Quando se é jovem, mulher bonita é mulher gostosa. Não há como separar beleza da atração ao sexo, então, nosso (nós homens) conceito de beleza está atrelado às possibilidades de prazer que o alvo de nossa admiração promete.
Quando amadurecemos, mulher bonita é muito mais que isso. É mulher serena, sábia e piedosa para com nossas inconstâncias.
Aprendemos com o tempo a separar sexo de beleza, sabedoria de fanfarronice, serenidade de apatia.
Quando somos jovens, liberdade é tudo aquilo que nos permite extrapolar nossa energia. É todos ser, ambiente e situação que nos permite liberar. Qualquer ato, o resmungo da mãe, a advertência da professora, o não da namorada, qualquer coisa que nos limite é visto como inibidor do sagrado direito à liberdade.
O tempo nos ensina, que a liberdade implica no respeito à liberdade alheia e que liberdade não é libertinagem e ainda que éramos libertinos e não libertos.
Quando jovens a crítica é sempre pessoal, burra (da parte do crítico) e injusta.
Quando “crescemos” aprendemos a tirar da crítica tudo o que ela pode conter para nossa melhora, para nosso auto-julgamento.
O tempo é o senhor da razão, diziam nossas avós. E pra variar, elas estavam certas.
O amadurecimento é capaz de transformas água em estalactite, montanha em planície e idéias em projetos.
Por isso é importante amadurecer. Por isso não é feio nem sinal de fraqueza mudar uma opinião ou rever um conceito.
Não é o que acontece com os conservadores.
Os conservadores são pessoas que se embrutecem dentro de suas certezas.
Os Conservadores não são, necessariamente, mais velhos, pois muitos jovens são mais conservadores do que o Papa.
Apegados às suas certezas possuem a falsa sensação de ter a verdade absoluta sobre os fatos e se os fatos se alteram tornam-se cegos à mudança temendo perder o controle que julgavam ter sobre os mesmo.
Olham as coisas apenas do mesmo ângulo, ou seja, de um único ponto de vista.
Revolução, apenas a palavra já provoca ojerizas.
Esquerdista é comunista. Jovem fora do padrão é maconheiro, e maconheiro é bandido.
Elite é elite, classe média é fechada e povo é uma invenção dos comunistas.
Esses professorezinhos de história, esses padrecos envolvidos em causas sociais, esses são os culpados pela corrupção, pelas dificuldades, por tudo que lhe foge da zona de conforto.
Nunca tiveram nem jamais terão uma propriedade rural, mas defendem o latifúndio e odeiam o MST mais do que os próprios coronéis. São eles, e não os latifundiários, os maiores inimigos da reforma agrária.
Nunca votaram, nem em seus piores pesadelos em qualquer partido de esquerda, mas, muitas vezes, para dar ares de veracidade aos seus argumentos afirmam que “eu já votei no PT” ou “eu fui simpatizante do socialismo” coisa que, ele sabe, jamais poderá ser comprovada.
O conservador teme estar errado. Ele não quer ouvir argumentos porque se for convencido de um erro isso representaria que a vida inteira ele esteve errado sobre algo e isso é impossível.
Os conservadores fazem parte de nossa paisagem política. Compõem o eleitorado que disputamos. Os conservadores não podem ser diminuídos, subestimados ou esquecidos.
Na verdade, o melhor que se faz é ter vivo que foram eles que apoiaram Jânio e a vassoura moralista. Foram os conservadores que organizaram a Marcha com Deus pela Liberdade e foram eles que clamaram, exigiram, imploraram pelo golpe militar de 1964.
Esquecê-los? Jamais.
Buscar sempre o debate..
Assim como na ficção o vampiro teme o crucifixo, os conservadores temem um bom argumento que lhes abale as carcomidas estruturas de convicções e preconceitos que construíram para se justificar a vida toda.
Prof. Péricles
quinta-feira, 12 de abril de 2012
terça-feira, 10 de abril de 2012
ENRUSTIDOS
Se ainda houvesse necessidade, o caso do Senador e da Cachoeira seria uma saborosa lição.
