos e ao reconhecimento da cidadania que, na prática, instala o terror de estado no Brasil.

João Goulart morreu no exílio, “o corvo” Carlos Lacerda também. Ladário Lopes e mais de mil militares foram colocados na reserva, presos ou expulsos do exército. Olímpio Mourão continuou uma vaca, Carlos Guedes nunca fez nada de importante em lua de quarto minguante.

O povo brasileiro mingou, gerações inteiras foram amordaçadas e estupradas.
O Brasil passou por uma noite que duraria 20 anos e só começaria a terminar em 1985 com fim do governo do último general-presidente João Batista Figueiredo.

Nessa longa noite o Brasil conheceu a sua pior ditadura.

Mais de 50 mil presos só entre março e agosto de 1964; Aproximadamente dez mil torturados; cerca de 500 mortos por órgãos da repressão e um número incalculável de sequelas como loucura, depressão, suicídios, males físicos que perseguiram suas vítimas até a morte e, a alguns, ainda perseguem.

Março de 2014. O passado está presente em nossa história e precisamos entendê-lo melhor.

Já que não podemos mudar essa história, que não permitamos que ela se repita.

Se não podemos ressuscitar os mortos, devolver a vida e a juventude perdidas por tantos, que se respeite a sua dor.

Prof. Péricles