O ser humano adora culpar terceiros pelos seus infortúnios.
É mais agradável pensar que errou por culpa de alguém. Que bebeu porque o diabo “atentou”. Que sua vida está uma porcaria por causa do pai ou da mãe, ou da esposa, esposo, filhos, enfim, por culpa de alguém, não sua.
A culpa terceirizada é a salvação da lavoura de muitas consciências.
O que seria das Igrejas que se anunciam como a redenção das criaturas se não existisse o diabo para levar a culpa de tudo, desde unha encravada até por bater na esposa?
É bom e confortável se sentir vítima e não o responsável por suas dores.
Talvez, por isso, o exercício da democracia assuste tanta gente na mesma proporção que a ditadura agrade a outros.
O voto que escolhe diretamente seu representante tira boa parte da desculpa do “não tenho nada a ver com isso” e é sempre melhor ter um ditador que diga o que fazer do que construir com trabalho a própria cidadania.
Construir cansa, melhor receber já pronto, é mais confortável.
Foram raros os eleitores do Color depois do impeachment. Ninguém teve culpa, os votos brotaram nas urnas por mágica de Houdine, ou melhor, por efeito especial da Globo, sim, a Globo foi a única culpada, pronto.
A falta de conhecimento leva às pessoas a terceirizar suas dores, mas a falta de caráter esconde suas escolhas.
Se o golpe tiver sucesso e derrubar Dilma Rousseff, o Brasil em breve, mas bota breve nisso, entrará num círculo maluco de horrores.
Não, não haverá nada além do que já se conhece: neoliberalismo, entreguismo, desemprego, dívida, perda de direitos trabalhistas, proteção ao capital privado, desdém ao capital e ao patrimônio público.
Só que dessa vez a encrenca será maior. E isso porque o povo mais humilde, aquele que mais ganhou nesses 14 anos, não aceitará perder o que conquistou.
Dizia Buda que uma consciência que se expande nunca mais aceita retornar ao tamanho original.
As conquistas sociais e a ampliação da consciência de seus direitos políticos também.
Na década de 70 lutando contra a Ditadura, o PC do B (o verdadeiro) organizou sua Guerrilha no Araguaia justamente por ser um dos lugares mais miseráveis, abandonados e alienados do Brasil.
A Guerrilha foi derrotada e quase todos os guerrilheiros assassinados, mas desde então (e a Guerrilha se encerrou em 1972) até hoje o Araguaia é um centro permanente de tensões pois os sem-terra e os pequenos agricultores daquela região nunca mais aceitaram o cabresto como antes.
Quando começar o desmonte (que não será imediatamente, mas logo e por etapas) dos programas sociais o bicho vai pegar.
É provável que essa história não termine sem dores e corpos sem vida, não apenas por lutas mas também por desespero.
Mas, uma certeza podemos ter: ninguém terá culpa. Ninguém assumirá sua identidade coxinha. Foi a Globo e só a Globo, plim-plim.
Ninguém baterá no peito para exclamar “eu lutei contra a ordem democrática e vibrei no virtual e no real com a posse de Michel Temer”.
“Eu fui um dos milhões de Eduardo Cunha”.
Por que?
Porque é mais tolerável ocultar suas responsabilidades e apontar o dedo para outros.
Por isso ninguém aqui no Rio Grande do Sul ainda levantou a mão publicamente para se chamar de ameba por eleger um político sem propostas e sem ideias para governar o estado.
Ninguém disse num bate papo com os amigos, fazendo cara de intelectual “eu acreditei que o importante era tirar os petralhas”, "eu achei graça com a piada do Tumelero"
Enquanto os trabalhadores sofrem com salários parcelados a horda de eleitores anti-PT suspira e faz de conta que não vê pois, para muitos, quando não se vê o sofrimento dos outros ele não existe.
O problema não é a falta de conhecimento, é o conhecimento distorcido pelo ódio e pela vaidade.
A responsabilidade é mais profunda e coletiva.
É do caráter egoísta, mesquinho e invejoso das criaturas, especialmente das que não aceitam o crescimento daqueles que julgam inferiores.
"Onde já se viu negros, gays, lésbicas e índios nos olhando em pé de igualdade?"
É dos inconformados por pobre ter filhos no mesmo colégio de seus filhos e receberem 70, 80 reais de auxílio, que, pela revolta provocada, deve abalar profundamente a economia dos "revoltados".
Dos que odeiam que os mais esquecidos agora tenham médicos que os atendam e se preocupem com eles.
O motivo mais escondido de todo esse drama é que, o ser humano é patético quando permite que seu ódio por tudo aquilo que pode dar certo, justifique sua pequenez de pensamento e de atitudes.
Os mesmo seres patéticos que um dia dirão que "a culpa não foi minha... foi do diabo que tomou conta do Brasil" enquanto se postam, hipocritamente, a rezar para que todos sejam felizes.
É dos inconformados por pobre ter filhos no mesmo colégio de seus filhos e receberem 70, 80 reais de auxílio, que, pela revolta provocada, deve abalar profundamente a economia dos "revoltados".
Dos que odeiam que os mais esquecidos agora tenham médicos que os atendam e se preocupem com eles.
O motivo mais escondido de todo esse drama é que, o ser humano é patético quando permite que seu ódio por tudo aquilo que pode dar certo, justifique sua pequenez de pensamento e de atitudes.
Os mesmo seres patéticos que um dia dirão que "a culpa não foi minha... foi do diabo que tomou conta do Brasil" enquanto se postam, hipocritamente, a rezar para que todos sejam felizes.
Prof. Péricles