terça-feira, 28 de julho de 2015

DO ÓDIO À ESPERANÇA


Por Frei Betto



Sabem os publicitários que uma mentira repetida reiteradas vezes acaba aceita como verdade. É o caso dos sucos de caixinhas, vendidos como “naturais”. E ainda há quem pergunte por que tanta incidência de câncer…

A Operação Lava-Jato presta excelente serviço à nação. Leva corruptores à cadeia e traz à luz bilionárias somas de recursos públicos destinadas a favorecer interesses privados.

Mas por que a Lava-Jato é um samba de uma nota só? Será que houve corrupção apenas no governo do PT? E por que o Judiciário permite o vazamento de depoimentos especificamente centrados no PT? Algum diretor de revista anda corrompendo investigadores da Lava-Jato para obter o conteúdo dos depoimentos dos réus antes que cheguem à Justiça?

O fato é que se criou, no Brasil, um clima de amargura e ódio. Amargura, porque Dilma prometeu na campanha o contrário do que faz agora: não tocar nos direitos dos trabalhadores. O ajuste fiscal desajusta as conquistas obtidas nos últimos 12 anos. Estão de volta a recessão, os juros altos, a inflação e, em consequência, o desemprego, a retração da indústria e o fechamento de lojas. Após 12 anos de avanços, o Brasil dá marcha a ré.

O ódio resulta da falta de consciência política. Quando não se consegue racionalizar uma experiência traumática, o ódio emerge. Por isso se procura terapia quando as emoções são embaralhadas pelo ódio e a visão obnubilada pela sensação de desespero.

Ou se busca uma “saída” no gesto vingativo: o jovem branco que, em nome da supremacia “ariana”, extermina negros em uma igreja, ou o Exército Islâmico que, em nome de Deus, degola inimigos…

Muitos me perguntam se guardo ódio dos torturadores de meus tempos de prisão. Digo com sinceridade: não. Assim ajo, não por virtude, mas por comodismo. Aprendi que o ódio destrói primeiro quem odeia e não quem é odiado. Shakespeare já havia dito o mesmo com mais estilo: “Odiar é tomar veneno esperando que o outro morra”.

O PT promoveu a inclusão econômica de milhões de brasileiros, mas se omitiu quanto à inclusão política. Não politizou a nação. Não organizou os trabalhadores. Não fortaleceu os movimentos sociais. Ao contrário, estimulou o sonho consumista e, agora, é vítima da síndrome da criança impedida de tomar sorvete – a carência gera frustração e raiva.

Resta à sociedade civil descruzar os braços e não esperar dos políticos no poder. É hora de arregaçar as mangas e reorganizar a esperança. Com meros protestos não sairemos dessa depressão cívica. Há que ter propostas.

O Brasil soube dar a volta por cima diante de muitos períodos críticos, tanto na monarquia quanto na República. Precisamos é deixar de lamentar e articular em especial os jovens e os movimentos sociais.


Frei Betto, é escritor.

sábado, 25 de julho de 2015

FRANCO E MADALENA



Ela era filha e neta de espanhóis, mas nascida aqui na querência mais ao sul do Brasil.

Tinha os cabelos negros, pouco abaixo dos ombros e olhos graúdos numa face pálida e linda.

Deveria ser acompanhada por uma placa de trânsito: “curvas perigosas”.

Porque eram harmoniosas, generosas, sonhadoras, mas, extremamente sinuosas.

Na base de tudo isso, um par de pernas que, naqueles tempos de minissaia provocavam a imaginação do mais sem imaginação da turma.

Seu nome era Madalena, Mada para os amigos.

O macharedo parava tudo quando ela passava, e ficava aquele silêncio que fazem os predadores quando uma presa deliciosa aparece em seu território.

O alvo de desejo de 11 em cada 10 marmanjos.

Era difícil achar um defeito naquela filha de Afrodite, pois junto com a escultura brilhava um sorriso derretedor de pedras, um jeito de ajeitar os cabelos que provocava convulsões e espasmos de desejo.

Naturalmente, era também, o alvo do pensamento de seus colegas de turma na faculdade. Quase todos militantes de partidos e organizações de esquerda, proibidas naqueles duros tempos de ditadura e de repressão.

Simpática, simples e inteligente, era quase uma lenda na faculdade, o que, como sempre, provocava o ódio e a inveja do pessoal da engenharia.

Que injustiça, diziam eles, que negavam a nós os “comunistas”, qualquer direito à felicidade, uma mulher dessas fazendo o curso de história.

Mas, se é verdade que a perfeição não existe, também é verdade que nenhuma dor dói mais do que a decepção.

Mada, oh céus, era fã do odiado General Franco.

Francisco Franco, o generalíssimo que liderou os fascistas na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939 e que destruiu a democracia socialista que florescia no país.

Franco, que apoiara Hitler e Mussolini na segunda guerra e que fora responsável por milhares de mortes, prisões e torturas nos longos anos em que governou a Espanha com mãos de ferro até sua morte em 1975.

Não, era insuportável ouvir Mada falando bem de Francisco (Franco).

Para aqueles militantes da esquerda a contradição entre a bela Mada e seu horrendo discurso lembrava Médici fazendo balõezinhos com uma bola e se fazendo de bom moço.

Era uma missão estratégica traze-la para os domínios da razão e às verdades da democracia.

Como ela olhava com um pouco mais de atenção um dos nossos bravos heróis da resistência, formulou-se uma missão de guerra.

Claro que nosso companheiro de lutas que era olhado um pouco mais devagar pelos olhos límpidos de Mada, era a peça chave no nosso plano.

Nosso herói deveria penetrar no território inimigo e após efetivar a conquista, resgatar Mada para “nosso lado”. Muito simples.

