Buscando entender melhor
a crise brasileira em seus desdobramentos até o 18 de abril, data da aprovação
do pedido de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o Blog ousa selecionar abaixo o que
considera como os maiores responsáveis pela difícil situação a que chegou a
democracia brasileira. Além de apontar
os fatos buscou-se também hierarquizar as responsabilidades do menor para o maior.
6º Lugar: A Cultura
Golpista Brasileira
Temos uma tradição de
golpismo em nossas veias históricas. Normalmente se prefere a extração do que a
reparação. Nossa classe média mais uma vez demonstrou ser uma das mais
preconceituosas do planeta, enquanto nossas elites (aquela mesma que se recusou
abolir a escravidão por um século inteiro) demonstram seu lado mais reacionário
e perverso. A cultura do golpismo presente nas campanhas anti-Lula e anti-Dilma,
que dá vitória eleitoral para qualquer um que não seja candidato do PT em
estados importantes, como o Rio Grande do Sul, se manifestou latente nos meios
de comunicação e nas conversas de esquina, reforçada pela intolerância e pelo
racismo tão vivo e tão negado entre nós.
5º Lugar: A Crise
Financeira Internacional
O mundo do capital passa
por uma de suas piores crises pós a Segunda Guerra Mundial. Essa crise começou
em 2008, nos Estados Unidos, mas, graças às políticas de novas parcerias do
presidente Lula, não nos atingiu como em outros tempos e por aqui passou como
uma “marolinha”. Em 2010 a tsunami econômica chegou à Europa e ao Oriente, e,
desde então, vem ameaçando desde economias de papel sustentadas pela União Europeia
até gigantes como a Itália e a própria China que desacelerou o ritmo do
crescimento depois de duas décadas frenéticas. Dessa vez a crise nos atingiu e
atingiu nossos parceiros do BRICS e o efeito tem sido danoso. Se em 2008 a
direita não tentou o impeachment de Lula quando do “Mensalão” porque, ela sabia
bem, estava ganhando, agora se colocou contra Dilma e sua propalada ineficiência
no combate a crise, tendo o impeachment aparecido como uma boa ideia, não meramente
pela troca de nomes, mas porque os arquitetos do golpe estão comprometidos em
aplicar novas medidas neoliberais, como a terceirização da mão-de-obra (na
prática o fim da CLT). Para os donos do poder, o neoliberalismo aparece como a
salvação imediata de seus problemas e Dilma e o PT são cartas fora do baralho.
4º Lugar: A Imprensa
Golpista
O papel da mídia,
especialmente da Rede Globo de Televisão, já havia sido assustador quando da
eleição do primeiro presidente após a ditadura militar, Fernando Color,
derrotando Lula e Brizola. Sabemos que a imprensa trabalhou arduamente pelo
golpe de março de 1964 e é histórico que o império Globo nasceu sob os
auspícios dos generais da ditadura, mas, dessa vez o golpismo se superou.
Selecionando o que transmite e o que não transmite, escolhendo como transmite,
que ângulos detalha ou esconde e que falas vão ao ar. Supervalorizando fatos
negativos e contrários e sonegando informação sobre fatos positivos. O que a
Rede Globo fez, juntamente com a já folclórica Revista Veja, mas não somente
elas, mas todo o conjunto da mídia coorporativa, foi algo de criminoso. Tão
devastador que a polícia federal, uma polícia de inteligência, tornou-se
polícia ostensiva com seus agentes disputando o lugar ao lado dos detidos, em
nome da fama. Tão corrosivo que é mais responsável pelo golpe do que a própria
crise econômica que acabou se tornando uma de suas armas. É impossível pensar
qualquer projeto de democracia daqui para a frente sem o enfrentamento do superpoder
midiático e seu literal esfacelamento, fazendo com que deixe de ser um agente
político e seja apenas o que tem concessão para ser: um veículo de divulgação
de notícias, como é, não em Cuba ou na Rússia, mas na Inglaterra e nos Estados
Unidos.
