quinta-feira, 20 de outubro de 2016

VAI ACABAR NA FOGUEIRA


Um texto do professor Rogério Cezar Leite irritou profundamente o juiz Sergio Moro, a ponto deste escrever para a redação da Folha de São Paulo questionado a publicação do artigo. No texto, Rogério Cezar compara o magistrado ao frade florentino Girolamo Savonarola.

Savonarola, contemporâneo de Leonardo da Vinci, foi um precursor dos movimentos reformistas. No final do século XV tornou-se mito em Florença, capital do Renascimento.

Atacava qualquer tipo de prazer, condenava a riqueza, o sexo (principalmente a variedade homossexual), a perda de tempo. Criou a "fogueira das vaidades" onde queimava publicamente tudo o que lembrasse o que ele considerava coisas mundanas inúteis como bebida, música, livros. Conseguiu até expulsar os poderosos Médices de Florença.

Caiu em desgraça ao sofrer a oposição do Papa Alexandre VI, preocupado com os ataques da Savonarola à riqueza da Igreja. Foi preso, torturado e morto por enforcamento enquanto queimava na fogueira, em 1498, aos 45 anos de idade.

Hoje, em Florença, é possível visitar seu quarto original no convento de São Marcos, conhecer sua cadeira preferida e seus hábitos, além de algumas estátuas espalhadas pela cidade.

Por que será que o juiz de Curitiba se irritou tanto com a comparação?

Leia o texto abaixo e tire suas conclusões.





O húngaro George Pólya, um matemático sensato, o que é uma raridade, nos sugere ataques alternativos quando um problema parece ser insolúvel.

Um deles consiste em buscar exemplos semelhantes paralelos de problemas já resolvidos e usar suas soluções como primeira aproximação. Pois bem, a história tem muitos exemplos de justiceiros messiânicos como o juiz Sergio Moro e seus sequazes da Promotoria Pública.

Dentre os exemplos se destaca o dominicano Girolamo Savonarola, representante tardio do puritanismo medieval.

É notável o fato de que Savonarola e Leonardo da Vinci tenham nascido no mesmo ano. Morria a Idade Média estrebuchando e nascia fulgurante o Renascimento.

Educado por seu avô, empedernido moralista, o jovem Savonarola agiganta-se contra a corrupção da aristocracia e da igreja. Para ele ter existido era absolutamente necessário o campo fértil da corrupção que permeou o início do Renascimento.

Imaginem só como Moro seria terrivelmente infeliz se não existisse corrupção para ser combatida.

Todavia existe uma diferença essencial, apesar das muitas conformidades, entre o fanático dominicano e o juiz do Paraná -não há indícios de parcialidade nos registros históricos da exuberante vida de Savonarola, como aliás aponta o jovem Maquiavel, o mais fecundo pensador do Renascimento italiano.

É preciso, portanto, adicionar um outro componente à constituição da personalidade de Moro -o sentimento aristocrático, isto é, a sensação, inconsciente por vezes, de que se é superior ao resto da humanidade e de que lhe é destinado um lugar de dominância sobre os demais, o que poderíamos chamar de "síndrome do escolhido".

Essa convicção tem como consequência inexorável o postulado de que o plebeu que chega a status sociais elevados é um usurpador. Lula é um usurpador e, portanto, precisa ser caçado. O PT no poder está usurpando o legítimo poder da aristocracia, ou melhor, do PSDB.

A corrupção é quase que apenas um pretexto.

Moro não percebe, em seu esquema fanático, que a sua justiça não é muito mais que intolerância moralista. E que por isso mesmo não tem como sobreviver, pois seus apoiadores do DEM e do PSDB não o tolerarão após a neutralização da ameaça que representa o PT.

Savonarola, após ter abalado o poder dos Médici em Florença, é atraído ardilosamente a Roma pelo papa Alexandre 6º, o Borgia, corrupto e libertino, que se beneficiara com o enfraquecimento da ameaçadora Florença.