Freneticamente, o plano foi elaborado e posto em ação.

Todos passaram a falar maravilhas do nosso combatente fazendo com que as maravilhas chegassem as lindas orelhinhas de nosso alvo.

Nas cervejadas depois das aulas, todas as amigas dela (incluindo algumas detestáveis infiltradas) eram convidadas para ter certeza que ela compareceria.

A cadeira ao lado dela, claro, era estrategicamente reservada ao nosso herói.

E assim as coisas foram indo. Tudo era feito para deixa-los juntos.

Para a felicidade do alto-comando tudo estava dando certo, e a primeira vez que os vimos de mãos dadas comemoramos com abraços emocionados.

E quando soubemos que, aquela noite seria a primeira entre os dois, preparamos nosso íntimo para a vitória certa.

No dia seguinte, todos nós reunidos na faculdade esperávamos pelo nosso guerreiro.

Já imaginávamos Madalena com a camiseta do Tche. Ficaria muito mais linda.

Ele chegou sorridente e acompanhado e ao se aproximar do grupo sentimos um inevitável arrepio ao ver que Mada vestia uma camisa escrito “Viva Franco”.

Passaram por nós de mãos dadas, e antes de dobrar o corredor ainda disse “Até la vista Compañeros”.

Havíamos perdido nosso agente em combate. Para sempre...

Aprendemos que o amor é maior, bem maior, que a ideologia.

Maldito Franco!



Prof. Péricles

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O PRESÍDIO E A CLIENTELA


Por Roberto Malvezzi



O mercado criado em torno de presos e presídios movimenta muito mais grana que a imaginação popular possa ver. Só o mercado de quentinhas servidas aos 715 mil presos no Brasil (4º maior população carcerária do mundo) movimenta cerca de dois bilhões de reais ao ano.

Quando você vai conferir quais empresas fornecem essas quentinhas, muitas delas são de políticos ou de parentes deles, como é o caso dos Perrela em Minas Gerais. Além do mais, essas empresas também são financiadoras de campanhas eleitorais (Os mercadores das cadeias, Carta Capital).

Além do mais, 30 grandes presídios brasileiros estão privatizados. Nesse sentido, cada preso é um cliente. Portanto, presídios lotados são evidências de lucros, presídios vazios são sinais de prejuízos, como em qualquer hotel.

O detalhe é que cada preso em presídio privado é pago com o dinheiro público. A Pastoral Carcerária estimou em R$ 3.000,00 o custo de cada preso privado para o Estado.

Poderíamos investir esse dinheiro em escolas, mas preferimos investir em presídios.

Eduardo Cunha conseguiu reduzir a maioridade penal. Votaram com ele o PMDB, o PSDB, o DEM e outros partidos, gente da oposição e da tal “base aliada”. Sem dúvida, a indústria dos presídios está feliz com eles. Haverá mais clientes para suas empresas.

Não haverá nenhuma redução da violência no Brasil ao se reduzir a maioridade penal. Pelo contrário, vamos fortalecer as facções que dominam os presídios em todo o Brasil.

Ali o preso não tem escolha, ou participa de alguma facção, ou ele e sua família estarão marcados para morrer.

Portanto, nessa votação há interesses econômicos e eleitoreiros, mas nenhum interesse na paz e na justiça. Teremos outras votações antes da decisão final, mas com tantas manobras talvez a razão tenha poucas chances.

Menores de 18 podem cometer crimes hediondos, sim. Mas, em casas de ressocialização muitos são recuperáveis. Nos presídios, nunca. Os congressistas sabem, mas por todos os motivos acima, preferem jogar os adolescentes na jaula dos leões.

Assim o Brasil vai se tornando cada vez mais uma sociedade policialesca, repressiva, mas não de paz.

Como diziam os profetas da antiguidade, ou mesmo os da modernidade – como Gandhi, Luther King, Mandela e Papa Francisco -, a “paz é fruto da justiça”, não dos presídios e da repressão policial.


Roberto Malvezzi é músico, Filósofo e Teólogo.

terça-feira, 21 de julho de 2015

VÍRUS CUNHA



Por Mário Augusto Jakobskind

Os jornalões e os telejornalões estão apresentando o Brasil mergulhado no abismo. As edições diárias mostram um quadro catastrófico, sendo que alguns colunistas não escondem o objetivo de detonar a Presidenta Dilma Rousseff.

O quadro é de crise política estimulada pela mídia conservadora, como pode se verificar através de vários exemplos.

Na edição do último domingo, Élio Gaspari, herdeiro dos arquivos do coronel Golbery do Couto e Silva e do general Ernesto Geisel repete diversas vezes o que tinha dito na edição do dia anterior o presidente reeleito do PSDB, Aécio Neves Cunha.

Élio Gaspari, parecendo ter baixado nele o espírito maligno do coronel Golbery, perguntou inúmeras vezes em sua coluna se Dilma conseguirá completar o mandato de quatro anos. Golbery, o eterno golpista, não faria melhor.

Na mesma linha, o imortal Merval Pereira diariamente reproduz reflexões que objetivam convencer os leitores que Dilma Rousseff não vai resistir por muito tempo. Para ele, o governo chegou ao fim.

Nos telejornalões o noticiário não fica muito atrás em matéria de apresentar o país em crise violenta e sem perspectiva. É a tal coisa, como o papo catastrófico tem se repetido constantemente, o telespectador acaba convencido de que o Brasil caiu mesmo no abismo.

É a técnica de Joseph Goebbels, o responsável pela propaganda do III Reich nazista com a utilização da técnica de que uma mentira repetida várias vezes acaba virando uma verdade.

