terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A ILUSÃO DE FAZER PARTE


Quando os Estados Nacionais começaram a surgir, a partir do século XII, a idéia era: a existência de um território demarcado, um povo com alguma identidade cultural nesse território e um governo centralizado, que governasse para todos.

Essa era a proposta contra o decadente mundo feudal, das guerras intermináveis, das pestes sem controle e da fome.

Mas, para que isso funcionasse foi preciso criar uma ilusão.

A ilusão era que todos fariam parte do mesmo jeito, do Estado Nacional.

Ou melhor, todos seriam iguais aos olhos do Rei.

E funcionou.

O Estado Nacional era um estado aristocrático (dos nobres) montado em cima do absolutismo real (o rei era um nobre) e na parceria desse rei com a nobreza.

Povo e burguesia (não confundam os dois) ficaram num patamar abaixo.

A burguesia não se iludiu, porém, aceitou o jogo que naquele momento histórico lhe favorecia, pois era preferível o despotismo do o rei único do que o poder esfarelado e compartilhado por vários nobres.

Já o povo, esse sim, foi iludido.

Homens das letras como Jean Bodin e Jacques Boissue foram fundamentais para a criação dessa ilusão divulgando idéias de “direito divino” do rei.

Como questionar a autoridade do Rei sem questionar a vontade de Deus?

Dessa forma, o pobre era submetido às piores privações e obrigações (como pagar impostos enquanto os ricos não pagavam) porque acreditavam fazer parte dos interesses do rei.

Eram infelizes tanto quanto seus avós no feudalismo, mas faziam parte.

Pobres até ganharam um nome bonitinho... súditos. Todos, independente da classe social, eram súditos do Rei.

Mas, as relações burguesia e rei se deterioraram com o tempo e chegou o momento, nos séculos XVII e XVIII, que a burguesia resolveu assumir o poder, nascendo, o estado burguês.

As Revoluções Inglesas e a Revolução Francesa fazem parte desse momento.

Movimentos encantadores de luta pela liberdade e igualdade, na verdade, ápice da ilusão de fazer parte.

Forjou-se a idéia de que o povo (e não a burguesia) assumia o poder cortando a cabeça do rei tirano.

Iluministas como Rosseau e Voltaire deram vida a conceitos como “igualdade” no caldeirão que deu origem ao sistema mais discriminador de todos os tempos, o capitalismo.

Todos os homens são iguais perante a Lei, ilusão.

Os governos devem governar visando o bem comum.

Ilusão.

Igualdade, liberdade, fraternidade.

Ilusões.

A democracia burguesa é um castelo de cartas marcadas.

Nenhum sistema excluiu mais do que o capitalismo.

A liberdade foi apenas do investimento já que o Rei absolutista perdeu o poder de decidir sobre economia.

Já a igualdade foi só da concorrência liberal.

O mundo é dos espertos dizia minha filósofa vó.

Quem pode mais chora menos, diz a cultura popular.

A corrupção dos outros não é a minha, diz a consciência amestrada que reflete o fazer parte sem fazer parte.

Talvez esse faz de conta seja o início da explicação necessária para se entender porque mais de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos, ou porque 20% da população sofre de depressão crônica, ou porque milhões se drogam e morrem numa outra forma de suicídio.

Diante de uma realidade que enquanto submete milhões à condições miseráveis mantém os privilégios de poucos, que discrimina e exclui com enorme facilidade, resta a pergunta difícil, mas inevitável:

Afinal, fazemos parte do que?





Prof. Péricles

Um comentário:

Beatriz Schröder disse...

Também busco essa resposta!