3º Lugar: O Sistema
Judiciário Brasileiro
Sempre bem quisto pela
população como sua última esperança contra os desmandos dos poderosos, o
sistema jurídico brasileiro entrou em falência com os fatos. Tudo começou ainda
no mensalão quando juízes se deixaram contaminar pela “síndrome de celebridade”
e passaram a fazer evidente jogo de cena em busca dos holofotes. O Juiz deve
ser como o árbitro de futebol, quanto menos aparecer melhor para o jogo. Porém,
togados se tornaram “heróis” de capa e espada para certas fatias da sociedade,
sempre levados pela mídia ao ponto de um juiz de 3ª instância de São Paulo ter
tentado atravessar o processo e convocar o ex-presidente Lula para depor onde
não tinha qualquer competência. Era o desejo infantil de aproveitar a onda e se
tornar também, celebridade. Outro assumiu postura partidária e abandonou a
imparcialidade chegando a convocar coercitivamente alguém que jamais fora
convocado antes. Outro ainda tornou-se personagem televisivo no STF por
representar o “clamor da oposição” de forma descarada. Da mesma forma que é
impossível se pensar em democracia no Brasil daqui para a frente sem o
enfrentamento da imprensa também o será a necessidade de humanizar o
judiciário, fazendo os juízes deixarem de ser deuses e tornarem-se apenas
cidadãos, funcionários públicos, que cumpram com seu papel institucional e que
possam e devam ser punidos quando deixarem de cumprir.
2º Lugar: Dilma Rousseff
O primeiro dever de um
presidente da república é defender a constituição e a soberania nacional.
Infelizmente Dilma fracassou retumbantemente no primeiro dever. Dilma sempre
acreditou que venceria o golpe com medidas institucionais. Jogou pérola aos
porcos. Tentou ser querida pela direita escolhendo um Ministro da escola
liberal que, logicamente a afastou do povo. Dilma, uma ex-guerrilheira
destemida esqueceu as estratégias de guerra e marchou como um patinho para a
panela. Não se enfrenta o fascismo com medidas suaves, pergunte para qualquer
historiador ou velhinho da Itália, da Alemanha e da Espanha. A presidente evitou
o confronto. Adulou a Globo. Afastou-se de Lula e dos organismos sociais, num
primeiro momento. Se é verdade que é a primeira vítima pessoal do golpe, também
é, em muito, responsável por tudo o que acabou acontecendo.
1º Lugar: O Governo do
PT, incluindo setores políticos que o apoiam e também o ex-presidente Lula
O PT vendeu sua alma ao
diabo para chegar ao poder. A esquerda histórica do partido dele se afastou
desde esse momento. Mesmo assim deu início a vários programas sociais
importantes e urgentes, responsáveis pela melhoria da situação dos mais pobres
e por um surto consumista no país. Mas, da mesma forma que na Venezuela, no
Paraguai, no Equador e, de certo modo, na Argentina, não avançou além das
primeiras jardas. O PT acreditou que apenas os programas sociais poderiam
garantir a manutenção do poder, mas, a história nos mostra que não é assim.
Todo governo de esquerda que evita radicalizar seu projeto social, que vacila,
acaba fracassando. No dizer de Leonel Brizola, o PT foi a esquerda que a
direita queria. A direita aliás que muito se beneficiou dos governos do PT, mas
que não hesitou em dar um pé na bunda quando perdeu a serventia. O governo
petista guardou sua militância na gaveta e só pediu ajuda quando já fazia água.
Da mesma forma cabe crítica aos movimentos que tradicionalmente têm a força das
ruas para evitar o pior. Alguém sabe, por exemplo, por onde anda a UNE?
O texto acima reflete a
opinião pessoal do autor do Blog. Gostaríamos imensamente de contar com
opiniões e participação, tanto para concordar, como para discordar, de seus
leitores.
Prof. Péricles