Fazendo dobradinha com o noticiário catastrófico, na área política, além de Aécio Neves Cunha, um outro Cunha, o Eduardo, que preside a Câmara, visivelmente passou dos limites. Tornou-se um câncer político a ser removido. E sob pena de se não o for acabar tornando-se uma metástase que fere de morte todo o corpo político.

Os dois Cunhas, segundo o noticiário, têm se encontrado, o que é um mau sinal para a democracia brasileira.

Neves Cunha até hoje não se conforma com a derrota sofrida no segundo turno presidencial, em outubro do ano passado. Já o presidente da Câmara dos Deputados conseguiu, através de manobra torpe que os parlamentares aprovassem, mudando de opinião em menos de 12 horas, a redução da maioridade penal para 16 anos.

Eduardo Cunha subverteu o regimento que impede a votação de um projeto derrotado numa mesma legislatura. Graças a esse jogo sujo, a vingança venceu e se isso prevalecer na votação no Senado e novamente na Câmara, os menores entrarão nas prisões com canivetes e facas e lá vão se especializar no uso de revólveres e metralhadoras.

A manobra de Cunha, segundo o próprio, teve por objetivo satisfazer a opinião pública apoiadora da redução da maioridade penal por estar envenenada pelo espírito de vingança, com o apoio da mídia conservadora.

Na verdade, Eduardo Cunha se empenhou em causa própria, porque em sua campanha, segundo a revista Galileu, ele obteve financiamentos empresariais dos mais diversos, inclusive da Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), produtora e comercializadora de cervejas. Ambev, por sinal, de propriedade de Jorge Paulo Lemann, acusado de financiador de um esquema golpista.

Nesse sentido, cabe uma pergunta que não quer calar: sendo Eduardo Cunha um notório evangélico, como se explica ele ter aceitado que uma entidade cervejeira tenha doado um milhão de reais para a sua campanha? Pode ser que para neutralizar esse apoio Cunha tenha aceitado, como consta também da Galileu, 550 mil reais da Coca Cola e assim sucessivamente.

Como se não bastasse, ainda segundo a revista Galileu, Eduardo Cunha em abril do ano passado foi o relator de uma medida provisória que perdoava dois bilhões de reais dos planos de saúde. E meses depois o mesmo Cunha recebeu para a sua campanha doação de 500 mil reais por parte da Bradesco Saúde e Vida e Previdência, um dos maiores planos de saúde do Brasil.

Eduardo Cunha, como Aécio Neves Cunha, tem um objetivo primordial, o poder a qualquer preço. Eduardo agora quer porque quer que o Parlamentarismo volte à ordem do dia, não bastasse a rejeição dessa forma pelos eleitores em duas oportunidades, em 1963 e na década de 90.

É por aí que passa a atual crise brasileira, que remete (como farsa) também a 1954 e 1964, quando empresários e militares se uniram, primeiro para detonar Getúlio Vargas, golpe evitado com o sacrifício heróico do Presidente e dez anos depois com a derrubada do Presidente constitucional Jango Goulart.

Aí, vale repetir, esteve em cena o Coronel Golbery do Couto e Silva, que doou seus arquivos para o jornalista Élio Gaspari.


Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil).

sábado, 18 de julho de 2015

PROF. CARLOS - PRECISAMOS FICAR VISÍVEIS

Meu amigo e colega Prof. Carlos é distante. Mais exatamente, de Sergipe, aquele pedaço abençoado do nordeste do Brasil.

Entretanto muitas coisas nos aproximam, além da virtualidade.

Nós dois somos professores da área das humanas. Eu na história, ele na Geografia.

Além disso, nós dois estendemos nosso olhar sobre a paisagem política de nosso tempo com aquela ânsia de vermos se consolidar no Brasil, uma sociedade mais justa e mais fraterna.

Diriam os conservadores como somos de “esquerda”. Mas discordo. Somos sonhadores e sonhadores não se rotulam pelo lado que olha, pois, todo olhar de sonhador sai assim, de revesgueio e navega livremente, pois é livre o olhar de quem ousa sonhar.

Somos amantes inveterados de nossa respectiva terra mãe. Eu apaixonado por minha Porto Alegre, ele, encantado por sua Itabaiana de seres e contos mágicos.

O prof. Carlos, o Antônio Carlos, é bem assim.

Apesar da Licenciatura em Geografia, no Pós-Graduação em Didática do Ensino Superior e de seus 21 anos como professor, não deixou de ser aquela criança encantada por Itabaiana que sonha com um Brasil mais solidário e companheiro, ele diria Itabaianado.

Não somos irmãos de carne, mas somos irmãos em esperança. Esperança num mundo de inclusão, de oportunidades, de igualdades e de progresso.

Entendemos que, enquanto Estado se define por território e soberania, pátria se define por povo, e é esse povo mais humilde que é a nossa pátria.

Por isso, peço a todos os meus amigos, leitores, alunos, companheiros. A todos os que navegam pelo nosso humilde Blog que, conheçam também o Blog de meu colega.

Você pode encontra-lo em HTTP://carlos-geografia.blogspot.com.br.

Para os interessados em assuntos de educação tem ainda o HTTP://debatendo-a-educacao.blogspot.com.br.

Tenho certeza que você irá gostar, e muito, dos textos que tem por aquelas bandas virtuais. Muitos de autoria do próprio Carlos e outros de textos selecionados de outros autores.

Por enquanto, deixo vocês com “PRECISAMOS FICAR VISÍVEIS”, de autoria de meu amigo.

Divirtam-se.


PRECISAMOS FICAR VISÍVEIS

O grande tema atual em nível nacional é referente aos Conselhos (de Educação, de Segurança, de Comunicação, etc.) e o grande problema é que a chamada Grande Imprensa está denunciando como censura o interesse da sociedade de controlar os meios de comunicação existente.