Em Roma, Savonarola foi queimado.

Cuidado Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira. Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes.

Ou seja, enquanto você e seus promotores forem úteis para a elite política brasileira, seja ela legitimamente aristocrática ou não.



ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

FAZ DE CONTA QUE ESTÁ TUDO BEM


Provavelmente uma das características mais brasileiras do jeito de viver e de fazer política seja o “faz de conta que está tudo bem para não ficar pior”.

Essa ideia de que, para evitar barraco e maior confusão o melhor mesmo é “deixar assim”.

Com o tempo o “deixa assim” e o “faz de conta” acabam criando uma espécie de realidade paralela que longe de ajudar, prejudica o país e as pessoas na escolha de seus caminhos.

Foi o que aconteceu com o Atentado da Rua Toneleros, supostamente contra à vida do jornalista e político Carlos Lacerda que resultou na morte de um militar amigo que estava com ele ao chegar em casa na Rua Toneleros.

Os militares e os udenistas usaram o “atentado” para destituir Getúlio (que se suicidou antes) mesmo com o caso apresentando várias incongruências, como, o calibre da bala que atingiu Lacerda ser diferente do calibre do revólver do atirador.

Para não ficar pior “faz de conta” que está tudo bem e segue o baile, que, como vimos, acabaria em tragédia pessoal de Vargas e para o país.

A mesma coisa ocorreu no fim da Ditadura Militar.

A Ditadura foi responsável pela prisão e tortura de muitos brasileiros. Muitas morreram no cárcere sob a custódia do Estado, outros desapareceram para sempre.

Ao final do período tenebroso o normal é que se fizesse justiça aos perseguidos. Não uma infrutífera perseguição aos perseguidores, mas uma necessária ação para promover a verdade dos fatos e condenações aos culpados vivos e mortos.

No mínimo um profundo olhar no espelho e um mea culpa.

Mas, no Brasil do “faz de conta” mais uma vez a opção foi passar uma borracha sobre os fatos alegando conceitos vagos como “revanchismos” ou “caça às bruxas” ou o detestável “quem morreu, morreu”.

Rever a história é a forma correta de cicatrizar as feridas abertas, aliviar as dores de quem teve entes queridos varridos pela violência do regime e estabelecer uma relação sincera com seu passado.

A Comissão Nacional da Verdade, criada pela Lei 2528/2011 em 16 de maio de 2012 teve apenas dois anos de prazo para seus trabalhos e não pôde sugerir nenhum tipo de punição aos culpados em seu relatório final de dezembro de 2014.

Nenhum torturador foi punido. Nenhum ditador foi mencionado. Tudo terminou como se nada tivesse acontecido, a não ser para os lares que ainda choram a ausência de seus desaparecidos, pois nesses lares a ditadura ainda não terminou graças a insuficiência de objetivos e ações da tal Comissão.

Mas o governo achou melhor assim. Os militares acharam melhor assim. E ficou por assim mesmo.

São coisas como essas que permitem aos fascistas brasileiros acreditar que podem fazer o que quiserem pois jamais serão cobrados pelo que fazem.

A mesma impunidade que encoraja bandidos comuns, encoraja os bandidos políticos.

Tivessem os golpistas de ontem sido chamados por seus verdadeiros nomes talvez os golpistas de hoje pensassem melhor antes de derrubar uma presidente eleita por mais de 54 milhões de votos.

Mussolini foi fuzilado e seu corpo exposto pendurado de cabeça para baixo em praça pública.

Não precisaríamos disso. Preservando a civilidade e dando aos agressores as oportunidades de defesa que os mortos e desaparecidos não tiveram, bastaria a força da Lei.

Agora resta a comprovação de que, por trás do mesquinho golpe de agora, estão velhos vícios brasileiros, como esse, de fazer de conta que tudo está bem e deixa assim que é melhor.



