quinta-feira, 23 de março de 2017
QUEM TEM MEDO DE ARTISTA?
Por Wagner Moura
Artistas são seres políticos. Pergunte aos gregos, a Shakespeare, a Brecht, a Ibsen, a Shaw e companhia -todos lhe dirão para não estranhar a participação de artistas na política.
A natureza da arte é política pura. Numa democracia saudável, artistas são parte fundamental de qualquer debate. No Brasil de Michel Temer, são considerados vagabundos, vendidos, hipócritas, desprezíveis ladrões da Lei Rouanet.
Diante de tamanha estupidez, fico pensando: por que esses caras têm tanto medo de artistas, a ponto de ainda precisarem desqualificá-los dessa maneira?
Faz um tempo, dei muita risada ao ver uma dessas pessoas, que se referia com agressividade a um texto meu, dizer que todo bom ator é sempre burro, pois sendo muito consciente de si próprio ele não conseguiria "entrar no personagem".
Talvez essa extraordinária tese se aplicasse bem a Ronald Reagan, rematado canastrão e deus maior da direita "let's make it great again". De minha parte, digo que algumas das pessoas mais brilhantes que conheci são artistas.
Esse medo manifestado pelo status quo já fez com que, ao longo da história, artistas fossem censurados, torturados e assassinados. Os gulags de Stálin estavam cheios de artistas; o macarthismo em Hollywood também destruiu a vida de muitos outros. A galera incomoda.
Uma apresentadora de TV fez recentemente sua própria lista de atores a serem proscritos. Usou uma frase atribuída a Kevin Spacey, possivelmente dita no contexto de seu papel de presidente dos EUA na série "House of Cards".
A frase era a seguinte: "a opinião de um artista não vale merda nenhuma". Certo. Vale a opinião de quem mesmo? Invariavelmente essas pessoas utilizam o chamado argumento "ad hominem" para desqualificar os que discordam de suas opiniões.
É a clássica falácia sofista: eu não consigo destruir o que você pensa, portanto tento destruir você pessoalmente. Um estratagema ignóbil, mas muito eficaz, de fácil impacto retórico. Mais triste ainda tem sido ver a criminalização da cultura e de seus mecanismos de fomento, cruciais para o desenvolvimento do país.
Aliás, todos os projetos sérios de Brasil partiram de uma perspectiva histórico-cultural, como os de Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre.
Ver o ministro da Cultura dando um ataque diante do discurso de Raduan Nassar só faz pensar que há algo mesmo de podre no castelo do conde Drácula. Mesmo acostumado a esse tipo de hostilidade, causou-me espanto saber que o ataque, na semana passada, partiu de uma peça publicitária oficial da Republica Federativa do Brasil.
Sempre estive em sintonia com a causa do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto); fiz com eles um vídeo que tentava explicitar o absurdo dessa proposta de reforma da Previdência.
O governo ficou incomodado e lançou outro vídeo, feito com dinheiro público, no qual me chama de mentiroso e diz que eu fui "contratado" -ou seja, que recebi dinheiro dos sem-teto brasileiros para dar minha opinião.
O vídeo é tão sem noção que acabou suspenso, assim como toda a campanha publicitária do governo em defesa da reforma da Previdência, pela Justiça do Rio Grande do Sul.
Um governo atacar com mentiras um artista, em propaganda oficial, é, até onde sei, inédito na história, considerando inclusive o período da ditadura militar.
Mas o melhor é o seguinte: o vídeo do presidente não conseguiu desmontar nenhum dos pontos levantados pelo MTST.
O ex-senador José Aníbal (PSDB) escreveu artigo em que me chama de fanfarrão e diz que a reforma só quer "combater privilégios". Devo entender, então, que o senhor e demais políticos serão também atingidos pela reforma e abrirão mão de seus muitos privilégios em prol desse combate? E o fanfarrão ainda sou eu?
Se o governo enfrentasse a sonegação das empresas, as isenções tributárias descabidas e não fosse vassalo dos credores da dívida pública, poderíamos discutir melhor o que alardeiam como rombo da Previdência.
Mas eles não querem discutir nada, nem mesmo as mudanças demográficas, um debate válido. O governo quer é votar logo a reforma, acalmar os credores, passar a conta para o trabalhador e partir para a reforma trabalhista antes que o povo se dê conta.
Tenho uma má notícia: no último dia 15, havia mais de um milhão de pessoas nas ruas do país. Parece que não é só dos artistas que eles deverão ter medo.
