quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
EU TENHO UM SONHO
A situação racial nos Estados Unidos permaneceu uma chaga aberta por muitas décadas desde a guerra da secessão e o fim da escravidão, especialmente nos estados do sul. Nesses estados a derrota militar acompanhada da derrocada econômica e fim abrupto do seu modo de vida reverteram num grande ódio dos brancos para com os negros.
De certa forma, na mente do cidadão médio do sul dos Estados Unidos, tudo havia sido culpa dos negros. Toda sua tragédia pessoal e econômica era culpa do fim da escravidão.
O ódio daí resultante, fez crescer uma legislação injusta e violenta, um verdadeiro apartheid nas Américas.
Devido à aprovação da 13ª Emenda, era impossível manter a escravidão nos antigos estados da Confederação, mas graças ao federalismo, que desde a criação dos Estados Unidos, predominou na relação entre os estados, várias Leis injustas e agressivas puderam ser aprovadas.
Assim, por exemplo: no Alabama era proibido aos negros sentar nos bancos da frente dos ônibus; no Arkansas crianças negras não podiam estudar nas melhores escolas, reservadas apenas às estudantes brancos; no Mississipi negros não podiam utilizar bebedouros públicos, reservados apenas aos brancos e havia calçadas permitidas o trânsito apenas de brancos, e muitas outras leis segregacionistas.
A luta pela igualdade e pelo fim das leis segregacionistas no país que sempre se propõem a ensinar democracia ao mundo foi árdua e dolorosa. Chamamos de Movimento dos Direitos Civis e se estende do período de 1954 a 1980.
Envolveu rebeliões populares, crises, mortes e atentados, particularmente entre 1955 e 1968.
Nesse momento mais difícil dois caminhos se apresentaram aos negros em busca dos seus direitos: o caminho do confronto e da violência, proposto por grupos como Black Power e líderes como Malcolm X e o caminho da luta através da resistência pacífica, liderado por Martim Luther King.
Chamado por muitos de “O Gandhi Negro”, Martin Luther King, Jr. Era um Pastor Protestante (batista) tornou-se ativista político e uma das maiores lideranças na luta dos negros que ele defendia fosse feita com a não violência e amor ao próximo.
Em 28 de agosto de 1963, cerca de 300 mil pessoas, negras e brancas vindas de todas as partes dos Estados Unidos realizaram a chamada “Marcha Sobre Washington” para pressionar com propósitos de integração racial, direito de moradia digna, pleno emprego, direito ao voto e educação integrada.
Nesse dia, Martim Luther King pronunciou um dos mais belos discursos da história que foi denominado de "I Have a Dream" (eu tenho um sonho). Reproduzimos a seguir trechos desse discurso extraordinário:
"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra (Lincoln), assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. (...)
Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. (...) não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só. (...)
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. (...)
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! (...)
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:
"Livre afinal, livre afinal.
Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."
Martim Luther King foi assassinado com um tiro de rifle disparado por um racista fanático, na noite de 4 de abril de 1968. Tinha 39 anos. Segundo alguns anjos, ele continua sonhando por nós, num mundo mais justo e livre.
Prof. Péricles
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Um comentário:
Me identifiquei tanto neste post, que copiei e colei no FB. Eu também tenho o mesmo sonho de M. L. King
Teu texto como sempre, impecável! Abração amigo querido.
(ah, esqueci de dizer meu esposo Jairo, lê e gosta muito do blog)
Maria Ivony
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