Prof. Péricles





domingo, 16 de outubro de 2016

EPOPÉIA DE CHE - FINAL






Adaptado do bloglimpinhoecheiroso


Depois de muito andar para não serem capturados pela Guarda Rural de Batista, foram contabilizadas as perdas. Dos 82 homens que desembarcaram do Granma, apenas 17 sobreviveram. Nico Lopez havia morrido e Che teve ferimentos leves no peito e no pescoço.

Os rebeldes planejaram começar a revolução por Sierra Maestra, uma alta cadeia montanhosa de Cuba. A região era habitada por camponeses pobres e analfabetos, que lavravam pequenas roças para subsistência. As terras pertenciam a latifundiários, que pegavam uma parte de seus lucros.

Em 1956, era praticamente impossível que a tropa regular de Batista conseguisse chegar ao local, pois era um lugar selvagem e não havia caminhos pela mata. Os treinamentos no México seriam úteis para os revolucionários nessa hora.

Em janeiro de 1957, Fidel e seu exército, agora com 20 homens, decidiram realizar um ataque para mostrar que o Movimento 26 de Julho estava vivo e ativo. Atacaram um pequeno posto da Guarda Rural na foz do rio La Plata. Conseguem capturar algumas armas e munições.

Em fevereiro, Herbert Matthews, repórter do New York Times, foi à Sierra Maestra e fez uma longa entrevista com Fidel. Quando a reportagem saiu no jornal, o movimento ganhou notoriedade internacional, despertou simpatias e, principalmente, legitimidade. O governo de Fulgêncio Batista foi forçado a reconhecer que havia um exército rebelde em atividade dentro de Cuba.

Os revolucionários impressionavam as pessoas por seguirem um novo código de conduta bélica. As tropas regulares de Batista torturavam e executavam seus prisioneiros, além de cometer atrocidades contra civis. Já os rebeldes de Sierra Maestra tinham como norma liberar todos os soldados governamentais e jamais maltratar as pessoas da população local. Ao assumir princípios humanistas, os revolucionários conquistaram a confiança dos camponeses. Eles se mantinham firmes aos ensinamentos de José Martí, o herói nacional.

Ao longo de 1957, aumentava lentamente o número de rebeldes. Nesse mesmo ano, Fidel concede a Che a patente de comandante, posto que até então apenas ele próprio possuía, e o colocou na liderança da Segunda Coluna do Exército Rebelde.

Depois de quase um ano em Sierra Maestra, os revolucionários perceberam que a semente estava germinando. Em toda parte de Cuba, surgiam protestos contra o governo. As forças de Fidel, agora com cerca de 300 combatentes, estavam bem organizadas. Ele e Che montaram fábrica de munição, escolas, clínicas, cozinhas coletivas, oficinas de trabalho, um jornal e uma estação de rádio na região (a Rádio Rebelde). Os camponeses receberam terras e se sentiam livres das arbitrariedades cometidas pela Guarda Rural.

Em maio de 1958, o governo colocou 10 mil homens em Sierra Maestra, apoiados por tanques e aviões. A ofensiva durou quase três meses, porém o exército de Batista, desorganizado e não sabendo lutar nas montanhas, limitou-se a bombardear vilas e povoados, matando dezenas de civis.

Em agosto, Fidel e Raul marcharam com 200 homens para Santiago de Cuba, onde receberiam o reforço de outros 600 rebeldes para tentar ocupar a cidade. Enquanto isso, Che Guevara, com 148 homens, atravessava a província de Las Villas, em direção às montanhas Escambray e à cidade de Santa Clara. Camilo Cienfuegos comandava uma coluna de 82 homens, movendo-se paralelamente às forças de Che. O alvo dele era Havana.

Em dezembro, Guevara recebeu a missão de tomar toda a província de Las Villas, cortando a ilha em duas partes. Em questão de dias, com brilhantes manobras táticas, ele conquistou toda a província, exceto a capital, Santa Clara. Defendida por 2 mil soldados, a cidade contava com apoio aéreo. Guevara tinha apenas 200 homens. Os arredores de Santa Clara se renderam rapidamente com as tropas governamentais evitando o combate, mas o controle do centro da cidade custou três dias de luta e convencimento dos soldados governistas. Com a tomada de Santa Clara em 31 de dezembro de 1958, não havia mais nenhum obstáculo entre os rebeldes e Havana.