WAGNER MOURA é ator. Protagonizou os filmes "Tropa de Elite" (2007) e "Tropa de Elite 2" (2010). Foi indicado ao prêmio Globo de Ouro, no ano passado, pela série "Narcos" (Netflix)
terça-feira, 21 de março de 2017
PUCHERO
O Puchero é de uma constituição muito interessante.
Pega-se batata, mandioca (aipim aqui no Rio Grande), cebola, milho, nabo e uma infinidade de outros legumes. Acrescenta-se pedaços de carne de gado ou de ovelha. Bota-se tudo num caldeirão de ferro e deixa-se ferver por tempo indeterminado.
As atividades da festa na fazenda correm solta, rodeio e tudo mais e o puchero lá, fervendo.
Algumas vezes o panelão, onde está toda a mistura é enterrado para ferve sozinho, e a peonada até esquece dele.
Já na parte da noite, para arrefecer o trago, ele é finalmente trazido à mesa.
O que se vê é uma mistura uniforme, uma pasta só, com gosto delicioso e que reúne todos os ingredientes, como uma espécie de sopão.
É um alimento servido muito quente e é muito forte, capaz de sustentar qualquer um por um bom tempo.
Mas, o mais interessante, é que depois de tanta fervura não se distingue mais, com clareza, os ingredientes. Há uma uniformidade de gostos e sabores, num ponto em que ninguém sabe onde acaba a batata e começa o aipim.
Ao longo de eras o Brasil tem sido governado pelas elites ou por representantes dos interesses das elites.
Nesse tempo todo de poder, a corrupção sempre foi uma constante invariavelmente presente nas políticas públicas.
Paridos cujas diferenças são basicamente de siglas se revezaram ao longo dos anos nessa prática perniciosa, as vezes se aliando, apoiando mutuamente ou fazendo oposição de mentirinha.
Essa corrupção endêmica, na coisa pública e na vida partidária, é tão característica de nossa história que o povo sempre falou dela através do deboche das piadas, de forma que nunca foi segredo, no máximo, silêncio conveniente.
Na atualidade, quando a novidade foi a chegada ao poder de um partido de trabalhadores, fundado no final da Ditadura Militar e que jamais havia feito parte do jogo, a estratégia das elites e de sua mais importante superestrutura, a mídia, foi criar e difundir a ideia de que todos os políticos e de que todos os partidos são iguais.
Como um Puchero político. Tudo ferve no caldeirão do exercício do poder e da roubalheira, tudo igual, sem separação entre os ingredientes.
É um sofisma que agrada a direita, pois, se é tudo igual, a esquerda é tão leviana quanto ela e ao povo não cabe se preocupar em conhecer as ideias e diferenciar as propostas, pois é tudo a mesma coisa mesmo.
Agrada também o eleitorado conservador que assim justifica seu voto tacanho com o argumento de que não faz diferença, é tudo igual mesmo.
Só que não.
Não se deve ser levado por essa falsa ideia que uniformiza crimes e criminosos.
A esquerda nunca esteve no poder antes, a direita o exerce desde 1822.
Iguais são as propostas da direita, cuja diferenciação entre seus partidos se faz quase que imperceptível.
Acreditar nisso seria como acreditar que todo aquele que chega a um cargo público ou eleitoral é corrupto pelo simples fato de ter chegado, e convenhamos, acreditar nisso além de injusto é inescrupuloso. Está na raiz do pensamento daqueles que insistem em chamar Lula de ladrão, sem nenhuma prova.
É necessário que nosso sofrido povo diferencie bem os ingredientes.
É possível o exercício do poder através das ideias e ideais, a gente só não estava acostumado a ver isso.
A política não deve ser servida um puchero uniforme, mas como um belo e delicioso prato, onde se distinga bem o filé da carne de pescoço.
Prof. Péricles
sábado, 18 de março de 2017
O ESTUPRO NÃO CHOCA?
Por Débora Diniz
No Dia da Mulher, nada a comemorar
Há alguns sofrimentos que só a ficção nos permite conhecê-los na intimidade de quem sofre.
Foi assim que acompanhei a terrível cena de estupro de Lucy, no livro Desonra de John Coetzee.
Sem a proteção da fantasia foi que acompanhei a perseguição à menina de 11 anos, estuprada pelo padrasto, em alguma cidade anônima na fronteira entre o Piauí e o Maranhão. Sabemos pouco dos fatos, pois além de escandaloso, o caso é escondido.