De acordo com a nossa constituição, a comunicação (não confundir com os equipamentos de comunicação) é um direito de todo cidadão e é considerado um direito universal pelos Direitos Humanos.

Também, de acordo com a nossa Constituição Federal, é vedado a concentração e controle de diversos meios de comunicação por uma única família.

Mas, como convencer todos os cidadãos brasileiros que a comunicação é um Direito Universal e está garantido na nossa Constituição Federal. Por que o cidadão não vê a comunicação como um Direito Universal igual ao Direito a Saúde e ao Direito a Educação?

Essa concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucas famílias (e também em uma região) traz vários problemas. Todo o conteúdo apresentado irá ser de acordo (os proprietários irão ditar as normas) com a vontade e o que for de interesse dessas poucas famílias que controlam a comunicação.

Isso está levando o brasileiro a não ver, ouvir e falar o Brasil como ele realmente é.

Mesmo na Região Sudeste (onde se concentram a grande maioria dos meios de comunicação), as pessoas estão perdendo a sua identidade. Basta ver a quantidade de expressões em inglês que se utiliza em todas as áreas da sociedade. Chegou ao cúmulo do Jornal O Globo (on Line) apresentar (em algumas ocasiões) o nome Brasil grafado com z (Brazil).

No Jornal Nacional (TV Globo) chegou a ocultar informações sobre o candidato à presidência de sua preferência.

Essa maneira de fazer comunicação é que está levando os brasileiros a tirarem conclusões erradas, até sobre si mesmo, por falta de informações de nós mesmos.

Como exemplo temos os nordestinos que passam tanto tempo vendo e ouvindo esses meios de comunicação, que geralmente só mostram a maneira de falar e viver das Regiões Sudeste-Sul, que estranham a própria maneira de falar, das músicas e tradições deles próprios.

Nesse controle, pelos donos dos meios de comunicação, o brasileiro está conhecendo cada vez menos o seu próprio país, basta ver os as manifestações racistas e os argumentos utilizados por tais pessoas.

Precisamos urgentemente ver o Brasil que precisamos e não sermos obrigados a ver o Brasil que os donos dos meios de comunicação (e seus patrocinadores) nos impõem censurando o que não gostam ou acham errados.

Antônio Carlos Vieira
Prof. Carlos

IGREJA EM SAÍDA


Por Leonardo Boff

Celebrando ainda a extraordinária encíclica sobre “o cuidado da Casa Comum”, voltamos a refletir uma perspectiva importante do Papa Francisco, um verdadeiro logotipo de sua compreensão de Igreja: “uma Igreja em saída”.

Essa formulação encerra uma velada crítica ao modelo anterior de Igreja que era uma Igreja “sem saída” devido aos diversos escândalos de ordem moral e financeira, o que forçou o Papa Bento XVI a renunciar, uma Igreja que perdeu seu melhor capital: a moralidade e a credibilidade dos cristãos e do mundo secular.

A “Igreja em saída” quer marcar uma ruptura com aquele estado de coisas. Essa palavra “ruptura” irrita os representantes do establishment eclesiástico. Mas nem por isso deixa de ser verdadeira. E então se coloca a pergunta: “saída” de onde para onde? Vejamos alguns passos:

– Saída de uma Igreja-fortaleza que protegia os fiéis contra as liberdades modernas para uma Igreja-hospital de campanha que atende a toda pessoa que a procura, pouco importa seu estado moral ou ideológico.

– Saída de uma Igreja-instituição absolutista, centrada em si mesma para uma Igreja-movimento, aberta ao diálogo universal, com outras Igrejas, religiões e ideologias.

– Saída de uma Igreja-hierarquia, criadora de desigualdades para uma Igreja-povo de Deus, fazendo de todos irmãos e irmãs: uma imensa comunidade fraternal.

– Saída de uma Igreja-autoridade eclesiástica, distanciada dos fiéis ou até de costas a eles, para uma Igreja-pastor que anda no meio do povo, com cheiro de ovelha e misericordiosa.

– Saída de uma Igreja-Papa de todos os cristãos e bispos que governa com o rígido direito canônico para uma Igreja-bispo de Roma, que preside na caridade e só a partir daí se faz Papa da Igreja universal.

– Saída de uma Igreja-mestra de doutrinas e normas para uma Igreja de práticas surpreendentes e do encontro afetuoso com as pessoas para além de sua inscrição religiosa, moral ou ideológica. As periferias existenciais ganham centralidade.

– Saída de uma Igreja de poder sagrado, das pompa e circunstância, dos palácios pontifícios e titulaturas de nobreza renascentista para uma Igreja-pobre e para os pobres, despojada de símbolos de honra, servidora e porta-voz profética contra o sistema de acumulação de dinheiro, o ídolo que produz sofrimento e miséria e mata as pessoas.

– Saída da Igreja-que fala dos pobres para uma Igreja-que vai aos pobres, conversa com eles, abraça-os e os defende.

– Saída de uma Igreja-equidistante dos sistemas políticos e econômicos para uma Igreja-que toma partido em favor das vítimas e que chama pelo nome os produtores das injustiças e convida a Roma representantes dos movimentos sociais mundiais para discutir com eles como buscar alternativas.

– Saída de uma Igreja-automagnificadora e acrítica para uma Igreja-da verdade sobre si mesma contra cardeais, bispos e teólogos zelosos de seu status, mas com cara de “vinagre ou de sexta-feira santa”, “tristes como se fossem ao próprio enterro”, enfim, uma Igreja feita de pessoas humanas.

– Saída de uma Igreja-da ordem e do rigorismo para uma Igreja-da revolução da ternura, da misericórdia e do cuidado.

