Se dependesse dos adversários, Lula estaria morto. Se possível, teria morrido várias vezes. Tantas quantas as “balas de prata”, os “golpes fatais” e as “bombas atômicas” que acharam que o atingiram.
Semana passada, com as delações de Antônio Palocci, reencenaram o espetáculo da morte de Lula. O script foi rigorosamente cumprido: primeiro, o anúncio de “grandes revelações”; segundo, um interrogatório encenado; depois, a divulgação espalhafatosa, acompanhada da promessa de que o delator ainda tinha “muito a dizer”. No outro dia, o coro dos comentaristas, repetindo que, dessa, Lula não escapava.
Tudo velho. Perdemos a conta de com quantos desses espetáculos o País foi brindado de 2015 para cá.
Na variante adotada com Palocci, o roteiro envolve uma desmesurada prisão arbitrária, mantida até que se quebre a resistência do prisioneiro e ele “confesse”. Os mais sujeitos a ceder e concordar em dizer aquilo que os carcereiros determinam são os de poucas convicções e muito a perder. Quantos milionários já se prestaram ao papel de Palocci? Topam tudo para preservar a riqueza.
Existe outra variante, em que as teatralizações são personificadas diretamente por juízes, promotores e delegados. Vimos muitas, desde os interrogatórios a que o ex-presidente foi submetido à recente sessão de promulgação de sentença. Mas nenhuma superou o ridículo da mise-en-scène do PowerPoint.
Até agora, nenhuma dessas pantomimas foi eficaz. Lula sobreviveu às incontáveis acusações que sofreu da imprensa corporativa, às horas de denúncias do Sistema Globo, às capas de revistas e manchetes afirmando sua culpa. Não morreu a cada prisioneiro que tiraram da cela para recitar a “colaboração premiada”.
Está vivo depois de ser coercitivamente conduzido a depor e de ser objeto dos jogos de cena de promotores. Resistiu à condenação de Sérgio Moro.
Todas as pesquisas mostram que Lula fez mais do que sobreviver. Do ano passado para cá, sua imagem melhorou e cresceram suas intenções de voto. O silêncio da mídia corporativa sugere que seus institutos apontam o mesmo. Terá sido a delação de Palocci a primeira a mudar esse panorama? Os antilulistas têm motivos para comemorar a lastimável exibição a que o ex-ministro se prestou?
Podemos repetir o que afirmamos em julho, logo após a sentença de Moro: “O mais provável é que, no fundamental, as intenções de voto para as próximas eleições tenham mudado pouco: quem se dizia propenso a votar no ex-presidente deve manter a opção. O que significa que o favoritismo de Lula deve permanecer”.
Para o antilulismo, grave não é somente constatar que não consegue erodir o apoio que Lula sempre teve em uma vasta parcela da opinião pública. Pior é perceber que só lhe resta seu próprio “núcleo duro”, a minoria mais conservadora e reacionária da sociedade.
A melhora de Lula em todos os indicadores revela que as pessoas menos politizadas e com menor definição partidária estão sendo a cada dia menos afetadas pelas encenações que lhes são apresentadas. Elas pararam de prestar atenção e de acreditar na cantilena que ouvem.
Uma das razões para isso é a incapacidade do antilulismo no Judiciário, na mídia e no sistema político de comprovar qualquer malfeito do ex-presidente. Falam em milhões e bilhões, mas o máximo que conseguem de concreto é insistir em um apartamento que não é dele e um sítio com churrasqueira e pedalinho. Enquanto isso, são malas de dinheiro correndo de cá para lá, empilhadas em apartamentos.
Lula está bem nas pesquisas e lidera com folga a corrida para a eleição de 2018 porque, para uma proporção majoritária do País, é bom e é melhor do que os outros políticos. A maioria gosta dele e o admira, de muito a alguma coisa, restando 30% que antipatizam com ele. Ao contrário de quase todos os políticos, o saldo entre o que fez de bom e de errado é visto como largamente positivo.
Apenas uma minoria supõe que enriqueceu e se afastou das pessoas comuns. A maioria sabe (ou sente) que sua vida desmente as acusações que os inimigos fazem e, a cada vez que restabelece o contato direto com o povo, como agora na caravana pelo Nordeste, volta a percebê-lo como seu igual.
Para a maioria da população, Lula continua a ser o velho Lula de sempre. Não há espetáculo de juízes e promotores, não há carnaval midiático que mude algo tão simples.
Por Marcos Coimbra