Santiago de Cuba continuava cercada pelas forças de Fidel e Raul. Sabendo que seu exército estava aniquilado e nada mais poderia fazer, às 3 horas da madrugada do dia 1º de janeiro de 1959, o ditador, juntamente com alguns comparsas, fugiu de avião para a República Dominicana com medo de ser morto. Fulgêncio Batista já havia transferido para o exterior uma fortuna estima em US$ 800 milhões, amealhada em anos de saque do Tesouro Nacional.

De Santiago, Fidel irradiou um apelo ao povo de Havana, conclamando-o a evitar violência e manter-se vigilante pela justiça. Prometeu que as forças rebeldes adentrariam as cidades de Cuba para restabelecer a ordem e impedir a contra-revolução. “A ditadura desmoronou”, disse ele, “mas isso não significa que a revolução tenha triunfado. Revolução, sim! Golpe militar, não!”

Fidel pediu que Guevara e Cienfuegos seguissem para Havana. Em 2 de janeiro de 1959, eles entraram na cidade e assumiram o controle das instalações militares para evitar qualquer reação do Exército. No mesmo dia, Fidel começou sua lendária travessia de 800 quilômetros por toda extensão de Cuba, fazendo discursos e entusiasmando a multidão. Ele chegou em Havana em 8 de janeiro.

Depois de seu trabalho como médico e comandante das tropas rebeldes, Che foi proclamado “cidadão cubano de nascimento” e, no governo revolucionário, assumiu o posto principal do Banco Nacional de Cuba. Em seguida, foi para o Ministério da Indústria, onde desenvolveu uma política econômica voltada à diversificação da agricultura e à industrialização a fim de reduzir a dependência externa.

Guevara também foi embaixador cubano, tendo visitado vários países, inclusive o Brasil, em 1960, onde foi condecorado pelo presidente Jânio Quadros, ansioso para demonstrar que o País tinha uma política externa independente.

Che ficou no cargo até abril de 1965, quando saiu de Cuba para levar a Revolução para outros países. Além disso, tinha suas dúvidas quanto à excessiva aproximação cubana com os soviéticos, posição que deixou bem clara nos encontros nos quais participou na época.

Queria voltar a voar, não se prender a uma revolução. Já tinha dito a Fidel, antes de entrar para o exército rebelde cubano, que “vou retomar minha liberdade de revolucionário depois do triunfo da Revolução Cubana”.

Deixou Cuba e uma carta a Fidel, que dizia num trecho o seguinte: “Sinto que cumpri a parte de meu dever que me atava à Revolução Cubana em seu território e me despeço de ti, dos companheiros, de teu povo, que já é meu. Faço formal a renúncia de meus cargos na direção do partido, de meu posto de ministro, de meu posto de comandante, de minha condição de cubano. Outras terras do mundo reclamam o concurso de meus modestos esforços... Até a vitória, sempre. Pátria ou Morte!”

Assim foi para o Congo, onde tentou organizar uma guerrilha, que acabou sendo frustrada. Retornou em segredo para Havana e dali partiu, em outubro de 1966, para as selvas bolivianas, levando alguns guerrilheiros cubanos para encontrar outros homens na Bolívia, de onde empreenderiam uma guerrilha similar à que saiu vitoriosa em Cuba.

Mesmo com cerca de 50 homens em território boliviano, as tropas de Che venceram algumas lutas contra os inimigos. Mas, isolados nas montanhas da Bolívia, Che Guevara e seus companheiros foram denunciados ao Exército boliviano.

Em 8 de outubro de 1967, eles foram encurralados num despinhadeiro e poucos escaparam. Che, ferido na perna, ficou preso na cidade de La Higuera.