– Saída de uma Igreja-de devotos, como aqueles que aparecem nos programas televisivos, com padres artistas do mercado religioso, para uma Igreja-compromisso com a justiça social e com a libertação dos oprimidos.

– Saída de uma Igreja-obediência e da reverência para uma Igreja-alegria do evangelho e de esperança ainda para esse mundo.

– Saída de uma Igreja-sem o mundo que permitiu surgir um mundo sem Igreja para uma Igreja-mundo, sensível ao problema da ecologia e do futuro da Casa Comum, a mãe Terra.

Estas e outras saídas mostram que a Igreja não se reduz apenas a uma missão religiosa, acantonada numa parte privada da realidade. Ela possui, além disso, uma missão político-social no sentido maior desta palavra, como fonte de inspiração para as transformações necessárias que resgatem a humanidade para um tipo de civilização do amor e da compaixão, que seja menos individualista, materialista, cínica e destituída de solidariedade.

Esta Igreja-em-saída devolveu alegria e esperança aos cristãos e reconquistou o sentimento de ser um lar espiritual. Granjeou pela simplicidade, despojamento e acolhida no amor e na ternura, a estima de muitas pessoas de outras confissões ou de simples cidadãos do mundo e mesmo de chefes de Estado que admiram a figura e as práticas surpreendentes do Papa Francisco em favor da paz, do diálogo entre os povos e da renúncia a toda violência e a guerra.

terça-feira, 14 de julho de 2015

GRÉCIA: DIGNIDADE E COBIÇA



Por Leonardo Boff


Há momentos na vida de um povo em que ele deve dizer “Não”, para além das possíveis consequências. Trata-se da dignidade, da soberania popular, da democracia real e do tipo de vida que se quer para toda a população.

Há cinco anos que a Grécia se debate numa terrível crise econômico-financeira, sujeita a todo tipo de exploração, chantagem e até terrorismo por parte do sistema financeiro, especialmente de origem alemã e francesa. Ocorria uma verdadeira intervenção na soberania nacional com a pura e simples imposição das medidas de extrema austeridade excogitadas, sem consultar ninguém, pela Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e o FMI).

Tais medidas implicaram uma tragédia social, face à qual o sistema financeiro não mostrava nenhum sentido de humanidade. “Salve-se o dinheiro e que sofra ou morra o povo”. Efetivamente desde que começou a crise ocorreram mais de dez mil suicídios de pequenos negociantes insolventes, centenas de crianças deixadas nas portas dos mosteiros com um bilhete das mães desesperadas: ”não deixem minha criancinha morrer de fome”. Um sobre quatro adultos estão desempregados, mais da metade dos jovens sem ocupação remunerada e o PIB caiu 27%. Não passa pela cabeça dos especuladores que atrás das estatísticas se esconde uma via-sacra de sofrimento de milhões de pessoas e a humilhação de todo um povo. Seu lema é “a cobiça é boa”. Nada mais conta.

Os negociadores do novo governo grego de esquerda, do Syriza, com o primeiro ministro Alexis Tsipras e seu ministro da fazenda um acadêmico e famoso economista da teoria dos jogos Yanis Varoufakis que quiseram negociar as medidas de austeridade duríssimas encontrarm ouvidos moucos. A atitude era de total submissão: ”ou tomar ou deixar”. O mais duro era o ministro das Finanças alemão Wolfgang Sträuble: ”não há nada para negociar; apliquem-se as medidas”. Nada de uma estratégia do ganha-ganha, mas pura e simplesmente do ganha-perde. A disposição era de humilhar o governo de esquerda socialista, dar uma lição para todos os demais países com crises semelhantes (Italia, Espanha, Portugal).

A única saída honrosa de Tsipras foi convocar um referendo: consultar o povo sobre se diria um Não (OXI) ou um Sim (NAI). Qual a posição face à inflexibilidade férrea da austeridade que aparece totalmente irracional por levar uma nação ao colapso, exigindo uma cobrança da dúvida reconhecidamente impagável. O própro Governo propôs a consulta e sugeriu o Não. Os credores e os governos da França e da Alemanha fizeram ameaças, praticaram um verdadeiro terrorismo nas palavras do ministro Varoufakis e falsificaram as informações como se o referendo fosse para ficar na zona do Euro ou sair, quando na verdade não se tratava nada disso. Apenas era de aceitar ou rejeitar o “diktat” das instituições financeiras européias. A Grécia quer ficar na zona do Euro.

A vitória de domingo dia 5 de julho foi espetacular para o Não: 61% contra 38% do Sim.

Primeira lição: os poderosos não podem fazer o que bem entendem e os fracos não estão mais dispostos a aceitar as humilhações. Segunda lição: a derrota do Sim mostrou claramente o coração empedernido do capital bancário europeu. Terceiro, trouxe à luz a traição da Unidade Européia a seus próprios ideais que era a integração com solidariedade, com igualdade e com assistência social. Renderam-se à lógica perversa do capital financeiro.

A vitória do Não representa uma lição para toda a Europa: se ela quer continuar a ser súcuba das políticas imperiais norte-americanas ou se quer construir uma verdadeira unidade européia sobre os valores da democracia e dos direitos. O insuspeito semanário liberal Der Spiegel advertia que através da Sra. Merkel, arrogante e inflexível, a Alemanha poderia, já pela terceira vez, provocar uma tragédia européia. Os burocratas de Bruxelas perderam o sentido da história e qualquer referência ética e humanitária.

Por vingança o Banco Central Europeu deixou de subministrar dinheiro para os bancos gregos continuarem a funcionar e os obrigou a fechar.