Paladino do bem, campeão da moral, carrasco dos corruptos sempre mostrado pela mídia com o dedo em riste exigindo demissões, cpis e compostura, o senador foi envolvido numa investigação da Polícia Federal, autorizada pela justiça, que trás de forma clara e sem dúvidas, provas de seu envolvimento até a raiz dos cabelos, em inescrupulosas negociatas.
Se ainda fosse preciso, seria o momento da sociedade brasileira, aquela parcela bem intencionada que sonho com uma vida melhor para os brasileiros, mas que é facilmente levada pelas ondas da emoção plantadas pela mídia e pelos setores mais conservadores, entender, que não existem heróis acima do bem e do mal, nesse jogo sujo que, infelizmente, faz parte da rotina política de nosso país.
Não existem mágicos, não existem santos.
O Senador é mais um exemplo da coisa mais podre do jogo do poder, aquele corrupto até a alma que usa o discurso da anticorrupção para iludir os outros.
Ele não é o primeiro. Houve muitos outros.
Houve um candidato despreparado, mas que foi eleito presidente, sem propostas e sem planos, apenas defendendo acabar com a corrupção, varrer a corrupção do Brasil, tornando-se a vassoura seu símbolo.
Teve aquele outro, mais despreparado ainda que foi eleito pela mídia com um discurso vazio e sem sentido, mas prometendo “caçar os marajás”.
E ele não será o último, pois o discurso moralista sempre é fácil e sempre seduz os incautos. Ele não será o último enquanto partidos sem propostas e sem conteúdo continuarem se apossando da “corrupção dos outros” enquanto escamoteia a sua própria.
A corrupção no Brasil e no mundo é intrínseca ao exercício da administração da coisa pública que envolve muito dinheiro, interesses, burocracia e pessoas.
Existe, claro, formas de combatê-la, de maneira honesta e sem partidarização.
Uma delas, talvez a mais urgente, é acabar definitivamente com qualquer forma de contribuição nas campanhas eleitorais.
É nesse momento, quando pessoas físicas e empresas contribuem, que nascem os acordos futuros, as negociatas. Ou você acha que a contribuição se dá por amor ou ideal?
Deveríamos criar no Brasil uma legislação parecida com a do Reino Unido, onde verba de campanha é pública e dividida de igual maneira entre os partidos. Qualquer outro centavo, além disso, é crime eleitoral.
Com atos realistas e objetivos só dessa forma poderemos combater essa moléstia moral e financeira.
O resto é discurso vazio. Falso moralismo. Hipocrisia.
Como o enrustido homofóbico que agride os homossexuais, continuarão existindo os enrustidos moralistas que agridem nossa inteligência.
Prof. Péricles
Paladino do bem, campeão da moral, carrasco dos corruptos sempre mostrado pela mídia com o dedo em riste exigindo demissões, cpis e compostura, o senador foi envolvido numa investigação da Polícia Federal, autorizada pela justiça, que trás de forma clara e sem dúvidas, provas de seu envolvimento até a raiz dos cabelos, em inescrupulosas negociatas.
Se ainda fosse preciso, seria o momento da sociedade brasileira, aquela parcela bem intencionada que sonho com uma vida melhor para os brasileiros, mas que é facilmente levada pelas ondas da emoção plantadas pela mídia e pelos setores mais conservadores, entender, que não existem heróis acima do bem e do mal, nesse jogo sujo que, infelizmente, faz parte da rotina política de nosso país.
Não existem mágicos, não existem santos.
O Senador é mais um exemplo da coisa mais podre do jogo do poder, aquele corrupto até a alma que usa o discurso da anticorrupção para iludir os outros.
Ele não é o primeiro. Houve muitos outros.
Houve um candidato despreparado, mas que foi eleito presidente, sem propostas e sem planos, apenas defendendo acabar com a corrupção, varrer a corrupção do Brasil, tornando-se a vassoura seu símbolo.