Guevara foi interrogado por agentes da CIA e da inteligência boliviana. Em seguida, foi executado.

Segundo Ricardo Rojo, em seu livro “Meu amigo Che”, Guevara estava sentado no chão com as costas apoiadas na parede, respirando com dificuldade, quando o capitão Gary Prado, chefe da companhia dos Rangers que o capturou, disparou uma rajada de metralhadora de cima para baixo. O tiro de misericórdia foi dado pelo coronel Andrés Selnich, superior hierárquico de Prado, com uma pistola 9mm.

A bala atravessou-lhe o coração e o pulmão. Che estava morto.

A notícia se espalhou pelo mundo, mas, durante dias, houve uma discussão internacional sobre a veracidade da morte do guerrilheiro. Todas as especulações terminaram em 15 de outubro, quando Fidel Castro anunciou que realmente Guevara tinha sido capturado e executado na Bolívia.

Em seu discurso, profundamente emocionado, Fidel pronunciou o seguinte:

“Raramente pode-se dizer de um homem com maior justiça e com maior precisão o que vou falar sobre Che: ele foi um exemplo puro de virtudes revolucionárias; ele foi um ser humano extraordinário; um homem de extraordinária sensibilidade. Che era um homem de total integridade, um homem de supremo senso de honra, de absoluta sinceridade. Um homem de hábitos estóicos e espartanos, cuja conduta nenhuma mácula pode ser encontrada. Ele constituía, dentro de várias virtudes, o que podemos chamar de o verdadeiro modelo revolucionário”.

Os restos mortais de Guevara, depois de ficarem 30 anos enterrados num cemitério clandestino na Bolívia, foram identificados e exumados em julho de 1997. Atualmente, eles se encontram enterrados no Mausoléu Ernesto Che Guevara, na cidade de Santa Clara, em Cuba.

Mesmo se não levarmos em conta seus sucessos e frustrações durante toda sua vida, Ernesto Che Guevara, por si só, serviu como um símbolo da dedicação revolucionária, cujas ações foram sempre consistentes e em harmonia com seus ideais morais.

Ele morreu lutando por esses ideais, mas continua vivo nos corações de todos os povos solidários.


Texto adaptado.






sexta-feira, 14 de outubro de 2016

NOVAS TRAIÇÕES DE VELHOS TRAIDORES


O traidor mais famoso foi Judas.

Está no Novo Testamento, documentado e sacramentado para cristão nenhum esquecer.

Judas seria o traidor clássico, aquele que trai por dinheiro. Trinta dinheiros, ao que parece.

Porém, há controvérsias.

Alguns afirmam que Judas queria apenas dar um susto no seu mestre e posar, posteriormente de herói, assumindo espaços políticos no grupo que estavam ocupados por Pedro e Madalena. Algo como Temer na famosa carta, reclamando que não era lembrado pela Dilma.

Não sei. Fofocas...

Calabar é o tipo de traidor misterioso.

Lutava contra os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais que haviam invadido Pernambuco e de repente mudou de lado, aparentemente sem ganhar dinheiro com isso.

Seria Calabar o traidor ideológico, aquele capaz de trair companheiros me assumir a má fama, mas ser fiel a uma ideia que considerada superior?

Já Cabo Anselmo é a síntese do traidor sádico.

Desde o início da luta armada contra a ditadura militar se posicionou no campo da guerrilha urbana, ganhou simpatias e aliados e dali mandou para o calabouço, para a tortura e morte, centenas de companheiros, incluindo até a namorada grávida.

Joaquim Silvério dos Reis o traidor oportunista e interesseiro.

Enfim, temos muitas histórias de traidores e traições.

Já se disse que a política não é lugar para moralismos e o aliado de hoje pode ser o inimigo de amanhã e vice-versa.

Tudo bem, pode ser mesmo que as relações dinâmicas da política exijam muito mais sorrisos do que estômago, mas, vamos combinar que o apoio de Prestes a Getúlio pouco tempo depois do ditador entregar sua namorada grávida à Gestapo e à morte extrapolou o limite do compreensível.