Uma lição para todos, também para nós: quando se trata de uma crise radical que implica os rumos futuros do país, deve-se voltar ao povo, portador da soberania política e confiar nele. A partir de agora os credores e as inflexíveis autoridades da zona do euro terão pela frente não um governo que eles podem aterrorizar e manipular, mas um povo unido que tem consciência de sua dignidade e que não se rede à avidez dos capitais.
Como dizia um cartaz:”Se não morremos de amor, por que vamos morrer de fome”?

Na Grécia nasceu a democracia de cunho elitista. Agora está nascendo uma democracia popular e direta. Ela será um complemento à democracia delegatícia. Isso vale também para nós.

Leonardo Boff, é filósofo, ecologista e escritor.

sábado, 11 de julho de 2015

FOGO, AMOR E OUTRAS REVOLUÇÕES



Quando o homem descobriu o fogo, descobriu também uma arma, além de uma forma de tornar as noites geladas mais quentes.

E nunca mais parou de descobrir.

Foi o fogo que fez com que os indivíduos e indivíduas dos grupos sentassem lado a lado para se aquecer. Descobriram a prosa, e provavelmente, também foi quando nasceu a mentira.

Não precisar ficar olhando para todos os lados para não ser surpreendido pelos predadores (os animais temiam o fogo) permitiu que ele olhasse outras coisas, como a menina ao lado.

Foi quando nasceu o namoro.

Sem medo de surpresas indivíduo e indivídua puderam se dedicar a um sexo mais elaborado, abandonando a velha rapidinha e nesse fogo foi possível sobreviver a era glacial.

Sem dúvida o fogo foi revolucionário. A primeira grande revolução humana.

Quando o homem inventou a roda, inventou também outras coisas que vieram juntas.

E nunca mais parou de inventar.

O menor esforço para levar pesos a longas distâncias possibilitou o surgimento da pressa, e, em pouco tempo havia uma disputa entre os indivíduos de quem fazia a melhor e mais competente roda para impressionar as indivíduas.

Nasceu assim a ostentação e o Magal sem som, porque o rádio ainda levaria um tempo para ser inventado.

A descoberta da agricultura foi a segunda grande revolução humana.

Produzir o próprio alimento tornava o homem um produtor, o único do ecossistema planetário e superior aos demais animais eternamente dependentes da caça e da coleta.

O homem deixou de ser dependente do meio para virar um transformador do meio.

E nunca mais deixou de transformar.

Se olharmos nosso planeta com os olhos do tempo veríamos que hoje, a paisagem transformada é superior a paisagem primitiva.

O homem transformou tudo e bagunçou com tudo também.

Regrou terras inférteis, secou pântanos, subiu montanhas, ocupou desertos. Fez cidades e países cheios de gente que moram em outras transformações sobrenaturais que chamamos casas, ou apartamentos.

Com o advento da agricultura, nas comunidades mesolíticas surgiram coletividades que dividiam o trabalho por sexo e idade. Havia as tarefas para os homens, como preparar e limpar a terra cultivada de tudo que fosse inútil ao plantio e tarefas para as mulheres, como lançar a semente ao solo e depois colher o resultado.

Tudo era tão bem dividido e honesto que os historiadores chamam de “comunismo primitivo”.

Mas o tempo foi passando e o homem evoluindo (?).

Na Idade dos Metais, com o crescimento da população, surgem tarefas específicas. Surgem os especialistas. Militar, governo, comerciante, etc., e essa especialização deu origem as classes sociais.

Os indivíduos se apropriaram dos meios de produção e relegaram as indivíduas a uma situação de inferioridade social.
Não foi pela força que o homem se tornou senhor e a mulher satélite. Foi pela apropriação, da tecnologia (ferramentas) e da propriedade privada.

O comunismo primitivo e a divisão das tarefas por sexo e idades deram lugar a sociedades mais evoluídas sendo nelas o trabalho dividido de acordo com a especialização enquanto a posse deu origem a propriedade privada e as diferenças sociais.

A mulher, portanto, foi a primeira vítima da ideia de tornar as coisas de todos, algo de alguém.

Aliás, uma péssima ideia.

Outra ideia revolucionária foi a religião.

Como o homem não sabia de quase nada dos fenômenos naturais, criava deuses para explicar esses fenômenos.

Quanto mais descobertas mais deuses, e como o homem não parava de descobrir, a lotação de deuses foi inchando e tornando-se difícil lembrar das preferências de cada um deles e de suas “individualidades”.

Surgiu assim o clero, o sacerdote, o indivíduo que parou de produzir qualquer coisa útil para se tornar especialista em divindades, culto, exigências dos deuses e destino.

Foi outra apropriação indébita, a da fé pública que se tornou fé privada.

Foi então que as indivíduas, percebendo que os indivíduos usariam a posse dos meios de produção para explora-las, fizeram a terceira grande revolução humana, inventaram o amor.

Mas essa, já é outra história.

Prof. Péricles

quarta-feira, 8 de julho de 2015

EPIDEMIA FATAL AMEAÇA O BRASIL



A população brasileira ainda não percebeu a extensão de todo o mal.

O pânico ainda não se estabeleceu, mas, definitivamente, o perigo é real e imediato.

Vivemos no país uma grave epidemia.

Talvez a mais grave epidemia pela qual nosso país já foi alguma vez assolado.

O vírus, o mais agressivo já registrado é o vírus do ódio.

Trata-se de uma moléstia que, após ser contraída ataca diretamente o coração.

O tecido social em sua epiderme da fraternidade é gravemente atingindo abrindo rombos internos, que, provavelmente, jamais cheguem a cicatrizar.

Perguntem aos pais e amigos de algum desaparecido político se a dor já passou.

O ódio costuma atacar o sistema imunológico do amor, em seus valores de solidariedade, compaixão e igualdade.