Em torno de seu corpo e de sua tragédia se lançou a cruzada do aborto: foi mandada embora do hospital para aguardar a gravidez porque não havia mais como protegê-la da leis dos homens.
A menina não tem nome, a família desapareceu.
Dizem que mãe e filha são agora refugiadas em alguma casa abrigo para deixar a barriga da menina miudinha crescer sem que haja mais horror na violência que a acompanhou dos 8 aos 11 anos.
Vou abusar dos adjetivos para descrever essa menina, pois se não a vejo, só a imagino: ela é miudinha, como as meninas nordestinas de cidades sem nome, talvez chochinha como se diz por lá.
Foi só quando o bucho começou a crescer que se deram conta que a menina era violentada. Minha imaginação não permite recitar suas palavras de confidência sobre o padrasto violentador. Só sei que ela deve ter sentido muito medo.
Entre o segredo, a violência e o socorro, a menininha só chegou ao hospital com barriga de 25 semanas de gravidez. Já muito grávida para os protetores da vida de plantão – a menina foi impedida de fazer o aborto legal e, desde então, escondeu-se em lugar que se diz seguro para se fazer mãe em idade ainda infantil demais para um parto.
Se a história teve esse enredo, se a menina é o esqueleto chocho que imagino, são detalhes do real que me faltam, porém importantes para provocar a imaginação fraca sobre quem sofre distante.
Se os embriões e fetos importam, e é verdade que importam, temos uma menina de 11 anos, violentada, estuprada e grávida.
Essa menininha tem que nos importar muito, nos escandalizar até tremer, nos mover para abertamente discutir o direito ao aborto livre dos estigmas que perseguem até os corpos infantis.
No Dia da Mulher, nada a comemorar
Há alguns sofrimentos que só a ficção nos permite conhecê-los na intimidade de quem sofre.
Foi assim que acompanhei a terrível cena de estupro de Lucy, no livro Desonra de John Coetzee.
Sem a proteção da fantasia foi que acompanhei a perseguição à menina de 11 anos, estuprada pelo padrasto, em alguma cidade anônima na fronteira entre o Piauí e o Maranhão. Sabemos pouco dos fatos, pois além de escandaloso, o caso é escondido.
Em torno de seu corpo e de sua tragédia se lançou a cruzada do aborto: foi mandada embora do hospital para aguardar a gravidez porque não havia mais como protegê-la da leis dos homens.
A menina não tem nome, a família desapareceu.
Dizem que mãe e filha são agora refugiadas em alguma casa abrigo para deixar a barriga da menina miudinha crescer sem que haja mais horror na violência que a acompanhou dos 8 aos 11 anos.
Vou abusar dos adjetivos para descrever essa menina, pois se não a vejo, só a imagino: ela é miudinha, como as meninas nordestinas de cidades sem nome, talvez chochinha como se diz por lá.
Foi só quando o bucho começou a crescer que se deram conta que a menina era violentada. Minha imaginação não permite recitar suas palavras de confidência sobre o padrasto violentador. Só sei que ela deve ter sentido muito medo.
Entre o segredo, a violência e o socorro, a menininha só chegou ao hospital com barriga de 25 semanas de gravidez. Já muito grávida para os protetores da vida de plantão – a menina foi impedida de fazer o aborto legal e, desde então, escondeu-se em lugar que se diz seguro para se fazer mãe em idade ainda infantil demais para um parto.
Se a história teve esse enredo, se a menina é o esqueleto chocho que imagino, são detalhes do real que me faltam, porém importantes para provocar a imaginação fraca sobre quem sofre distante.
Se os embriões e fetos importam, e é verdade que importam, temos uma menina de 11 anos, violentada, estuprada e grávida.
Essa menininha tem que nos importar muito, nos escandalizar até tremer, nos mover para abertamente discutir o direito ao aborto livre dos estigmas que perseguem até os corpos infantis.
quinta-feira, 16 de março de 2017
O ELEFANTE E O ÓDIO DESTILADO
Nossa
classe média sofre de co-dependência.
A
co-dependência é um fenômeno doentio que ocorre entre as famílias de
dependentes químicos.
Como
não conseguem livrar o ente amado da dependência, a família, esposa, mãe, pai,
etc. passa a se sentir culpada pelo comportamento doentio e assume
características da própria doença, como se dessa maneira pude se punir.
É
por isso que tantas ex-esposas de alcoolistas, por exemplo, casam novamente com
outro alcoolista.
Na
sociedade brasileira temos uma classe média co-dependente da exploração que ela
mesma sofre por parte de uma das elites mais arcaicas do mundo.