Teve aquele outro, mais despreparado ainda que foi eleito pela mídia com um discurso vazio e sem sentido, mas prometendo “caçar os marajás”.
E ele não será o último, pois o discurso moralista sempre é fácil e sempre seduz os incautos. Ele não será o último enquanto partidos sem propostas e sem conteúdo continuarem se apossando da “corrupção dos outros” enquanto escamoteia a sua própria.
A corrupção no Brasil e no mundo é intrínseca ao exercício da administração da coisa pública que envolve muito dinheiro, interesses, burocracia e pessoas.
Existe, claro, formas de combatê-la, de maneira honesta e sem partidarização.
Uma delas, talvez a mais urgente, é acabar definitivamente com qualquer forma de contribuição nas campanhas eleitorais.
É nesse momento, quando pessoas físicas e empresas contribuem, que nascem os acordos futuros, as negociatas. Ou você acha que a contribuição se dá por amor ou ideal?
Deveríamos criar no Brasil uma legislação parecida com a do Reino Unido, onde verba de campanha é pública e dividida de igual maneira entre os partidos. Qualquer outro centavo, além disso, é crime eleitoral.
Com atos realistas e objetivos só dessa forma poderemos combater essa moléstia moral e financeira.
O resto é discurso vazio. Falso moralismo. Hipocrisia.
Como o enrustido homofóbico que agride os homossexuais, continuarão existindo os enrustidos moralistas que agridem nossa inteligência.
Prof. Péricles
domingo, 8 de abril de 2012
AVALIAÇÃO DO GOVERNO DILMA
A presidenta Dilma Rousseff bateu um novo recorde desde o início do seu mandato e ampliou a sua popularidade mesmo depois da divulgação de um crescimento modesto do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011 e em meio a turbulências de uma crise política em sua base de apoio no Congresso.
Segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira (4), a aprovação pessoal da presidenta (aqueles que acham o jeito Dilma de governar "ótimo" ou "bom") subiu cinco pontos percentuais desde dezembro, de 72% para 77%. É o maior índice registrado desde março do ano passado, quando a primeira pesquisa sobre seu governo foi divulgada.
A presidenta tem usado como trunfo em sua relação com o Congresso as altas taxas de popularidade alcançadas desde o início de seu governo.
A avaliação de sua gestão, contudo, manteve-se a mesma na comparação com dezembro, estacionada em 56%. O índice tinha sido o melhor para um primeiro ano de governo desde que a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria começou a ser feita, em 1995.
Comparativamente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tinha avaliação "ótima" ou "boa" de 34% no início de seu segundo ano de mandato, em 2004. Na época, o governo estava abalado pelo seu primeiro escândalo de corrupção, após a revelação do caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil.
Ainda assim, é maior o número de entrevistados que considera o governo Dilma pior do que o governo Lula (23%). A gestão Dilma é considerada superior por 15%.
LEMBRANÇAS
A pesquisa aponta que os assuntos mais espinhosos, e que poderiam abalar a avaliação positiva do governo, foram pouco lembrados pelos entrevistados. É o caso do crescimento do PIB de 2,7% em 2011, citado por apenas 1%. A crise política, que levou à troca da liderança do governo no Senado, foi citado por 4%.
De acordo com o levantamento, os assuntos mais lembrados espontaneamente pelos entrevistados sobre o governo foram os "programas sociais voltados para mulheres" e as "viagens da presidente Dilma".
A pouco mais de dois meses da Conferência Rio +20 e com a votação do novo código florestal voltando à pauta do Congresso, a pesquisa apontou que as ações e políticas para o meio ambiente foram aquelas que apresentaram maior crescimento na aprovação em relação a dezembro, saltando de 48% para 53%.
As áreas com pior avaliação são, de acordo com a pesquisa, impostos (65% de desaprovação), saúde (63%) e segurança pública (61%).
A pesquisa foi realizada entre os dias 16 e 19 de março. No levantamento, foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 municípios.