Os sintomas mais comuns do ódio são: arrogância alta, aversão aos mais pobres, soberba contra negros, índios, quilombolas, gays, lésbicas. São comuns a ocorrência de delírios que iludem o portador de já ter sido um dia superior “a tudo o que não presta”, e de ter vivido num tempo em que “cada um ficava no seu lugar” donde, por extensão, o doente passa a odiar pobres que andam de avião, negros que namoram brancas e qualquer plebeu que compre carro sem ser patrício.

O doente manifesta saudades da ditadura militar e dificuldades de raciocínio político lógico.

A visão fica turva a ponto de considerar que o problema da violência seja a maioridade aos 18 anos e não aos 5.

A doença também se manifesta com problemas de memória já que o afetado passa a acreditar que a corrupção começou hoje assim como os problemas de saúde e educação pública, considerando que antes o país era uma espécie de paraíso ético de povo saudável e educado.

Numa espécie de Heizeimer político vê corruptos como defensores da moral e indigentes intelectuais como sábios.

Normalmente adere a uma espécie de monoidéia de que ele é um iluminado enquanto Lula, Dilma, todo e qualquer petista, simpatizante, militante de outra ideologia que não a sua (?) e qualquer um que não odeie como ele próprio, estejam no lado negro da força.

A doença é adquirida na soma de preconceitos antigos que dormitavam na alma da vítima com novos-velhos conceitos eivados de interesses escusos de instituições nacionais e internacionais.

Segundo consta a mídia é grande veículo de disseminação do vírus do ódio que, geralmente, são, antes, incubados em corredores escuros de quem perdeu o poder mas sonha em reconquistá-lo de outra maneira já que nas urnas foi derrotado sistematicamente nos últimos 13 anos.

A vacina para esse terrível mal que se multiplica pelo país é a vacina-tríplice: educação formal, educação política e educação cristã. Mas, parece que o remédio anda escasso em nossas fronteiras.

Existem, porém, formas paralelas de combater a epidemia.

A empatia, ou seja, o exercício de colocar-se no lugar do outro (no caso, no lugar dos mais pobres) tem revelado excelentes resultados.

Vergonha na cara também tem bons resultados assim como doses maciças, mas maciças mesmo de humildade.

Infelizmente as perspectivas não são boas.

A peste não é inédita, mas continua se propagando pelo Brasil e, a história já mostrou em duas outras oportunidades, 1954 e 1964, que o final desse praga nacional é sempre doloroso, especialmente para os que amam a democracia e sonham com a construção de uma sociedade mais justa.

Esperemos que, o governo perceba a gravidade da situação. Deixe de tratar fascista com democracia, deixe de recomendar curativos em vez de amputação e lembre de sua obrigação na defesa constitucional do estado de direito e da democracia.

Quem o elegeu e nele confiou, precisa ser defendido.

Antes que seja tarde e a história se repita, pois, o vírus do ódio é fatal à liberdade.


Prof. Péricles


segunda-feira, 6 de julho de 2015

TÂNIS, A CIDADE ESQUECIDA




Tânis foi uma antiga cidade do Egito, capital da 21ª Dinastia.

No antigo Testamento ela é chamada de Zoã, e Moisés lá teria feito alguns milagres.

Situava-se no delta do rio Nilo e no século VI d.C. desapareceu quando o rio mudou seu curso e o lago Manzala cobriu seus restos.

Por quase mil e 500 anos ficou desaparecida. Sabia-se de sua existência, mas a localização exata era desconhecida.

No filme “Os Caçadores da Arca Perdida” foi incorretamente descrita como tendo sido destruída por uma tempestade de areia e descoberta pelos nazistas.

Na verdade, no início do século passado ela foi, aos poucos, sendo redescoberta.

Em 1939, porém, ela entrou de forma dramática nos noticiários da arqueologia.

Um arqueólogo francês (e não pelos nazistas), Pierre Montet, encontrou uma parte da necrópole real das XXI e XXII dinastias, cujos túmulos não haviam sido reconhecidos pelos escavadores anteriores.

Do conjunto da necrópole real destacam-se túmulos onde repousam as múmias de 4 faraós (inclusive o faraó Chechonk III que governou o Egito por 52 anos) dois herdeiros e um arqueiro. Junto às múmias máscaras e joias de prata e de ouro, além de outras peças de valor extraordinário como jarros, ataúdes, espelhos.

Infelizmente o desenrolar da segunda guerra mundial (1939-1945) impediu qualquer expedição ou outra tentativa de chegar a região com liberdade para escavar e pesquisar.

Alguns dos tesouros descobertos por Montet estão hoje no Museu Egípcio do Cairo e fascinam seus visitantes.

Os próximos passos em direção a redescoberta de Tânis guardam enorme expectativa. Isso porque imagens de satélite em infravermelho revelam o que parece ser edificações, prédios, casas, ruas e templos, soterrados e a espera de ressurgirem ao sol.

Que tesouros serão encontrados em Tânis? E que segredos ela ainda pode estar escondendo?

Você se arriscaria a procurar?

Ah... leve junto algum arqueólogo experiente, pois suas ruinas ainda guardam ativas, inúmeras armadilhas para vitimar os desavisados aventureiros de ontem e de hoje.


Prof. Péricles

domingo, 5 de julho de 2015

A METAMORFOSE





Por Luis Fernando Veríssimo



Uma barata acordou um dia e viu que tinha se transformado num ser humano. Começou a mexer suas patas e viu que só tinha quatro, que eram grandes e pesadas e de articulação difícil. Não tinha mais antenas.

Quis emitir um som de surpresa e sem querer deu um grunhido. As outras baratas fugiram aterrorizadas para trás do móvel. Ela quis segui-las, mas não coube atrás do móvel. O seu segundo pensamento foi: "Que horror... Preciso acabar com essas baratas..."