E mesmo entre as relações complexas da política um mínimo de ética e de coerência deve ser exigido. A não ser que o poder seja considerado razão suficiente para se esquecer qualquer moralismo.

Maquiavel diria que assumir e/ou manter o poder é sim a razão única que move a ação política. Mas nós não somos maquiavélicos... ou somos?

Aliar-se com o PMDB para chegar ao poder é como fazer amizade com o crocodilo. Você jamais pode confiar e dorm,ir em paz.

Os governos do PT jamais poderão dizer que não esperavam uma bola nas costas do PMDB, simplesmente porque o PMDB é o partido da bola nas costas, do poder pelo poder e os antigos amigos que se danem.

É o partido traidor compulsivo. Aquele que exerce essa função independente de quem seja a vítima de sua traição.

Não é por dinheiro como a maioria pode pensar. Nem por ideologia. É simplesmente pelo poder.

Seria muito ingenuidade esperar outra coisa como se o despertar da ética pudesse ocorrer de uma hora para a outra.

Como dizia Freud, o poder é a máxima realização da cobiça humana.

O PMDB é assim, tanto que poderá, em breve, trair os próprios parceiros do golpe.

O presidente interino deve saber que esse golpe se deu através de um condomínio de interesses que incluem fortes divergências: PMDB, PSDB, mídia, capital externo, etc. etc. além de muitas vaidades pessoais.

Manter o poder inclui obrigatoriamente, criar condições para vencer as eleições de 2018 e aí o condomínio deverá rachar pois seus autores escolherão personagens diferentes.

Como manter a união dos condôminos se a ruptura está logo ali adiante?

Sim, aguarda-se novas traições de velhos traidores.

Traição é a mola mestra da política de um país sem tradição partidária, como o nosso.

Faz parte de nossa cultura.



Prof. Péricles

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

EPOPÉIA DE CHE - PARTE 1


Por Bloglimpinhoecheiroso


Ernesto Guevara de la Serna nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário, importante cidade industrial da Argentina, em uma família classe média alta. Seu pai, o arquiteto e engenheiro civil Ernesto Guevara Lynch, era um militante político, tendo participado de vários comitês e organizações de ajuda aos países democráticos. A mãe, Cella de la Serna, era igualmente ativista, tendo sido presa diversas vezes por sua militância política.

Aos 2 anos, Che Guevara sentiu os primeiros sintomas de asma que o atormentaria ao longo da vida. Para minimizar os efeitos da doença, a família foi para Alta Gracia, perto da Cordilheira dos Andes, à procura de um clima mais saudável. Mais tarde, Ernestito, como era chamado pelos parentes, começou a praticar esportes como natação, futebol, ciclismo e rugby.

Che foi dispensado do serviço militar argentino por incapacidade em virtude da asma.

Quando Guevara tinha 12 anos, sua família mudou-se para Córdoba, segunda maior cidade da Argentina, e foi viver próxima de uma favela. O menino brincava diariamente com as crianças pobres do lugar, uma atitude pouco comum para um filho de classe média alta. Nessa época, ele começou a pegar gosto pela leitura, pois seus pais tinham cerca de 3 mil livros em casa. Che tomou contato com a poesia, filosofia, história e arqueologia, dentre outros assuntos. Com isso, abriu novos horizontes e quis conhecer novos lugares.

A primeira viagem foi uma travessia do território argentino de bicicleta promovida por uma empresa local. Em cada cidade que parava, comprava vários livros e, desde essa época, começou a escrever um diário, hábito que manteve por toda a vida.

Em 1944, quando tinha 17 anos, a família Guevara transferiu-se para a capital Buenos Aires, centro cultural e político da Argentina. Ele havia decidido fazer Medicina, mas continuava atraído por viagens e aventuras. 