De: http://www1.folha.uol.com.br
Folha.com - Breno Costa
04/04/2012
Segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira (4), a aprovação pessoal da presidenta (aqueles que acham o jeito Dilma de governar "ótimo" ou "bom") subiu cinco pontos percentuais desde dezembro, de 72% para 77%. É o maior índice registrado desde março do ano passado, quando a primeira pesquisa sobre seu governo foi divulgada.
A presidenta tem usado como trunfo em sua relação com o Congresso as altas taxas de popularidade alcançadas desde o início de seu governo.
A avaliação de sua gestão, contudo, manteve-se a mesma na comparação com dezembro, estacionada em 56%. O índice tinha sido o melhor para um primeiro ano de governo desde que a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria começou a ser feita, em 1995.
Comparativamente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tinha avaliação "ótima" ou "boa" de 34% no início de seu segundo ano de mandato, em 2004. Na época, o governo estava abalado pelo seu primeiro escândalo de corrupção, após a revelação do caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil.
Ainda assim, é maior o número de entrevistados que considera o governo Dilma pior do que o governo Lula (23%). A gestão Dilma é considerada superior por 15%.
LEMBRANÇAS
A pesquisa aponta que os assuntos mais espinhosos, e que poderiam abalar a avaliação positiva do governo, foram pouco lembrados pelos entrevistados. É o caso do crescimento do PIB de 2,7% em 2011, citado por apenas 1%. A crise política, que levou à troca da liderança do governo no Senado, foi citado por 4%.
De acordo com o levantamento, os assuntos mais lembrados espontaneamente pelos entrevistados sobre o governo foram os "programas sociais voltados para mulheres" e as "viagens da presidente Dilma".
A pouco mais de dois meses da Conferência Rio +20 e com a votação do novo código florestal voltando à pauta do Congresso, a pesquisa apontou que as ações e políticas para o meio ambiente foram aquelas que apresentaram maior crescimento na aprovação em relação a dezembro, saltando de 48% para 53%.
As áreas com pior avaliação são, de acordo com a pesquisa, impostos (65% de desaprovação), saúde (63%) e segurança pública (61%).
A pesquisa foi realizada entre os dias 16 e 19 de março. No levantamento, foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 municípios.
De: http://www1.folha.uol.com.br
Folha.com - Breno Costa
04/04/2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
A GRUTA DA LOBA
Os próprios romanos contavam como tinha sido fundada a cidade.
Segundo eles, Marte, o deus da Guerra apaixonara-se e engravidara uma vestal (sacerdotisa de Vesta). Como castigo foi determinado por Júpiter que o fruto desse pecado (as Vestais juravam castidade) deveria ser morto ao nascer. Na verdade, não nasceu um baby, mas dois, gêmeos, a quem foram dados os nomes de Rômulo e Remo.
Abandonados em um cesto nas águas do Rio Tibre, eles foram salvos por uma loba (de verdade, de quatro patas e tudo), que os amamentou e os viu crescer. Adultos, Remo desapareceu misteriosamente durante uma tempestade (levado por seu pai? Morto por seu irmão?) enquuanto Rômulo acabaria fundando uma pequena aldeia, que um dia, conquistaria o mundo, Roma, oito séculos antes de Cristo.
Segundo os historiadores Dionísio e Plutarco, os romanos apontavam uma gruta, próxima ao monte Palatino (uma das sete colinas de Roma) na qual os irmãos foram aleitados pela loba. Ainda segundo esses historiadores clássicos, os romanos transformaram a gruta numa espécie de templo onde todos os anos, no mês de fevereiro realizavam ritual em homenagem a Luperco (entidade da natureza e dos ventos, tipo Pã, entre os gregos) que garantia colheita farta e ajudava a mulherada a arranjar marido e ter filhos.