Pensar, para a ex-barata, era uma novidade. Antigamente ela seguia seu instinto. Agora precisava raciocinar. Fez uma espécie de manto com a cortina da sala para cobrir sua nudez.

Saiu pela casa e encontrou um armário num quarto, e nele, roupa de baixo e um vestido. Olhou-se no espelho e achou-se bonita. Para uma ex-barata. Maquiou-se.

Todas as baratas são iguais, mas as mulheres precisam realçar sua personalidade. Adotou um nome: Vandirene.

Mais tarde descobriu que só um nome não bastava. A que classe pertencia? Tinha educação? Referências?

Conseguiu a muito custo um emprego como faxineira. Sua experiência de barata lhe dava acesso a sujeiras mal suspeitadas. Era uma boa faxineira.

Difícil era ser gente... Precisava comprar comida e o dinheiro não chegava.

As baratas se acasalam num roçar de antenas, mas os seres humanos não. Conhecem-se, namoram, brigam, fazem as pazes, resolvem se casar, hesitam. Será que o dinheiro vai dar ? Conseguir casa, móveis, eletrodomésticos, roupa de cama, mesa e banho.

Vandirene casou-se, teve filhos. Lutou muito, coitada.

Filas no Instituto Nacional de Previdência Social. Pouco leite. O marido desempregado... Finalmente acertou na loteria. Quase quatro milhões!

Entre as baratas ter ou não ter quatro milhões não faz diferença. Mas Vandirene mudou. Empregou o dinheiro. Mudou de bairro. Comprou casa. Passou a vestir bem, a comer bem, a cuidar onde põe o pronome. Subiu de classe. Contratou babás e entrou na Pontifícia Universidade Católica.

Vandirene acordou um dia e viu que tinha se transformado em barata. Seu penúltimo pensamento humano foi: "Meu Deus! A casa foi dedetizada há dois dias!".

Seu último pensamento humano foi para seu dinheiro rendendo na financeira e que o safado do marido, seu herdeiro legal, o usaria. Depois desceu pelo pé da cama e correu para trás de um móvel.

Não pensava mais em nada. Era puro instinto. Morreu cinco minutos depois, mas foram os cinco minutos mais felizes de sua vida.

Kafka não significa nada para as baratas...




quarta-feira, 1 de julho de 2015

PAÍS DA INCLUSÃO SOCIAL



Por Paulo Nogueira direto do Diário do Centro do Mundo



Foi com satisfação especial que vimos Marieta Severo viralizar no DCM.

O texto sobre a enquadrada que ela deu sobre Fausto Silva, de autoria de Kiko Nogueira, já foi lido por mais de 1 milhão de pessoas, no momento em que escrevo.

No Facebook, o artigo recebeu, até aqui, 106 000 curtidas, uma raridade para qualquer site em qualquer país.

Por conta disso, o DCM teve, ontem, uma de suas maiores audiências: 1,6 milhão de acessos.

O texto, fora sua carreira no DCM, foi reproduzido em vários outros sites. Tem sido uma constante: a repercussão de nossos artigos para além dos nossos domínios.

“Kiko mitou”, brincamos aqui.

O que nos agradou, mais que tudo, foi o conteúdo que mereceu tantos aplausos: Marieta, ao responder a Fausto Silva, desfez o discurso manipulador, cínico e desonesto da Globo e das demais grandes empresas de mídia.

O Brasil não é o paraíso que a Globo pintava na ditadura militar, mas definitivamente está longe de ser o inferno descrito pela mídia.

Com todos os percalços dos últimos anos, o país melhorou substancialmente em sua grande chaga: a desigualdade social.

A mídia, com seus interesses sinistros, esconde de seus leitores que o maior problema nacional é a desigualdade. Isso porque seus donos, riquíssimos, se beneficiam da desigualdade.

Em vez de erguer a voz contra a iniquidade, a mídia fala obsessivamente em corrupção – porque este truque funcionou em 1954, com Getúlio, e em 1964, com Jango.

Escândalos, a maior parte deles amplificados ou simplesmente inventados, ocupam a maior parte do noticiário. O alvo é sempre o PT, como antes foram Getúlio e Jango.

O paradoxo, aí, é que a mídia é visceralmente corrupta: vive descaradamente do dinheiro público. Fez do Estado sua babá.

Não contentes com os bilhões em publicidade, financiamentos em bancos públicos a juros maternos e outras mamatas, as empresas de jornalismo ainda sonegam impostos – certas da impunidade.

Faustão veio, diante de Marieta, com o clichê obtuso do “país da desesperança”, algo que tem um apelo extraordinário para analfabetos políticos que batem panelas e vestem camisas da seleção em manifestações estimuladas pela mídia.

E Marieta rebateu com a inclusão social, que a mídia finge não ter importância nenhuma como se fôssemos a Suécia ou a Dinamarca.

Marieta viralizou porque ela falou por muitos brasileiros que já não suportam mais tanta empulhação.

Foi a mesma coisa que ocorreu quando Boechat mandou Malafaia procurar uma rola. Quantos de nós não gostaríamos de dizer uma coisa dessas para Malafaia?

Marieta trouxe a inclusão social para a conversa – e este foi seu maior mérito.

O Brasil avançou no campo social – mas muito menos do que deveria.

Lula e Dilma fizeram mais que seus antecessores desde Getúlio, mas muito menos do que o necessário para que o Brasil deixe de ser sinônimo de desigualdade.

“Brasil da desesperança”, para usar a expressão de Fausto Silva, é aquele que a plutocracia predadora construiu.

O resto, como escreveu Shakespeare, é silêncio.