Em dezembro de 1949, ainda não tendo terminado o curso, começou uma longa viagem de motocicleta em direção ao Chile com seu amigo Alberto Granados. Nessa viagem, Guevara começa a ver a América Latina como uma única entidade econômica e cultural. Granados, recém-formado em Medicina, ficou na Venezuela trabalhando num sanatório para leprosos e Che voltou para a Argentina para completar seu curso.

Em março de 1953, ele se formou em Medicina com especialização em alergia, mas percebeu que ainda não estava preparado para se tornar um médico. 

Em um de seus diários, Che relatou: “Quando comecei meus estudos de Medicina, a maioria de meus ideais revolucionários ainda não existia. Como grande parte das pessoas, eu estava em busca de sucesso [...]. Mas, quando comecei a viajar por toda a América, entrei em contato com a pobreza, a fome e a doença [...]. Vi a degradação e a repressão. Então comecei a entender que havia outra coisa tão importante quanto ser famoso, que era ajudar essa gente.”

Em janeiro de 1954, chegou à Guatemala para mergulhar em um universo político conturbado. Foi lá que Guevara conheceu a peruana Hilda Gadea Acosta, com quem se casou mais tarde. Ela daria importante contribuição a sua formação política.

Na Guatemala, o exército invasor norte-americano operava a partir de Honduras, sob o comando da CIA – serviço secreto dos Estados Unidos – e com a aprovação do presidente Dwight Eisenhower. Guevara ficou impressionado com a facilidade com que um governo popular era esmagado. “A última democracia revolucionária da América Latina – a de Jacobo Arbens – caiu como resultado da fria e premeditada agressão conduzida pelos EUA [...]. Quando a invasão norte-americana começou, tentei juntar um grupo de jovens como eu para contra-atacar. Na Guatemala era necessário lutar e quase ninguém lutou. Era necessário resistir e quase ninguém resistiu”, escreveu Guevara.

As exortações de resistência feitas por Guevara foram suficientes para colocar seu nome na lista negra dos golpistas. Avisado pelo embaixador argentino de que sua vida e de sua esposa estavam em perigo, eles se refugiam na embaixada.

As experiências na Guatemala foram importantes para a construção de sua consciência política. Foi lá que Che se autodefine como revolucionário e se convenceu da necessidade da luta armada, de tomar a iniciativa contra o imperialismo.

Recusou a oferta de um salvo-conduto para voltar para a Argentina. Resolveu ir para o México, porque se tratava de um país mais hospitaleiro para os refugiados políticos. Chegando lá com um amigo guatemalteco, os dois viraram fotógrafos de rua para sobreviver. Depois de algum tempo, Guevara foi trabalhar no setor de alergia do Hospital Geral da Cidade do México, ao mesmo tempo que lecionava na Universidade Autônoma do México.

Em julho de 1955, Raul apresenta a Guevara seu irmão mais velho: Fidel Castro. Foi amizade à primeira vista.

Che escreveu como se deu o primeiro encontro: “Encontrei Fidel em uma dessas noites frias da Cidade do México. Lembro que nossa primeira discussão foi sobre política internacional. Algumas horas mais tarde, bem de madrugada, já tinha me decidido que participaria da expedição do Movimento 26 de Julho, que em breve pretendia iniciar uma revolução em Cuba.

Em 25 de novembro de 1956, o barco Granma (vovó, em inglês) levantou âncora do porto de Tuxpan, levando a bordo, em seus 17,5 metros de extensão, 82 homens que mudariam a história de Cuba e do mundo. A viagem foi conturbada. Vários homens marearam durante o percurso e Guevara sofreu forte crise de asma.

Depois de sete dias no mar, o exército revolucionário desembarcou, mas não no local previsto onde estariam os suprimentos. Estavam a 16 quilômetros ao Sul, nos mangues da praia Colorado. 

O Granma encalhou na areia e logo foi descoberto pela Guarda Costeira. Os rebeldes precisaram nadar até a praia, perdendo vários equipamentos importantes, e tiveram que andar horas pelo terreno pantanoso até encontrar terra firme.