Sabe
que jamais atingirá os andares mais acima, se acha a culpada da própria
covardia e se sente livre da opressão ao oprimir. Por isso, busca fazer com os mais
pobres o que sentem que fazem a si mesma.
E
todos pagamos por isso. E todos somos um pouco doentes também.
Por
isso negro é tão discriminado e pobre viajando de avião ou dirigindo carro
próprio é tão detestado. Co-dependência.
Não
existe cura para a dependência química, mas existe controle, e esse controle só
é possível se o doente não consumir a droga que o domina.
Da
mesma forma, a única maneira de se livrar da co-dependência social é a classe
média abandonar os laços que a prendem aos atavismos que defende.
Não
pode consumir ódio destilado, simples assim.
Já
o pessoal dos andares mais abaixo, tem complexo de elefantinho.
O
elefante, desde pequenino, é amarrado a um pequeno toco que impede que ele saia
pelo circo fazendo estripulias.
Com
o passar do tempo, o elefante cresce, vira aquele animal majestoso, porém,
permanece preso ao pequeno toco do qual ele se livraria com muita facilidade,
caso não guardasse na memória a sua submissão.
E
assim, um enorme animal segue o tempo todo preso a um obstáculo ridículo do
qual não se desfaz por não tentar.
Até
quando nosso povo vai se sentir atado e submisso, desconhecendo a própria
força?
Prof.
Péricles
terça-feira, 14 de março de 2017
A BANCA, A FARSA E A DITADURA INVISÍVEL
O romance 1984 de George Orwell, pseudônimo do súdito nascido na Índia Eric Arthur Blair, lançado em 1949, é uma crítica a Stalin e à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, de modo sutil, a glorificação de Winston Churchill, nome do herói – Winston – do romance.
Logo no início do livro travamos conhecimento da existência do Ministério da Verdade e da Novilíngua, graças aos quais se difundiam lemas governamentais: “liberdade é escravidão”, “ignorância é força”.
Parece ridículo a você, caro leitor, que alguém fosse atingido por tais farsas? Mas outra coisa não lhe é feita, desde os anos 1980, com as palavras e expressões tais como globalização, mercado livre, política ou decisão inevitável, modernização trabalhista, ações indispensáveis, contenção de despesas públicas, superavit fiscal, déficits públicos e baboseiras semelhantes.
A ensaísta e premiada escritora francesa Viviane Forrester publicou, em 2000, Uma Estranha Ditadura (UNESP, 2001) que desmascara a novilíngua neoliberal, que tomou conta de todas as notícias da imprensa, das análises supostamente técnicas e mesmo da academia, como demonstra com precisão e objetividade o filme de Charles Ferguson, Trabalho Interno (Inside Job), lançado em 2010.
Vamos analisar os verdadeiros significados destas palavras, os objetivos desta farsa e, como é óbvio, quem é beneficiado com este reeditado “1984”.
Tomemos um caso concreto – a reforma da previdência social no Brasil. Como já foi sobejamente demonstrado esta previdência é superavitária, mesmo sem a cobrança de milhões de reais devidos por empresas privadas.
O economista J. Carlos de Assis, nas páginas do jornal Monitor Mercantil e em vários blogs e portais virtuais, lançou o desafio a qualquer membro do governo, economista chapa branca ou independente, analista de jornal, rádio e emissora de televisão e doutos acadêmicos para debater com ele o “déficit previdenciário”. Ninguém se ofereceu a este repto que já completa dois meses.
Vejamos alguns elementos desta novilíngua. Primeiro este “pensamento único”, por si já prova do sentido ditatorial, que se autodenomina neoliberal.
Mas significando efetivamente a selvageria do cada um por si, de nenhuma restrição ao abuso, da satisfação de desejo, o mais iníquo, e a competitividade destruidora de pessoas e bens.
Viviane Forrester levantou, para março de 1996, sete grandes empresas multinacionais que tiveram cotações em bolsa elevadas com a divulgação da demissão de empregados. O resultado desta “competitividade” foi transferir o dinheiro de salários para os maiores lucros dos acionistas, um processo de concentração de renda e de expansão da miséria.
Mas a competitividade parece atender a voz divina que manda os ricos ficarem mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Ou você não havia notado esta novilíngua?
Para que serve a economia? Para promover concentração de riqueza ou existência digna para as pessoas?