No início do século XX o arqueólogo italiano Rodolfo Lanciani, pesquisando textos antigos, concluiu que a gruta da Loba mãe se localizaria realmente próxima ao Palatino e sob as ruínas do palácio construído por Otávio Augusto, o primeiro imperador romano. Cavou, escavou, procurou feito doido, mas nada encontrou.
Entretanto, há dois anos, arqueólogos passaram a explorar o local com sondas subterrâneas. Em julho, um dos aparelhos detectou um espaço vazio, a 16 metros de profundidade. Era uma câmara circular, com 7 metros de altura e 6,5 de diâmetro, coberta por uma cúpula. Uma filmadora controlada a distância revelou os deslumbrantes mosaicos que cobrem o teto e as paredes, feitos de mármore e conchas. Estudos indicam que essa é mesmo a gruta reverenciada pelos antigos romanos como o local onde vivia a loba que salvou Rômulo e Remo.
Como se vê, Roma ainda é capaz de surpreender o mundo.
Resta agora às meninas interessadas em arranjar marido e ter bons filhos conhecer a cidade eterna, e claro, em breve, dar uma passadinha na gruta da Loba para pedir uma ajudinha de Luperco.
Prof. Péricles
Segundo eles, Marte, o deus da Guerra apaixonara-se e engravidara uma vestal (sacerdotisa de Vesta). Como castigo foi determinado por Júpiter que o fruto desse pecado (as Vestais juravam castidade) deveria ser morto ao nascer. Na verdade, não nasceu um baby, mas dois, gêmeos, a quem foram dados os nomes de Rômulo e Remo.
Abandonados em um cesto nas águas do Rio Tibre, eles foram salvos por uma loba (de verdade, de quatro patas e tudo), que os amamentou e os viu crescer. Adultos, Remo desapareceu misteriosamente durante uma tempestade (levado por seu pai? Morto por seu irmão?) enquuanto Rômulo acabaria fundando uma pequena aldeia, que um dia, conquistaria o mundo, Roma, oito séculos antes de Cristo.
Segundo os historiadores Dionísio e Plutarco, os romanos apontavam uma gruta, próxima ao monte Palatino (uma das sete colinas de Roma) na qual os irmãos foram aleitados pela loba. Ainda segundo esses historiadores clássicos, os romanos transformaram a gruta numa espécie de templo onde todos os anos, no mês de fevereiro realizavam ritual em homenagem a Luperco (entidade da natureza e dos ventos, tipo Pã, entre os gregos) que garantia colheita farta e ajudava a mulherada a arranjar marido e ter filhos.
No início do século XX o arqueólogo italiano Rodolfo Lanciani, pesquisando textos antigos, concluiu que a gruta da Loba mãe se localizaria realmente próxima ao Palatino e sob as ruínas do palácio construído por Otávio Augusto, o primeiro imperador romano. Cavou, escavou, procurou feito doido, mas nada encontrou.
Entretanto, há dois anos, arqueólogos passaram a explorar o local com sondas subterrâneas. Em julho, um dos aparelhos detectou um espaço vazio, a 16 metros de profundidade. Era uma câmara circular, com 7 metros de altura e 6,5 de diâmetro, coberta por uma cúpula. Uma filmadora controlada a distância revelou os deslumbrantes mosaicos que cobrem o teto e as paredes, feitos de mármore e conchas. Estudos indicam que essa é mesmo a gruta reverenciada pelos antigos romanos como o local onde vivia a loba que salvou Rômulo e Remo.
Como se vê, Roma ainda é capaz de surpreender o mundo.
Resta agora às meninas interessadas em arranjar marido e ter bons filhos conhecer a cidade eterna, e claro, em breve, dar uma passadinha na gruta da Loba para pedir uma ajudinha de Luperco.
Prof. Péricles
terça-feira, 3 de abril de 2012
CULPA DO LULA
Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
- É nisso que deu oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique.
- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer...
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas...
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.
Luis Fernando Verissimo
“O Estado de S.Paulo”
- É nisso que deu oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique.
- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer...
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas...
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.