(CONTINUA)



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O PAÍS DO PASSADO


por  Mino Carta 

O governo acaba de lançar uma campanha publicitária à sombra do lema “Vamos tirar o Brasil do vermelho”. Campanha maciça e longa, para a alegria da mídia nativa.

O slogan seria da lavra do secretário-executivo dos Programas de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, e sutilmente teria duplo sentido: de um lado indicaria a determinação de executar um plano de ajuste fiscal feroz, do outro afirmaria o propósito de liquidar de vez a esquerda vermelha.

Lembrei-me do tempo em que se acreditava na presença, atrás de cada esquina, de devoradores de criancinhas.

Neste Brasil primário dos dias de hoje, pretensamente atuais e assim mesmo tão vetustos, multiplicam-se os cidadãos altamente habilitados a acreditar em lorotas, sobretudo entre os moradores dos chamados bairros nobres, que de nobre nada têm.

O resultado das eleições municipais prova, também e felizmente, a existência de alguns, honrosos núcleos de resistência aos vencedores do golpe mais reacionário da história do País.

Salta aos olhos, porém, a impossibilidade de maiores ameaças à tranquilidade da casa-grande, quando tantos, inúmeros, relegados à senzala votam no senhor da chibata...

No meu livro O Brasil, lançado em 2013, me ponho ousadamente a contar como o primogênito do senhor da casa-grande se torna herdeiro do pai conforme as leis medievais, enquanto o irmão rejeitado e revoltado, Caim da situação, passa a se dizer de esquerda, para arrepiar a família, amigos e apaniguados.

Falta-lhe a crença entre o fígado e a alma, falta-lhe, sobretudo, a convicção da urgência de acabar com a senzala.

No meu entendimento, é o que explica muito do fracasso da esquerda brasileira, sem contar o comportamento de alguns, saídos da senzala, e ainda assim dispostos a concessões e compromissos, quando não candidatos e inquilinos da mansão nobiliar.

Há figuras de excelente fé em certos redutos que o governo define como vermelhos, mas são exceções, fenômenos escassos. De todo modo, resistentes e autênticos são aqueles que não traíram as palavras de ordem iniciais, bem ao contrário de inúmeros traidores. Aludo a resistentes como, por exemplo, os irmãos Gomes no Ceará, ou Marcelo Freixo, no Rio. Exemplos, insisto, porque há outros, velhos combatentes sempre alertas.

Sobra a percepção inexorável: houvesse uma esquerda forte, vermelho-carmesim, os cidadãos em boa saúde mental de um país infeliz, embora destinado à felicidade, surgido para ser potência e agora de volta à condição de colônia, estariam a celebrar outro desfecho de uma eleição que sela a vitória do golpe e garante a continuidade do plano celerado que até hoje o guia.

O big-bang está na eleição de Lula à Presidência, clamor tão ensurdecedor a ponto de não ser ouvido, mas daí se difundiu para alcançar o diapasão mais elevado a partir da segunda eleição de Dilma Rousseff.

Agora vibra nos nossos ouvidos, mas para o partido de Lula é tarde.

Se sair do vermelho significa acabar de uma vez por todas com maiores riscos para o sossego da casa-grande, suponho que o momento seja favorável ao atraso ardorosamente buscado pela reação nativa, mesmo porque os ventos vindos do norte neoliberal por ora sopram a favor.

Já se significa sair da crise econômica, aqueles cidadãos acima citados fiquem precavidos. Sair do vermelho, para o governo Temer e quantos o sustentam, é simplesmente vender o Brasil. Como será provado.

Confirma-se a normalidade da demência.

E eis que me cai nas mãos a gravura acima, obra de um retratista da casa-grande, um certo Debret, realista e, portanto, impiedoso. E perfeito até hoje.

À mesa, toscos, vulgares donos da casa, caricaturas de uma aristocracia de fancaria.

Compostos, dignos, os escravos.