Em Londres e em Nova Iorque houve manifestações (peço atenção do golpista Ministro da Educação (sic) – “houveram” remete-lo-ia (!) ao ensino Fundamental I) de mestres de escolas de economia em defesa do real estudo desta disciplina, pois, em suas próprias palavras, estava sendo transformada apenas e simplesmente em engenharia financeira.
Mas a imprensa mundial, dominada pela banca (sistema financeiro), fez-se surda e muda.
Outro vocábulo da novilíngua é globalização. Viviane Forrester chama “obra-prima do gênero” farsante.
Escreve esta crítica francesa: “seu nome por si só cobre todos os fatos de nossa época e consegue camuflar, tornando-a indiscernível no interior desse amálgama, a hegemonia do ultraliberalismo: um sistema político que, sem estar oficialmente no poder, comanda o conjunto daquilo que os poderes têm a governar, obtendo uma plenipotência planetária”.
Este avanço da banca à economia, à política, à comunicação social, a toda sociedade já é descrito até por seus executivos e membros de um organismo da banca: o Fundo Monetário Internacional (FMI).
E a imprensa, mesmo quando combate ações da banca, divulga a novilíngua, como se fosse inevitável a discussão nos seus termos e significados. É uma escolha a qual também devemos combater.
Afinal expropriação privada é tirar de alguém, sem que haja interesse público, algo que lhe pertence, seja o salário, no exemplo dado por Viviane Forrester, seja o direito à saúde ou à educação.
Chame-se de déficit público, de custo irrecuperável, de administração perdulária (como se altos juros não fosse o mais perdulário dos gastos públicos), de futura insolvência, como se alardeia às aposentadorias e pensões, sempre é você que está sendo tungado.
Já pensou o caro leitor quem vai receber suas contribuições previdenciárias se não for o Estado? e que garantia você terá da própria permanência da seguradora ou banco daqui a 30 ou 40 anos quando você resolver se aposentar?
É a farsa da banca que nos coloca nesta ditadura da própria linguagem, muito mais difícil de se insurgir do que a da censura, dos tanques nas ruas ou de um Estado totalitário.
É a ditadura invisível que nos oprime neste século XXI. E que os coxinhas, batedores de panela ou simplesmente ignorantes colocaram no Poder no Brasil.
Por Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado
domingo, 12 de março de 2017
DECEPÇÕES A GRANEL
Em períodos de exceção como na década de 30 com o crescimento nazista, ou no período militar no Brasil, é muito fácil quebrar a cara quando se deposita esperanças de resistência em individualidades.
Os processos revolucionários são sempre coletivos, jamais individuais.
O autoritarismo não procura apenas eliminar os opositores, busca também coopta-los.
Como o regime detém as formas mais fáceis de promoção pessoal e abre portas com as chaves da truculência, torna-se sedutor apoia-lo tendo em mente o que pode se reverter em benesses pessoais, e não se trata aqui, uma questão de dinheiro, mas de estima.
O nazismo perseguiu intelectuais que o combatiam, mas antes, tentava traze-los para o seu lado, seduzindo-os de todas as formas além do econômico. Com alguns obteve exito, com outros não.
A mesma coisa foi feita pelo franquismo, salazarismo, etc.
Médice tornava-se muito mais simpático fazendo embaixadas depois de garantir prêmios vultosos aos atletas campeões da Copa de 70.
Por isso, é saudável que aqueles que contestam a dominação pela força não se entusiasmem em demasia pelos lampejos da intelectualidade. O desencanto mora ao lado enquanto os autoritários e todo seu poder de criar carismas tiverem como comprar simpatias.
É claro que dói profundamente ver um intelectual até então identificado como opositor de tudo de errado que está acontecendo na vida política brasileira, na mesa em alegre confraternização com um juiz identificado com essa situação.
É duro e desagradável, mas não pode ser considerado uma surpresa.
Bom mesmo é evitar julgamentos definitivos e acreditar que as luzes individuais podem ser maiores que as trevas de nossas pequenezas. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato e onde seus interesses individuais podem se tornar maiores que os coletivos.
Melhor a brandura de aceitar que essa lógica do opositor que se torna simpatizante como sendo um fenômeno universal no mundo das lutas pela democracia e pela justiça que invade a vida privada dos que se destacam e se tornam ícones de alguma forma de resistência.
Todo aquele que embasa sua opinião sobre ideias verdadeiros de igualdade jamais aceitará mudar de time.
Quem não tem esses ideais terá outras prioridades.
Aos que lutam pela verdade as compensações as vezes chegam em conta-gotas e as decepções à granel.
Prof. Péricles
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