Luis Fernando Verissimo
“O Estado de S.Paulo”
domingo, 1 de abril de 2012
CORRIDA DE BASTÃO
Garganta seca, árida como o sertão nordestino.
Camisa encharcada, grudada ao corpo.
Corpo repleto de dor.
Doem as pernas com mais nitidez, mais outras dores se misturam pelo tórax, braços, cabeça de um jeito que já não sabe onde a dor começa e onde ela termina.
A sede aperta. A garganta fica mais árida.
Ah como seria bom um descanso sob uma plácida sombra que protegesse desse sol abrasador!
Já na segunda metade da curva sente que o adversário dispara mais a frente.
É cruel correr contra quem tem tantas reservas e proteções...
Mas, a partir de um certo ponto, quase ao final da curva, já pode ver a figura lépida de seu parceiro de corrida.
Posicionado, mão estendida para trás, ansiosamente aguarda inquieto a sua vez.
Oh senhor! Finalmente. Minha hora de passar esse bastão que pesa mais que uma montanha.
Acelera os passos antes trôpegos, mas agora renovados. E voa na pista. Vôa como voaram um dia seus sonhos mais juvenis.
A mão estendida do companheiro aguarda para revezamento do bastão. Mal se contem.
Não há mais calor, não há mais sede, não há dor que seja maior que a felicidade de passar o bastão.
E quando estende o braço e sente que a mão segura à frente se apossa do objeto, ele desacelera as pernas, mas não desacelera o coração.
Corpo curvado com as mãos nos joelhos, mal consegue respirar. O que será que lhe tira mais o ar? O longo trajeto percorrido ou a emoção da missão cumprida?
Não poderia morrer jamais, sem cumprir o seu destino.
E seu destino se completava apenas com a passagem do bastão para outra mão amiga.
Seus olhos estão úmidos, mas não é mais de esgotamento ou fadiga, é de alegria e prazer de ter feito a coisa certa.
Então, senta na pista e fecha os olhos. As recordações do percurso cumprido ainda machucam. Ouve as vozes dos que vieram antes e já se calaram. Talvez seja hora de adormecer, mas de um adormecer repleto de esperança no resultado final dessa corrida, aonde com certeza, a vitória do mais justo chegará.
Essa semana o Brasil assistiu a estréia pública de um movimento que, nascido no Rio Grande do Sul, já se articulava por todo o Brasil a mais ou menos quatro anos.
Trata-se do “Levante Popular da Juventude”, movimento apartidário, composto majoritariamente por jovens estudantes brasileiros que querem que lhes seja contado direito à história do golpe de 64 e de sua ditadura.
Sabem esses moços, que outros moços como eles, foram mortos, muitos sob a tutela do estado, em meio a dilacerantes torturas.
Estão conscientes que muitas torturas ainda exercem seu nefasto poder na memória, nos traumas, nas fobias de homens e mulheres, marcados, presos, violentados, mutilados em porões imundos e clandestinos.
Sabem eles que muitas famílias ainda não puderam enterrar seus mortos, pois seus corpos permanecem desaparecidos e insepultos.
E também sabem que, se nada for feito, outros golpes como o de 64 e outras ditaduras ainda virão, podendo ser eles mesmos as próximas vítimas.
Esses jovens querem que os torturados, fartamente conhecidos sejam colocados no seu lugar de direito da história: o banco dos réus.
Para pelo menos quatro gerações de brasileiros o nascimento desse movimento de jovens, é muito mais do que apenas uma boa notícia. Para muitos veteranos de guerra o sentimento é de passagem do bastão.
A geração democrática mais nova está assumindo seu posto na luta pela democracia.
Há no ar, um sentimento de fim de jornada, que antes de ser triste, é de natural alegria.
Finalmente podem descansar os fatigados corredores, pois só poderiam descansar se houvesse convicção de que não seriam dos tiranos as últimas palavras ditas sobre tudo o que aconteceu.
Prof. Péricles
Para saber mais sobre o movimento, acesse www.levante.org.br
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